Amazônia em risco: a degradação da floresta favorece o ressurgimento de doenças infecciosas

Doenças de potencial pandêmico? Altas temperaturas e altas umidades podem ser um agravante para o surgimento ou ressurgimento de novas doenças na Amazônia.

Degradação da Amazônia
Um nova doença pandêmica pode surgir ou ressurgir em meio a degradação da Amazônia. Atualmente, mais de 600 mil pessoas já foram afetadas pela seca histórica. Foto: Michael Dantas/AFP.

Como já noticiamos por aqui, a seca na Região Norte do país tem causado inúmeros impactos! No mês passado, a capital do Amazonas, Manaus, registrou a sua pior seca em 121 anos, com o Rio Negro marcando 13,5 metros, sendo considerado o menor registrado desde 1902.

E outra preocupação da região são as queimadas, que deixaram a capital Manaus encoberta de fumaça no último dia (5). O bioma da Amazônia teve 22.061 focos de incêndio em outubro deste ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram 8.150 casos a mais do que o registrado no mesmo mês do ano anterior, representando uma alta de quase 60%.

Mas em meio a este cenário, surge uma nova preocupação, o surgimento ou o ressurgimento de doenças de potencial pandêmico associado a degradação ambiental e a alteração nas paisagens que se agravam em períodos de seca extrema.

Surgimento e ressurgimento de doenças na Amazônia

Os ambientalistas estão preocupados com a pavimentação da BR-319, ligando Porto Velho a Manaus, já que o desmatamento no entorno da estrada pode quadruplicar nos próximos 25 anos, principalmente a especulação fundiária.

Fora que o desmatamento não é uma situação estática, mas dinâmica e imprevisível!

Esse processo pode acontecer de diferentes formas. A degradação de áreas conservadas, o desvio de rios e a seca extrema, por exemplo, levam à escassez de água e alimentos. Ou seja, significa uma ameaça direta de desnutrição que afeta a saúde da população local, deixando-as mais vulneráveis a doenças. Mais de 600 mil pessoas já foram atingidas pela seca histórica no Amazonas.

Durante este período de estiagem, a falta de água limpa e má higiene, também contribuem mais o aumento do risco de doenças transmitidas por água e alimentos contaminados, como cólera e hepatite, além de viroses que desencadeiam diarreias graves.

Em setembro, a Secretária de Saúde do Amazonas (SES-AM) informou que ao menos 49 casos de rabdomiólise, popularmente conhecida como “doença da urina preta”, foram confirmados no estado. Ela está associada à má preservação de peixes, e em consequência, pode ocorrer em função de agravos diversos, como traumatismos, infecções, ou ainda devido ao consumo de álcool e outras drogas.

Comunidades indígenas são as mais vulneráveis

O aquecimento global também é um fator crítico, permitindo a expansão da presença de mosquitos transmissores de doenças como malária e dengue. Isso porque um aumento de poucos graus na temperatura média do planeta pode possibilitar a colonização de áreas anteriormente inacessíveis a esses vetores.

Um exemplo de desequilíbrio ambiental é a recente crise humanitária dos Yanomami, causada pela mineração ilegal e falta de acesso a serviços de saúde.

Além da contaminação das águas e do ambiente por mercúrio, a atividade de mineração criou um ambiente favorável para a reprodução e disseminação de espécies de mosquitos do tipo Anopheles, transmissor do protozoário causador da malária. Entre 2008 e 2012, cerca de 20% dos casos de malária ocorreram em território Yanomami, entre 2018-2022. As doenças infecciosas transmitidas de animais para pessoas são as mais preocupantes.

Alguns estudos fazem correlação entre o aumento de temperatura com a alta de casos de malária. Existem também outros fatores relacionados, como a umidade, para que o mosquito transmissor possa se proliferar. A malária é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles que, quando infectado pelo parasita plasmodium, passa a doença para os humanos e outros animais, como o macaco.

Impossível de prever, mas possível de vigiar!

Infelizmente, a prevenção de zoonoses não é uma tarefa difícil, pois não há um método eficaz que possa prever como, de onde, ou qual será a próxima doença emergente. Através de monitoramento da circulação de vírus e bactérias, além de submeter animais “sentinela” como morcegos, roedores e primatas a tecnologias de sequenciamento para detectar precocemente os agentes circulantes que possam representar uma ameaça à saúde humana.

Mas para ser efetiva, a vigilância deverá ser constante e abranger esferas locais e nacionais, além de investir em métodos de diagnóstico mais rápidos e eficazes, que possam ajudar a conter a propagação de uma nova doença com potencial pandêmico, semelhante a COVID-19.