Amazonas vive uma das maiores cheias da história

Após meses de chuvas acima da média, praticamente todo o estado do Amazonas está sendo afetado pelo transbordamento de seus principais rios, caracterizando um dos piores episódios de cheias de sua história. Mais de 400 mil pessoas estão sendo afetadas.

Cheia Amazonas 2021
A cidade de Anamã, no interior do Amazonas, já está 100% tomada pelas águas do Rio Solimões. Foto: Defesa Civil do Amazonas.

Alguns meses depois do estado do Acre viver uma situação caótica com as cheias dos rios, agora é o estado do Amazonas que está sendo duramente afetado pelo transbordamento de seus rios.

Praticamente todo o estado tem sido afetado, segundo a Defesa Civil do Amazonas, 58 dos 62 municípios estão enfrentando problemas causados pelas cheias dos rios, 25 deles já decretaram situação de emergência. O total de pessoas afetadas já passa de 414 mil!

Em Manaus, o nível do Rio Negro está apenas 2 centímetros abaixo do recorde histórico de 2012, de 29,97 metros

Cerca de 16 639 mil famílias amazonenses tiveram perdas na produção agrícola devido às enchentes dos rios, de acordo com um balanço divulgado pelo Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam). Entre as culturas mais afetadas estão a de bananas, hortaliças, mamão e mandioca. O valor das perdas já soma mais de R$ 189 milhões.

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Além de perderem grande parte das lavouras, os produtores também veem seu gado passar fome devido a redução do pasto. Alguns criadores chegaram a construir tablados de madeira flutuantes, as chamadas marombas, porém o gado não resiste muito tempo nessa situação pela falta de alimento.

Na capital, Manaus, a cheia do Rio Negro já é a segunda maior dos registros históricos que datam desde 1902 e está apenas alguns centímetros de bater o recorde! Nesta sexta-feira foi medido o nível de 29,95 metros no Porto de Manaus, apenas 2 centímetros abaixo da marca histórica de 29,97 metros marcada em 21 de maio de 2012.

O nível do Rio Negro está tão alto que os barcos atracados na região central de Manaus já alcançam a altura da calçada. Algumas ruas da capital amazonense já foram completamente interditadas, pelo menos 15 bairros da cidade têm pontos de alagamento e cerca de 24 mil pessoas estão sofrendo com a cheia do Rio Negro, situação que fez com que a cidade decretasse situação de emergência.

Diversos pontos históricos de Manaus já foram atingidos pelas águas, como a Praça do Relógio e o Prédio da Alfândega. A Defesa Civil já construiu 4 quilômetros de pontes de madeira na capital e a estimativa é que mais 7 quilômetros tenham que ser construídos. Em alguns bairros, os moradores só conseguem se locomover por canoas e algumas famílias chegaram a improvisar casas em barcos.

A cidade de Parintins já registra sua maior cheia da história, o transbordamento do Rio Amazonas já afeta cerca de 47 mil pessoas na cidade. A cidade de Anamã tem 100% de sua área alagada pelas águas do Rio Solimões. Em Manacapuru, onde o Rio Solimões chegou à marca de 20,72 metros, mais de 40 mil pessoas foram afetadas e 1 067 foram desalojadas.

Variabilidade climática e as cheias

As cheias são eventos comuns e já esperados na região Norte do Brasil, porém poucas vezes na história elas chegaram a tamanho grau de severidade. Alguns padrões de variabilidade climática estão associados a esses episódios extremos.

No caso da cheia histórica desse ano, e também a de 2012, a fase negativa do padrão El Niño Oscilação Sul, a La Niña, foi a responsável por gerar acumulados de chuva bem acima da média climatológica nos meses de verão na região Norte.

Com os rios ainda em fase de cheia e os efeitos da La Niña ainda presentes na atmosfera, mesmo após seu fim decretado, os especialistas esperam que o episódio de cheia deste ano seja o maior da história! De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) a previsão é que o Rio Negro chegue até 30,35 metros, ultrapassando o recorde de 2012!