Qual a situação dos principais reservatórios do país?

Em pleno período chuvoso experimentamos um mês de janeiro mais seco que o normal em grande parte do Brasil. Isso faz com que seja necessária uma maior atenção ao nível dos principais reservatórios do sistema de abastecimento hídrico e energético do país.

Após um janeiro mais seco, a situação dos reservatórios do Brasil, como o sistema Cantareira, volta a preocupar. Foto: Renato César Pereira/Futura Press/Estadão Conteúdo.

O mês de janeiro foi mais quente e mais seco que o normal em grande parte do Brasil. A presença de um bloqueio atmosférico, que impediu a passagem das frentes frias e a organização das zonas de convergência (ZCOU e ZCAS), pegou de surpresa os setores de abastecimento hídrico e geração de energia, que contavam com as chuvas desse mês.

Climatologicamente, janeiro é um dos meses com maior volume de chuvas, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. As chuvas desse mês são extremamente importantes para repor o nível dos reservatórios e garantir um cenário confortável de abastecimento para o restante do ano, principalmente para o período seco entre abril e setembro. Porém, as chuvas não vieram como esperado nesse último mês.

O déficit de chuvas de janeiro já afeta moradores da região Sudeste. Cidades do interior de São Paulo, como Ribeirão Preto, tem o fornecimento de água afetado devido ao baixo nível do Rio Pardo (menos de 1 metro em certos pontos), que abastece a região. A represa de Itupararanga, responsável por grande parte do abastecimento de água de Sorocaba, Votorantim, São Roque e Piedade, está com menos da metade de sua capacidade (cerca de 43%), o que ainda não coloca a região em risco de falta de água, mas alerta para a necessidade de economia.

A evolução histórica do nível do Sistema Cantareira mostra que há anos não observamos um nível de água confortável. Fonte: Nível Água São Paulo.

Em relação ao sistema Cantareira, o sistema saiu do nível de estado de alerta no início de janeiro, após 6 meses operado com volume igual ou inferior a 40%. Atualmente seu nível é de 43%, o que o deixa em estado de atenção, já que o nível ainda está longe do normal, que seria 60%. A situação é melhor que o período pré-crise hídrica de 2014, quando o sistema estava em 21.2%, mas de qualquer forma é um nível ainda preocupante, já que o mês de janeiro e dezembro foram mais secos que o normal.

Por outro lado, alguns reservatórios em outras regiões do Brasil apresentaram significativa melhora nos últimos dois meses. Com é o caso dos reservatórios da bacia do Rio São Francisco, como Três Marias, que atualmente opera com um nível de 57%, volume que há anos não era observado. E o reservatório de Descoberto, no Distrito Federal, que superou a marca de 100% em janeiro, bem diferente de dois anos atrás quando o reservatório estava com um nível de 19%, dando início a pior crise hídrica da região.

Situação energética

No panorama energético a situação também não é confortável. As usinas hidrelétricas são responsáveis por grande parte da geração de energia do país e a capacidade atual de energia armazenada (EAR) dos principais subsistemas do Brasil não está tão alta, de acordo com a ONS:

  • Subsistema Sudeste/Centro-Oeste: 26.2% de EAR
  • Subsistema Sul: 42.19% de EAR
  • Subsistema Nordeste: 41.93% de EAR
  • Subsistema Norte: 31.66% de EAR

Além disso, a forte onda de calor de janeiro foi responsável pelo recorde de carga de energia elétrica do Brasil, que registrou uma carga máxima no sistema de 90.525 megawatts no dia 30 de janeiro, superando o recorde anterior de 89.114 megawatts do dia 23 de janeiro desse mesmo ano.

Essa situação nos faz ficar dependentes das chuvas que virão em fevereiro, já que estamos entrando no final do período chuvoso. Por isso, não podemos descartar a possibilidade de problemas de abastecimento nos próximos meses e devemos manter os bons hábitos de economia adquiridos durante as crises anteriores.