Se a La Niña persistir, como ficará a temporada de furacões deste ano?

As últimas atualizações dos modelos climáticos passaram a apontar uma continuidade da La Niña nos próximos meses. Com essa projeção, os meteorologistas possuem um bom indicativo a respeito de como será a atividade de ciclones tropicais no Hemisfério Norte neste ano!

La Niña e Furacões
Se a La Niña continuar, a atividade de tempestades tropicais e furacões sobre o Atlantico Norte poderá ser afetada.

As últimas atualizações dos modelos climáticos estão indicando uma possível continuação da La Niña neste ano! Após dois anos seguidos de La Niña, o fenômeno, que deveria estar perdendo força e entrando em sua fase neutra, surpreendeu a todos, voltando a se intensificar e mudando os cenários de previsões dos modelos.

O último relatório da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, sigla em inglês) dos Estados Unidos afirma que há 54% de chance da La Niña continuar ativa durante os meses de outono e inverno do Hemisfério Sul (primavera e verão do Hemisfério Norte). Além de persistir, alguns modelos ainda indicam que a La Niña poderá atingir uma intensidade moderada, beirando a forte!

Como já sabemos, a continuidade da La Niña implicará em variações dos padrões meteorológicos no mundo inteiro. No Brasil sabemos que a continuação da La Niña poderá implicar em uma continuidade das chuvas excessivas em partes das regiões Norte e Nordeste enquanto que a situação de estiagem poderá prevalecer novamente na Região Sul do país.

Já no Hemisfério Norte, por estarmos há apenas pouco mais de 2 meses do início da temporada de furacões, os previsores estão bem atentos a essas variações de temperatura no Pacífico Equatorial, já que o fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS), tanto em sua fase quente - El Niño - quanto em sua fase fria - La Niña - exerce grande influência no desenvolvimento desses sistemas tropicais.

Como a La Niña afeta a atividade de furacões?

Geralmente quando o ENOS está ativo em uma de suas duas fases, observamos um comportamento oposto em relação a atividade de ciclones tropicais entre o Atlântico e Pacífico Norte, fortalecendo a atividade em uma bacia enquanto enfraquece na outra. Esses impactos estão associados, principalmente, às alterações que o ENOS causa no cisalhamento vertical dos ventos sobre essas bacias. O cisalhamento vertical dos ventos, quando muito forte, pode destruir um furacão em desenvolvimento ou até mesmo impedir sua formação!

A La Niña implica em uma redução do cisalhamneto vertical dos ventos sobre o Atlantico Norte, criando um ambiente propício a formação de ciclones tropicais.

Durante as fases do ENOS, as grandes células de circulação tropicais, células de Hadley e Walker, são alteradas, o que implica em alterações em todo padrão de ventos desde a superfície até os níveis mais altos da troposfera. Durante o El Niño, a célula de Walker se enfraquece e há um deslocamento da circulação de Hadley. Isso gera um enfraquecimento dos ventos em altos níveis sobre o Pacífico central e leste, reduzindo o cisalhamento vertical do vento e favorecendo uma maior atividade de ciclones tropicais na região. No Atlântico Norte, por compensação, há uma intensificação dos ventos em altos níveis, aumentando o cisalhamento vertical e, consequentemente, suprimindo a atividade de ciclones tropicais.

Na ocorrência de La Niña, temos basicamente o padrão oposto. Quando as águas do Pacífico Equatorial estão mais frias que o normal, a intensificação da célula de Walker e mudanças na célula de Hadley deixam os ventos de altos níveis mais fortes sobre o Pacífico central e leste, aumentando o cisalhamento do vento e desfavorecendo a formação de sistemas tropicais. Enquanto que no Atlântico Norte os ventos de altos níveis se enfraquecem, diminuindo o cisalhamento vertical e criando um ambiente favorável ao desenvolvimento de tempestades tropicais e furacões.

Dessa forma, a possível continuação da La Niña durante os meses de primavera e verão do Hemisfério Norte poderá implicar em uma temporada de furacões mais ativa que o normal! Se assim for, a temporada deste ano seguirá o mesmo comportamento das temporadas passadas de 2021 e 2020, que também sob influência da La Niña, registraram uma atividade de tempestades tropicais e furacões muito acima do normal!