Alerta de seca: modelo de confiança da Meteored piora o cenário de chuvas para o Brasil em março

As previsões para o mês de março mudaram e passaram a indicar uma piora nos cenários de chuva, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, devido a uma combinação de fatores climáticos e a formação de um bloqueio atmosférico.

Previsão chuva março
As projeções de chuvas para março indicam uma diminuição nos acumulados até o final do mês.

O mês de março é o último mês da estação chuvosa de grande parte do Brasil, principalmente para as regiões Sudeste e Centro-Oeste. Portanto, esse é o último mês em que esperamos as chuvas abundantes tão essenciais para o reabastecimento dos reservatórios hídricos, tanto para consumo quanto para a geração de energia, e também para o plantio de novas safras.

Entretanto, as projeções de chuvas de março não têm sido tão otimistas, principalmente diante de uma estação chuvosa que tem sido muito aquém do esperado. As últimas previsões que mencionamos em artigos anteriores indicavam que março seria uma mês com chuvas próximas à média climatológica ou ligeiramente abaixo da média em grande parte do Brasil, com exceção da região Nordeste, o que não seria o suficiente para suprir o déficit de chuvas registrado nos meses anteriores.

Previsões antigas já sinalizavam que março não seria um mês de chuvas abundantes sobre o Sudeste e o Centro-Oeste do Brasil. Porém, nas previsões mais recentes esse cenário foi ainda mais agravado e, provavelmente, o mês fechará com um déficit significativo de chuvas nessas regiões.

Nas atualizações mais recentes dos modelos de previsão, o cenário ficou ainda pior, diminuindo ainda mais o acumulado de chuvas principalmente sobre o Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Vamos entender mais sobre as possíveis causas dessas atualizações e a perspectiva do cenário de chuvas sobre o Brasil para o restante do mês de março.

Quais padrões climáticos serão destaque em março?

Como já mencionamos em textos anteriores, o Pacífico Tropical já não tem sido um grande modulador do cenário climático brasileiro nas últimas semanas, pois o El Niño - fase positiva do padrão El Niño Oscilação Sul (ENOS) - está perdendo força e caminhando para sua neutralidade. O Atlântico continua sendo o principal responsável pela variabilidade das chuvas principalmente sobre o Norte e Nordeste, já que suas águas mais quentes que o normal tem favorecido a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) sobre essas regiões.

Análise (linha preta) e previsão (linhas vermelhas) da Oscilação Antártica pelos membros do conjunto GEFS. Fonte: CPC/NOAA.

Porém, a partir de agora os modelos parecem prever a influência de outros padrões atmosféricos: a Oscilação Antártica (AAO, na sigla em inglês) e a Oscilação de Madden Julian (MJO, na sigla em inglês). As previsões estão indicando uma transição para a fase negativa da AAO nos próximos dias, após um longo período de fase positiva, inclusive grande parte dos modelos membros do GEFS indicam uma fase negativa intensa da AAO por volta do dia 15 de março.

Durante a fase negativa da AAO geralmente temos uma maior passagem e formação de sistemas transientes (ciclones e frentes frias) sobre o sudeste da América do Sul, principalmente sobre partes da Argentina, Uruguai e a região Sul do Brasil. Dessa forma, a precipitação é favorecida nessa região, enquanto que mais a norte - como sobre o Centro-Oeste e Sudeste do Brasil - geralmente registramos um déficit de chuvas.

Impactos da Oscilação de Madden-Julian (MJO) na anomalia de precipitação em cada uma de suas fases (à esquerda), e diagrama das condições registradas e previsão da MJO para os próximos 15 dias (à direita). Fonte: CPC/NOAA.

Em relação a MJO, os modelos indicam um pulso intenso dessa oscilação em suas fases 4 e 5, fases em que a MJO desfavorece significantemente as chuvas sobre grande parte do Brasil central, favorecendo as chuvas apenas no extremo sul do país e oeste da Amazônia. Portanto, os modelos passaram a prever a influência da transição de fases da MJO e AAO que juntas desfavorecem as chuvas sobre as regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil , principalmente.

O que indicam as previsões mais recentes?

Além das atuações da AAO e MJO desfavorecendo as chuvas, não podemos deixar de mencionar o padrão de bloqueio atmosférico que se estabelecerá na próxima semana sobre o Brasil central que, além de aumentar substancialmente as temperaturas, irá desfavorecer ainda mais a formação e desenvolvimento da precipitação.

Dessa forma, o modelo ECMWF, assim como outros modelos muito utilizados como o norte-americano GFS, passou a indicar uma significativa redução das chuvas previstas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil no restante do mês de março. Diferente do que indicavam rodadas passadas do modelo antes do início do mês.

Previsão de anomalia de chuva para as semanas do dia 11 a 18 de março, 18 a 25 de março, 25 de março a 01 de abril e 01 a 08 de abril. Fonte: ECMWF.

A redução das chuvas será mais significativa principalmente na semana dos dias 11 a 18 de março, período de atuação do bloqueio atmosférico. Na semana seguinte, dos dias 18 a 25 de março, o modelo indica acumulados mais próximos à normal climatológica sobre grande parte do Centro-Oeste e abaixo da média no norte da região Sudeste.

Na última semana de março e primeira semana de abril, o padrão de chuvas melhora um pouco e grande parte das regiões Centro-Oeste e Sudeste registrarão acumulados de chuva dentro do normal, com exceção de partes do norte do Sudeste, principalmente sobre o estado de Minas Gerais.

Enquanto isso, as precipitações acima do normal ocorrerão sobre partes do Norte e Nordeste e sobre o Sul do Brasil, principalmente nas próximas duas semanas, devido a atuação conjunta da AAO e MJO.