El Niño se manterá até o outono de 2024! Será que a seca no Norte e as chuvas volumosas no Sul do Brasil vão continuar?

Previsões recentes indicam que o El Niño deverá se manter até outono de 2024. Diante dos impactos negativos que já vivemos no Brasil, nos perguntamos: com a continuidade do El Niño, a seca no Norte e chuvas volumosas no Sul continuarão?

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O El Niño atingiu a intensidade moderada, quase forte, no último mês de setembro de 2032. Imagem: Climate.gov/NNVL.

A última atualização do diagnóstico do El Niño-Oscilação Sul (ENOS) feito pelo Climate Prediction Center (CPC) da NOAA alerta que as condições de El Niño - fase positiva do ENOS - se mantém sobre o Pacífico Tropical e poderão persistir até o trimestre de outono de 2024.

Há uma probabilidade de 80% de continuidade do El Niño no trimestre de março a maio de 2024, além de 75 a 85% de chance desse El Niño atingir a categoria forte até janeiro de 2024, de acordo com o CPC.

As águas superficiais do Pacífico Tropical, apesar de terem registrado um pequeno resfriamento ao longo do mês de setembro, seguem bem mais quentes que o normal, com anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) superando anomalias de +1°C e +1.5°C. A região do Niño 3.4, situada na porção central-leste do Pacífico Tropical, registrou valores próximos de +1.5°C em setembro e também no início de outubro, o que já classifica o atual evento como um El Niño de intensidade moderada, próximo da intensidade forte.

De acordo com o CPC, grande parte dos modelos climáticos analisados pelo CPC e o International Research Institute (IRI) sinaliza a continuidade do El Niño durante o outono de 2024, com uma probabilidade de 80% de continuidade do El Niño entre os meses de março, abril e maio de 2024.

Com base nas projeções dos modelos e também das anomalias já observadas no Pacífico, o CPC aposta, com uma probabilidade de 75 a 85%, que este evento de El Niño chegue a categoria de forte (anomalias de TSM na região do Niño 3.4 iguais ou maiores a +1.5°C) entre novembro de 2023 e janeiro de 2024.

Além disso, o CPC não descarta a possibilidade desse evento ser um Super El Niño, estimando uma probabilidade de 3 em 10 desse evento ser super forte (com anomalias de TSM iguais ou superiores a +2°C), podendo rivalizar com os Super El Niños de 2015-16 e 1997-98.

Não podemos deixar de mencionar também a fase positiva do Dipolo do Oceano Índico (DOI) que está bem estabelecida e intensa - uma das mais intensas registros - e que também continuará se intensificando nos próximos meses. Lembrando que o DOI positivo pode reforçar os impactos do El Niño sobre o Brasil.

Como ficarão as chuvas no Brasil nos próximos meses?

Os impactos do El Niño já estão sendo sentidos no Brasil, tanto na temperatura - onde tem predominado o calor acima do normal - quanto no padrão de chuvas, onde observamos o característico dipolo de anomalias opostas de chuva entre o sul e norte do país. Dessa forma, enquanto a região Sul sofre com as inundações e enchentes de seus rios, o Norte vive uma das piores secas da história, com os rios registrando níveis baixíssimos.

Com o cenário de continuidade do El Niño, a principal preocupação é: será que esse padrão se manterá nos próximos meses no Norte e Sul? O padrão esperado de chuvas no Brasil do El Niño realmente é esse que observamos, porém, ele não se mantém fixo ao longo dos meses. Com as mudanças de estações e início da estação chuvosa o padrão se altera, o que pode trazer certo alívio para certas regiões, mas prejudicar outras.

Mesmo com a continuidade do El Niño, a partir de janeiro de 2024 espera-se um alívio das condições de seca extrema sobre a região Norte e uma redução das chuvas volumosas sobre o Sul do Brasil.

Pelas previsões do modelo ECMWF, o mês de novembro será bem parecido com o atual mês de outubro, com chuvas abaixo da média em grande parte do país, principalmente no Centro-Norte e Nordeste, e chuva acima da média nos estados da região Sul e parte do Sudeste.

Previsões de anomalias de chuvas para os meses de novembro de 2023 a fevereiro de 2024 pelo modelo ECMWF.

Porém, a partir de dezembro, a previsão do modelo do ECMWF indica uma leve diminuição das chuvas na região Sul e um pequeno aumento da chuva na porção oeste da região Norte, inclusive com a possibilidade de chover acima da média nesta região. Nota-se que as condições de chuva abaixo da média passam a deslocar para leste, passando a atuar no leste da região Norte e Nordeste.

Essa mudança no padrão de anomalias de chuva fica ainda mais evidente em janeiro de 2024, quando o modelo projeta chuvas acima da média em boa parte da porção oeste e sudoeste do Norte, chuvas abaixo da média concentradas sobre o Nordeste e uma redução das anomalias positivas no Sul, ficando mais restritas ao oeste do Rio Grande do Sul. Além disso, a previsão para fevereiro se destaca por reduzir os acumulados na região Sul e por colocar chuvas acima da média entre as regiões Sudeste e Nordeste, numa região característica da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).