Acre vive situação caótica em meio as cheias dos rios

As chuvas acima da média que tem ocorrido no oeste da Amazônia acarretaram no transbordamento de vários rios e igarapés no estado do Acre, que acabaram invadindo as cidades. Para piorar, ao mesmo tempo o estado lida com crises migratória e de saúde.

Cheias Acre
Diversas cidades do Acre, como Sena Madureira (imagem), foram invadidas pelas águas dos rios, afetando milhares de famílias. Imagem: Marcos Vicentti/Secom.

Na região Norte do Brasil, o estado do Acre vive uma situação caótica sem precedentes devido a uma combinação de fatores. Além da crise migratória vivida na fronteira com o Peru, o surto de dengue e a sobrecarga do sistema de saúde devido ao avanço da pandemia da COVID-19, o estado também está sendo afetado, desde a última semana, pelas cheias de seus rios e igarapés!

A cheia dos rios da região amazônica é comum nessa época do ano, chamada de “inverno amazônico”, porém as chuvas acima da média que tem ocorrido desde o início de período chuvoso acarretaram num aumento acima do normal dos níveis dos rios, principalmente no oeste da região.

Estamos vivenciando uma situação humanitária de calamidade, porque são vários problemas de uma vez só (Governador Gladson Cameli à CNN)

Até agora 10 dos 22 municípios acreanos foram atingidos pelas cheias dos rios: a capital Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Sena Madureira, Tarauacá, Santa Rosa do Purus, Feijó, Jordão, Porto Walter, Mâncio Lima e Rodrigues Alves. São mais de 120 mil pessoas afetadas, quase 20% da população do estado!

Em entrevista à CNN Brasil o governador do Acre, Gladson Cameli, que decretou situação de emergência no estado na terça-feira (16), descreveu a situação de crise como uma “Terceira Guerra Mundial”.

Na capital, Rio Branco, 25 mil pessoas foram afetadas pela cheia. As águas do Rio Acre atingiram 22 bairros da capital. Na quinta-feira (17), o Rio Acre atingiu o nível de 15,77 metros, bem acima da cota de alerta de 13,5 metros.

Mais de 80% da cidade de Tarauacá foi tomada pelas águas do Rio Tarauacá, que chegou a cota de 9,57 metros no sábado (20), mais de um metro acima da cota de alerta e 34 centímetros abaixo da cota máxima já atingida pelo rio.

Na segunda maior cidade do Acre, Cruzeiro do Sul, mais de 30 mil pessoas foram atingidas pela cheia do Rio Juruá que atingiu o nível de 14,3 metros, 1,3 metro acima da cota de transbordamento. 200 pessoas estão desabrigadas e outras 1,2 mil desalojadas na cidade. Um menino de dois anos acabou morrendo afogado no bairro de Várzea na quinta-feira (19).

Em Sena Madureira, o Rio Iaco atingiu a marca de 18,04 metros no sábado e domingo (21), muito acima da cota de alerta de 14 metros. Essa é o segundo maior episódio de cheia do Rio Iaco desde 1997.

A rodovia BR-364 que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul ficou 4 dias interditada depois que as águas do igarapé Cajazeiras invadiram a pista no KM 280. No domingo, com a diminuição do nível da água e a colocação de pedras na pista, o tráfego pode ser liberado.

A Energisa informou que, a fim de evitar acidentes com a rede elétrica nos bairros atingidos pelas cheias dos rios, suspendeu a energia elétrica de 10.489 clientes em quatro cidades: Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Sena Madureira e Rio Branco. A cidade mais afetada foi Tarauacá com 5.888 desligamentos

No início dessa semana, 8 das 10 cidades atingidas registraram uma vazante dos rios, ou seja, uma diminuição do nível da água. Porém, ainda é muito cedo para afirmar que as cheias estão retrocedendo, isso porque nos próximos dias ainda há previsão de chuvas para o estado e os países vizinhos (Peru e Bolívia).

A preocupação agora é abrigar as famílias desalojadas e evitar a maior contaminação por COVID nos abrigos, já que o estado já está com mais de 90% dos leitos para COVID ocupados. Além disso, o governo do estado já teme por um possível surto de leptospirose que pode surgir após a baixa dos rios.