Secas severas podem começar nos oceanos

Estudo aponta que massas de ar de baixa umidade se formam no oceano e migram milhares de quilômetros, semelhante a maneira com que os furacões se comportam, porém em um ritmo mais lento. Podendo atingir áreas continentais e causar impactos negativos.

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Semelhante aos furacões, massas de ar seco podem atingir a terra, mas seu ritmo lento pode melhorar as previsões de seca.

As secas podem ser geradas pelos mais diversos fenômenos climatológicos, causada pela falta de chuva. Vastas extensões de solo duro, rachado e com plantas ressecadas, são imagens comuns que vem à mente quando o assunto é sobre seca. Porém, novas pesquisas sugerem que períodos desastrosos de seca podem se desenvolver no lugar mais úmido de todos: o oceano.

Sem uma frequência definida, massas de ar seco se formam e migram milhares de quilômetros sobre o mar, de maneira semelhante ao comportamento dos furacões. Essas regiões de ar seco, porém, mudam de forma a medida que se desenvolvem e se movem muito mais lentamente, quando comparado à um furacão, podendo levar meses antes de atingir o continente.

No entanto, o longo tempo de viagem dessa seca, recém reconhecida, pode ajudar os meteorologistas na previsão de quando o fenômeno irá atingir regiões importantes, pois seu impacto pode ameaçar a segurança alimentar e também a da água.

Os responsáveis por essa descoberta, Julio Herrera Estrada e seu orientador de pós-doutorado na Universidade de Stanford, Noah Diffenbaugh, dizem que pensar nas secas como um perigo dinâmico é uma ideia nova. “Não é uma coisa óbvia para envolver sua cabeça. É um pouco contra-intuitivo pensar em secas no oceano, porque ele está úmido ”, diz Herrera Estrada.

Os pesquisadores analisaram dados meteorológicos históricos, entre 1981 e 2018, de áreas terrestres e marítimas em todo o mundo com umidade atmosférica relativamente baixa. Monitorando as formas e como as massas de ar seco se moviam no espaço e no tempo.

Secas terrestres

Herrera Estrada e Diffenbaugh descobriram que a maioria das massas de ar seco começou e terminou inteiramente no oceano ou na terra. Mas uma em cada seis das secas que afligem os continentes acabou por começar no oceano e apelidaram esse fenômeno como “secas terrestres”.

Pensar nas secas como um perigo dinâmico é uma ideia nova, diz o engenheiro ambiental Julio Herrera Estrada.

As secas terrestres são particularmente extremas, em comparação com as convencionais. Em média podem ser um terço mais intensas e crescer quatro vezes mais rápido. Os pesquisadores não investigaram o por que da gravidade mas acreditam que possa ser devido a diferentes padrões atmosféricos.

Os pontos críticos para secas terrestres incluem o oeste da América do Norte, o leste da América do Sul, o sudoeste da África e o leste da Ásia. Os pesquisadores ainda não sabem ao certo o por que e dizem que os fatores que formam e influenciam o fenômeno podem variar em diferentes partes do mundo.

Chris Funk, diretor do Centro de Riscos Climáticos da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e responsável por desenvolver sistemas de alerta antecipado de seca para os países africanos, acha o trabalho empolgante.

Funk acredita que as secas terrestres são potencialmente previsíveis como resultado de seu prazo de execução relativamente longo. Acrescentou que planeja incluir o monitoramento das secas terrestres em seus sistemas de alerta precoce, por ser possível rastrear a centenas ou mesmo milhares de quilômetros da costa africana.

A seca convencional afetou mais a população mundial do que tsunamis, terremotos ou qualquer outro perigo natural nos últimos 40 anos, matando e deslocando pessoas aos milhões, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

Quando a seca se forma no oceano a gravidade se potencializa, o que torna o estudo fundamental para novas pesquisas e reforça a previsão e preparação nos pontos críticos. Ainda mais em cenários de mudanças climáticas, que está tornando as secas ainda mais severas.