Aumenta o risco de tsunamis no Alasca

Cientístas alertam para o aumento do risco de tsunami causado por deslizamentos no Alasca. A retração dos glaciais, forçada pelo aquecimento global, está deixando as encostas das montanhas mais susceptíveis e um desmoronamento poderia gerar uma onda gigante.

Barry Arm, Alasca
Glacial Barry Arm, na enseada Príncipe William, Alasca. Créditos: New York Times/John Schwieder/Alamy

Há tempos o derretimento acelerado do Ártico vem sendo notícia. Diversos estudos tem mostrado o impacto do aquecimento global nos glaciais, plataformas de gelo e em toda dinâmica da criosfera, que afeta diretamente atividades de navegação, pesca, exploração de recursos geológicos e a segurança das populações locais. Para piorar a situação, as mudanças climáticas estão aumentando o risco de deslizamentos* no Alasca, que podem causar um tsunami catastrófico.

O glacial que ajuda no suporte de um dos flancos do fiorde Barry Arm, na enseada Príncipe William, está se retraindo devido ao aumento da temperatura. Apesar desse processo estar ocorrendo por décadas, um colapso de toda estrutura pode ocorrer de forma muito rápida, e os riscos só aumentam conforme o glacial continua a se retrair. Atualmente, apenas 1/3 da encosta é sustentada pelo glacial, tornando-a muito susceptível.

... as encostas das montanhas estão tão expostas que apenas a gravidade, aliada a chuvas intensas, ou a ondas de calor que derretam a neve superficial, podem resultar em deslizamentos.

Um colapso completo do flanco do fiorde representa o escoamento de 500 milhões de metros cúbicos na enseada de forma repentina. Segundo simulações numéricas, esse volume deslocaria água suficiente para causar um tsunami com pelo menos 30 metros de altura inicias. Após 20 minutos, a onda gigante chegaria em Whittier, uma cidade a 48 km da enseada, com quase 10 metros, causando grande destruição.

A encosta do fiorde Barry Arm está mais susceptível a deslizamentos com o aquecimento global. Créditos: Education Images/Universal Images Group/Getty Images

Diante desse cenário, o Departamento de Recursos Naturais do Alasca emitiu uma declaração na última quinta-feira (20) alertando para o risco de deslizamento que poderia causar uma onda gigante com consequências devastadoras para atividade pesqueira e de lazer. Pesquisadores de diversas universidades e instituições estadunidenses estão estudando algumas áreas críticas no Ártico Norte-Americano, em um projeto financiado pela Agência Espacial dos EUA (NASA).

Barry Arm é um importante ponto turistico e econômico, que concentra embarcações de lazer, pesca e caça quando há boas condições do tempo. Hig Higman, um dos pesquisadores envolvidos, foi alertado pela irmã, que estava em um passeio turístico quando observou fraturas e pequenos deslizamentos no flanco da montanha. Através de imagens de satélite, Higman conseguiu ver cicatrizes na montanha que são sinais da descida gradual de um volume considerável de massa.

Risco de terremotos vs. deslizamentos

O alerta é intensificado porque o Alasca esta em uma área propensa a abalos sísmicos, causados por choque entre placas tectônicas. O segundo maior abalo sísmico registrado no mundo foi nessa região em 1964, conhecido como "O Grande Terremoto do Alasca" que marcou 9,2 pontos na escala. Mas as encostas das montanhas estão tão expostas que apenas a gravidade, aliada a chuvas intensas, ou a ondas de calor que derretam a neve superficial, podem resultar em deslizamentos. Nesses casos, a água age como um lubrificante que facilita a ação da gravidade.

Ainda assim, tsunami induzido por deslizamentos são raros. O mais famoso ocorreu em 1958, na Baía Lituya (Alasca), quando um terremoto causou o deslizamento de 40 milhões de metros cúbicos de rocha. Registros na vegetação local mostram que a onda gerada tinha altura inicial de 520 m - a maior já documentada - e 22 m ao sair da baía. Também houve o tsunami causado pelo deslizamento no fiorde Taan (Alasca) em 2015, que gerou uma onda inicial com 180 m, e na costa oeste da Groenlândia em 2017, com altura inicial de 90 m que causou a morte de 4 pessoas.

* O estudo que ainda aguarda revisão de pares, conduzido pela Drª Anna Liljedahl, pesquisadora associada ao Centro de Pesquisa Woods Hole em Massachusetts (EUA).