O que esperar da distribuição da precipitação em Dezembro de 2020?

Em Dezembro as chuvas comumente ocorrem em praticamente todo o Brasil, com maior taxa de precipitação no Centro-Leste e Norte do país. Com fenômeno La Niña, será que esse padrão irá ocorrer? Haverá estiagem no Sul? Confira a analise climática aqui.

clima Dezembro, La Niña
Clima de Dezembro sob influência de vários fatores climáticos, entre eles o La Niña. Saiba com será a distribuição das chuvas pelas regiões do Brasil.

No mês de Dezembro se espera que a estação chuvosa já esteja estabelecida, com maior registro de chuva em relação aos meses de Outubro e Novembro, principalmente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte, e na porção oeste do Nordeste e nos estados do Paraná e de Santa Catarina.

Em relação às temperaturas, as máximas não ficam tão elevadas quanto no início da primavera, devido à maior taxa de precipitação. Já as mínima, oscilam em uma faixa um pouco mais elevada, uma vez que as massas de ar frio passam a atuar menor frequência, quase que raramente.

Fatores climáticos: Modo Anular Sul (SAM), Oscilação de Madden-Julian (MJO), La Niña e Temperatura da Superfície do Atlântico (SSTA)

Antes de partir para o resultado dos modelos climáticos é preciso fazer uma análise de cada fator climático, afim de se fazer o devido julgamento do possível cenário apresentado no item seguinte pelo modelo ECMWF.

Além do fenômeno La Niña, há outros fatores climáticos que influenciam o Brasil no curto e médio prazo, podendo proporcionar um cenário de distribuição de chuvas diferente ao do que é esperado quando há o resfriamento mais intenso da região do Pacífico Equatorial.

O fenômeno La Niña continua com intensidade entre fraca e moderada intensidade ao longo do mês. No entanto, é preciso entender que esse fator exerce influência durante uma escala de tempo sazonal, proporcionando um padrão médio de distribuição característico para do fenômeno em torno de 3 meses ou mais. Nesse tempo, há outro fatores moduladores que podem trazer condições opostas ao que se espera sob um cenário de La Niña. Isso acontece pelo simples fato de que esses outros fatores possuírem mais relevância, ou peso, em escalas de tempo menores, como é o caso do SAM (ou Oscilação Antártica) que é influente em um período de 7 a 15 dias e da MJO, em torno de 30 dias. Em vista disso, não se deve ignorar esses fatores ou estabelecer toda a resposta atmosférico à condição do Pacífico Equatorial.

O comportamento do SAM nos mostra uma tendência negativa, representando a intensificação da corrente de Jato Subtropical que, por sua vez, proporciona o aumento da frequência de sistemas precipitantes e de massas de ar frio no Centro-Sul do país, que para esta época do ano, também contribui para o aumento da probabilidade de chuvas em áreas do Brasil Central e, até mesmo, em partes das regiões Norte e Nordeste.

Analogamente, a tendência positiva proporciona um recuo da umidade, condicionando um período mais seco e quente, semelhante ao que ocorreu na última semana de Novembro. Vale ressaltar que para este período, esse recuo ainda pode contribuir para chuvas na Região Sul, dependendo da sua intensidade.

Assim, espera-se um aumento das chuvas e redução das temperaturas ao longo desta primeira semana de Dezembro, condição esta, que se estende para a próxima semana. Um período mais seco e quente para o Sudeste e Centro-Norte do país ocorre na terceira semana e um possível retorno das chuvas para essas áreas na semana de fechamento.

Em relação a MJO, o fator se mantém em neutralidade, com probabilidade de passar a atuar em fases de subsidência, 5 e 6, (desfavoráveis às chuvas) no Centro-Norte na última semana do mês, que somada à uma influência do SAM, passa a ideia de chuvas irregulares no Nordeste e Tocantins e mais abrangentes na metade sul do Sudeste, Centro-Oeste e metade norte da Região Sul.

Ao analisarmos a SSTA, é possível notar que o centro-sul do Atlântico Sul está mais aquecido, fornecendo mais energia aos sistemas precipitantes. Logo, para um período com maior frequência da atuação desses sistemas, há maior probabilidade da ocorrência de chuvas abrangentes e duradouras, ainda mais se não há nenhum fator que favoreça a subsidência.

A projeção do modelo ECMWF

Desde o início de Outubro, vários mapas de variáveis meteorológicas para períodos diferentes do modelo ECMWF passaram a ser disponibilizados gratuitamente. Um desses produtos foi utilizado para está análise. Os mapas abaixo mostram anomalias de precipitação a cada 7 dias, representando as 4 semanas de Dezembro.

O cenário apresentado pelo modelo ECMWF está bastante condizente ao que foi estabelecido no item anterior através da análise dos fatores climáticos. Nesta primeira semana, as chuvas ocorrem de forma mais volumosa e intensa entre as regiões Sul e Sudeste, mas com um padrão mais isolado no Brasil Central. A condição de chuvas mais abrangentes migra mais para o Sudeste e Centro-Oeste na segunda semana, levando potencial de elevada taxa de precipitação também para o sul e oeste do Nordeste e estado do Pará e Tocantins, mantendo uma taxa de precipitação significativa para o estado do Paraná e de Santa Catarina.

Na terceira semana, um padrão mais seco volta a atuar no Centro-Norte, com chuvas mais volumosas concentradas no Centro-Sul. Para a última semana do mês, as anomalias perdem intensidade, trazendo uma perspectiva de chuvas distribuídas pelas cinco regiões do país.