Amazonas: botos estão morrendo devido à seca na região, uma das piores da sua história

A Amazônia está enfrentando uma das piores secas da sua história. Várias pessoas estão sendo afetadas, e agora até os animais. Vários botos-cor-de-rosa, um animal emblemático da região, foram encontrados mortos em um lago.

boto morto
Mais de 100 botos cor-de-rosa e tucuxis foram encontrados mortos no Lago Tefé, no Amazonas, desde o dia 23 de setembro, possivelmente por algum fator associado à seca severa na região. Crédito: Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá.

Recentemente noticiamos aqui que o Amazonas, no Norte do Brasil, está enfrentando uma das piores secas da sua história, com milhares de pessoas sendo afetadas. Os rios estão secos, muitos até com seus leitos expostos, prejudicando o abastecimento de água e a locomoção da população.

O Lago Tefé está localizado no município amazonense de mesmo nome que fica a cerca de 500 quilômetros da capital Manaus. A água do Lago está em níveis tão baixos que é possível andar pelo seu leito.

E não para por aí… os animais também estão sendo afetados. Na última semana de setembro, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá registrou a morte de mais de 100 botos cor-de-rosa no Lago Tefé, um dos animais mais emblemáticos da Amazônia. Entre os animais, haviam também os tucuxis, que são uma outra espécie de golfinho de água doce.

Qual a possível causa das mortes?

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), esta é a segunda maior seca na região desde 2010. A coordenadora do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Mamirauá, Miriam Marmontel, disse à Rádio Nacional da Amazônia que a situação é muito crítica e inusitada. “Nunca tínhamos visto algo semelhante, embora já tenhamos passado por várias secas grandes aqui grandes na Amazônia”, afirmou ela.

Por enquanto, são necessárias mais investigações para saber, de fato, o que exatamente causou as mortes dos botos; no entanto, a seca é a principal causa suspeita. Com a estiagem, há o aumento de morte de peixes, o que acaba com o alimento dos botos.

Além disso, a temperatura do Lago Tefé está cerca de 8ºC acima do normal. Até então, a temperatura máxima registrada era de 32ºC e, de acordo com os pesquisadores do Mamirauá, as medições recentes registraram valores entre 39ºC e 40ºC. Isso pode causar hipertermia nos botos, mas também há a suspeita de que agentes infecciosos estão se proliferando no local.

boto tucuxi morto
Boto tucuxi encontrado morto na beira do Lago Tefé, no Amazonas. Crédito: Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá.

A necropsia realizada nos animais não constatou nada fora do comum que indique a causa da morte. Os animais estavam aparentemente saudáveis, sem marcas de redes de pesca, sem lesões e com peso adequado. Então, a melhor hipótese até agora é de que o aquecimento da água tenha provocado a proliferação de algum patógeno, adoecendo os animais. E é provável que haja algum dano neurológico, pois os botos e tucuxis que foram encontrados ainda com vida estão mostrando um comportamento errático e aparentam estar confusos.

“No meu entendimento, acho que é algo exacerbado pela temperatura. Pode ter sido algum organismo ou alguma toxina presente na água que anteriormente não causava nada nos animais mas que pela concentração física e pelo aumento da temperatura acabou sendo potencializado e está causando esses problemas”, explicou Marmontel.

A estiagem na Amazônia

A seca “fora do normal” e o aumento da temperatura das águas são causadas pela combinação de dois fenômenos: o El Niño e o aquecimento do oceano Atlântico Tropical Norte, que inibem a formação de nuvens e, consequentemente, de chuvas.

Lago Tefé seco
Lago Tefé com baixo nível de água, em setembro de 2023. Crédito: Reprodução.

A região mais afetada é o sudoeste do Amazonas, onde está localizada a bacia do Rio Madeira. Os dois pontos mais atingidos são o Lago Tefé e o Rio Juruá. Mas a situação é mais crítica no Juruá, por ser o rio mais sinuoso do mundo. Ele nasce no Peru e banha os Estados do Acre e do Amazonas. "Ele tem um histórico de problemas de navegação. Então tem muitas cidades que estão em estado de emergência por causa dele", explica Virgílio Viana, superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

E a estiagem na região deve se prolongar pelos próximos meses, atrasando o início da estação chuvosa na Amazônia, que começaria agora em outubro.