El Niño X Queimadas: entenda a relação entre o fenômeno e os mais de 9 milhões de hectares queimados no Brasil em 2023

O número de queimadas aumenta a cada dia no Brasil, o principal vetor é o desmatamento. Porém, é inegável a relação com o fenômeno El Niño gerando secas extremas e calor intenso. Entenda a relação que ocasionou mais de 9 milhões de hectares queimados em 2023.

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Focos de queimadas aumentam no país frente ao período de secas e calor intenso proporcionado pelo El Niño.

Há muitos anos as queimadas são estudadas no Brasil e diversos são os motivos relacionados a esse grande problema que pode ser pontual ou pode muitas vezes devastar áreas enormes, gerando prejuízos e perdas irreparáveis no meio ambiente. Se os motivos são tão diversos e ainda discutidos, muitas vezes, sem chegar a um consenso, contra os números não tem como negar.

São mais de 9 milhões de hectares já queimados em todo o Brasil nesse ano de 2023 segundo dados do MapBiomas que foram divulgados na quarta-feira (11). Os números foram expressamente crescentes em setembro, em que a área queimada neste período chegou a 4 milhões de hectares. Outro número relevante é que dos dez estados com maior número de incêndios registrados, oito fazem parte da Amazônia.

Houve uma redução de 22% em relação ao mesmo período do ano passado, em que de janeiro a setembro, haviam queimado cerca de 11,6 milhões de hectares. Apesar da redução, os números ainda preocupam e a estimativa futura não é nada animadora em um ano de El Niño.

Falando dos biomas, o mais afetado tem sido a Amazônia, principalmente neste último mês de setembro, com 1,9 milhão de hectares queimando na floresta, isso representou 49,6% do total de incêndios registrados em todo o país. Depois da Amazônia veio o Cerrado com 1,7 milhão de hectares em chamas durante o mês de setembro. Entre os dez estados mais afetados pelas queimadas em setembro, oito pertencem à Amazônia Legal: Pará, Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Amazonas, Rondônia, Amapá e Roraima.

Entenda os números até aqui

Segundo o levantamento feito pelo INPE através de satélites, já são mais de 131 mil focos de queimadas registrados desde o começo do ano até agora em todo o Brasil, e grande parte desse número vem apenas de dois estados, ambos na região Norte que enfrenta seca e calor extremo por conta do fenômeno El Niño. O Pará ocupa neste momento, o número 1 no ranking de queimadas com 24.710 focos registrados. O Amazonas vem em segundo lugar com 17.742 focos.

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As queimadas no Norte do Brasil não param de aumentar. Apenas o Amazonas e o Pará já representam cerca de 32% do total de queimadas no Brasil em 2023. Fonte dos dados: INPE

O número no Norte do Brasil assusta, mesmo comparado com o Mato Grosso que geralmente é o líder nesse ranking nacional. Com uma queda de 40% em relação ao ano de 2022, o estado mato-grossense está em terceiro lugar no ranking com 15.646 focos registrados desde janeiro. Aliás, vale ressaltar que somente as queimadas registradas nos estados do Amazonas e Pará, representam mais de 32% do total no Brasil.

Outro número que chama muito a atenção são os focos registrados em Altamira, no Pará, é a cidade que mais registrou incêndios neste ano, mesmo sendo destaque no combate às queimadas e ao desmatamento, na busca pela preservação ambiental. Aliás, Altamira é o maior município do Brasil e o terceiro maior do mundo, ou seja, o que acontece ali tem uma forte influência ao seu redor. Com a crescente quantidade de queimadas, cortinas de fumaça se espalham e geram danos inclusive à saúde humana. A busca por postos de saúde e hospitais praticamente triplica com as queimadas na região devido aos problemas respiratórios e pulmonares.

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Altamira no Pará é o município com maior número de queimadas registradas em 2023, o que contribui para o seu estado ficar no topo nacional. Fonte dos dados: INPE

Devido a sua extensão continental, o que até dificulta manter sentinela constante em seus mais de 159 mil quilômetros quadrados, Altamira sempre aparece no topo da lista de cidades que mais queimam e desmatam a floresta amazônica. Apesar dos investimentos em ações de controle e combate, feitos pela Secretaria Municipal de Gestão do Meio Ambiente (Semma), o município aparece mais uma vez no topo do ranking em 2023 com mais de 3 mil focos de queimadas registrados desde o início do ano até agora.

A falta de chuva, o calor e o perigo de incêndio

As projeções mais recentes dos modelos climáticos continuam preocupantes e nada animadoras para o Norte do Brasil devido à forte influência do fenômeno El Niño. O aquecimento anômalo do Pacífico Equatorial tem mantido e ainda vai manter as chuvas mais organizadas, frequentes e intensas no Sul do país, enquanto que no Norte e no Nordeste, a seca se prolonga junto aos recordes de temperatura.

Para os próximos dias são esperadas apenas pancadas irregulares e mal distribuídas na região Norte, chuvas concentradas especialmente na faixa oeste entre Acre, Amazonas e Roraima. No Pará, no Amapá e no Tocantins, o cenário ainda será de seca com poucos e isolados episódios de chuva e muito calor, assim como em praticamente todo o Nordeste.

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Previsão de calor extremo em diferentes regiões do país nesta quinta-feira (19). Mapa mostra máximas acima dos 40°C no Nordeste.

A tendência para o mês de novembro é de chuvas abaixo da média em toda a metade norte brasileira. O fenômeno El Niño segue forte e gerando ondas de calor, o que também é fundamental no aumento dos incêndios. Apesar disso, vale ressaltar que chuvas abaixo da climatologia não significa ausência total das precipitações. Existe uma projeção para o mês de novembro bem mais positiva no Norte e até no Nordeste em comparação aos meses de setembro e outubro.

Na região Norte, a chuva tende a ser mais expressiva e mais organizada nos estados do Acre, Rondônia, Amazonas, Roraima e até partes do Pará, mas ainda será insuficiente para reverter à escassez hídrica principalmente no norte do Tocantins, no nordeste do Pará e no Amapá. No Nordeste também existe tendência de um cenário mais úmido que os últimos meses, mas ainda assim, a irregularidade e má distribuição das chuvas vão se destacar.