Amazônia mostra sinais de recuperação após seca histórica de 2023. Mas o que esperar do clima para os próximos meses?

Após registrar níveis mínimos recordes devido à falta de chuva na região Norte do Brasil no ano passado, os principais rios da Amazônia finalmente estão em processo de cheias com o retorno das chuvas, deixando a seca no passado.

Seca Amazônia
Após viver uma das piores secas da história em 2023, a Amazônia começa a apresentar sinais de recuperação e alívio! Imagem: Agência Brasil.

No ano de 2023, a região amazônica sofreu com a pior seca já registrada! Diversos rios da região registraram cotas mínimas recordes, alguns desapareceram ou viraram estreitos cursos d’água, deixando muitas aldeias e comunidades inacessíveis e isoladas, causando um enorme prejuízo a essa população que depende dos rios para quase todas suas atividades diárias.

Além do prejuízo à população, a seca também gerou um grande impacto ambiental, matando milhares de animais, incluindo os famosos botos cor de rosa que são típicos do bioma amazônico. Mas não foram só os animais, a floresta também foi prejudicada, com a perda de diversas plantas e árvores que morreram diante da seca, além das queimadas que foram impulsionadas por esse cenário climático.

Imagens de satélite dos meses de setembro de 2022 e 2023 mostram a dimensão da seca no rio Amazonas no ano passado. Fonte: MapBiomas.

Um estudo feito pelo Centro Científico da União Européia mostrou que todos os países da bacia amazônica registraram, no período de julho a setembro de 2023, os menores acumulados de chuva em mais de 40 anos! Além da falta de chuvas, a região também sofreu uma série de ondas de calor que colocou as temperaturas em valores próximos de 40°C, principalmente no período de agosto a novembro de 2023.

No Brasil, o estado do Amazonas foi o mais afetado pela seca, em novembro de 2023 todos os 62 municípios amazonenses entraram em estado de emergência devido aos prejuízos causados pela seca, afetando cerca de 600 mil pessoas. Na capital Manaus, o Rio Negro registrou seu menor nível em 121 anos, de 12.7 metros, superando todos os recordes de secas passadas.

A estação chuvosa, que deveria ter começado em outubro do ano passado, atrasou muito na região, agravando a situação da seca durante o período de primavera austral. Esse déficit de chuvas e atraso da estação chuvosa foram frutos de uma combinação de dois padrões climáticos que desfavorecem a precipitação na região Norte do Brasil: o El Niño forte e o Atlântico Norte mais quente que o normal.

Amazônia em processo de recuperação da seca

Apesar do atraso, as chuvas retornaram à região amazônica de forma mais volumosa em dezembro, com isso os rios começaram o seu processo de enchente e seus níveis foram gradualmente se elevando. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), já no final de dezembro algumas estações hidrológicas já registravam níveis próximos da faixa de normalidade para o período.

Em grande parte dos rios da Amazônia o processo de cheias já começou e a expectativa é de que as águas continuem subindo ao longo dos próximos meses.

Os últimos boletins do SGB de janeiro desse ano indicam que a maioria das estações monitoradas na bacia do Amazonas continuam em processo de enchente, com muitos rios apresentando elevações diárias da ordem de 10 cm, como é o caso do Rio Solimões e também do Rio Negro, em Manaus. Este último já registra um nível de 20,32m em 15/01/2024.

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Durante a 8ª Reunião da Sala de Crise da Região Norte, promovida pela Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico (ANA), pesquisadores da SGB informaram que esse ritmo de elevação dos rios configura o início da cheia de 2024 e nas próximas semanas, com a continuidade das chuvas da região, podemos esperar uma consolidação do processo de enchente na região amazônica.

Porém, os especialistas também alertaram nesta reunião que algumas regiões ainda precisam de atenção pois ainda registram uma situação crítica devido aos baixos níveis dos rios, como é o caso do rio Madeira, em Rondônia, e principalmente o rio Branco, em Roraima, que continua em processo de vazante. Já o rio Acre, na cidade de Rio Branco, registrou uma acentuada elevação de seu nível, chegando a um nível de 11.3 metros, próximo da cota de atenção de 12.5 metros.

Como ficará o cenário climático nos próximos meses?

O El Niño, um dos principais causadores dessa seca extrema na Amazônia, já passou pelo seu pico de intensidade máxima e agora seguirá um gradual processo de enfraquecimento até retornar a sua fase neutra por volta do mês de abril deste ano. Mesmo com sua continuidade nas próximas semanas e meses, seus impactos sobre a região amazônica não serão tão intensos quanto foram no ano passado.

Com o enfraquecimento do El Niño e das diferenças de temperatura sobre o Atlântico Tropical, as previsões indicam que os próximos meses serão de chuvas dentro da normalidade ou até mesmo acima da média no Norte do Brasil.

Em relação ao Atlântico, as águas continuarão mais aquecidas que o normal nos próximos meses sobre o Atlântico Norte, porém, as águas também estarão mais aquecidas sobre partes do Atlântico Sul, principalmente na faixa tropical. Isso reduzirá a diferença de temperatura entre o Atlântico Tropical Norte e Sul, o que reduzirá o impacto de inibição de chuvas no Norte do Brasil, e inclusive favorecerá as chuvas geradas pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) sobre o Norte do Brasil.

Previsão climática sazonal do modelo ECMWF de probabilidade de anomalia de chuvas para o trimestre de fevereiro, março e abril de 2024. Fonte: ECMWF.

Dessa forma, modelos como o ECMWF projetam acumulados de precipitação próximos a média climatológica ou até mesmo acima da média em partes do Norte do Brasil, o que indica que as chuvas continuarão ocorrendo na região e, com isso, o processo de cheias dos rios continuará ocorrendo, deixando no passado o cenário de seca severa de 2023.