Aquecimento global aumenta a ocorrência de eventos extremos?

Estudo recente mostra que o aumento das emissões de gases do efeito estufa está relacionado com a maior ocorrência de eventos extremos. Esses eventos são ligados ao comportamento do jatos de altos níveis, que está mudando impulsionado, principalmente, pelo rápido derretimento do Ártico.

A contínua subida nas taxas de emissões dos gases do efeito estufa estão alterando o comportamento dos jatos de altos níveis. Créditos: NASA

A contínua subida nas taxas de emissões dos gases do efeito estufa estão aumentando a ocorrência de interrupções e quebras nas ondas dos jatos de altos níveis. A corrente de jato possui ondas de Rossby responsáveis por grande parte dos sistemas meteorológicos que atuam em médias e altas latitudes. Interrupções ou amplificações das feições do jato de altos níveis gerariam secas e incêndios mais frequentes no verão, inundações e até maiores eventos de frio no inverno.

Os resultados foram publicados em um trabalho do final do ano passado (2018), que sugere que verões como do de 2018, quando a configuração da corrente de jato induziu eventos extremos em escala sem precedente no Hemisfério Norte, serão 50% mais frequentes no final do século. Esse aumento ocorre em um cenário futuro onde as emissões de dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa continuem a aumentar. Em um cenário mais pessimista, a ocorrência de extremos guiados pela corrente de jato poderia triplicar.

Nos últimos 15 anos, as corrente de jatos de ambos hemisférios ficaram mais altas e rápidas. O padrão de ondulação extrema, associado aos eventos meteorológicos mais intensos e catastróficos, é conhecido como amplificação quasi-ressonante. Os eventos extremos que afetaram todo hemisfério Norte durante o verão boreal de 2018 ocorreram devido à amplificação quasi-ressonante da corrente de jato. O resultado foi um ano marcado por incêndios na Califórnia, inundações no leste dos EUA e uma onda de calor de 6 meses em algumas partes da Europa. Segundo o estudo, todos esses eventos levam marcas do aquecimento global.

Adaptado de InsideClimateNews.org

O trabalho ainda explora o efeito de outros poluidores no comportamento do jato, especialmente os aerossóis - partículas microscópicas sólidas ou líquidas proveniente da industria, agricultura, atividades vulcânicas e plantas. O aerossol tem um efeito resfriador que contrabalanceia as mudanças no jato causadas pelos gases do efeito estufa.

Para Daniel Swain, cientista da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA, esse trabalho mostra mais evidências da relação entre o derretimento acelerado do Ártico e os eventos extremos em médias latitudes no verão. [entrevista em Inside Climate News]

O derretimento do gelo marinho no verão expõe o oceano, que, ao invés de refletir a radiação solar como o gelo, a absorve. Isso acaba aquecendo mais as porções de terras ao redor aumentando a temperatura média na região. Como a taxa de aquecimento na região ártica é maior que no resto do globo, o contraste de temperatura que mantém a corrente de jato diminui, o tornando mais lento. Isso faz com que torções do jato e ondulações mais amplificadas e lentas fiquem mais frequentes, aumentando os eventos extremos e alongando suas durações.