Período úmido no Brasil: primeiras impressões do começo da estação chuvosa

A primavera climatológica começou, representando a transição do período seco para o úmido em boa parte do país. Quais as expectativas para o período do retorno das chuvas para o Brasil Central? A Região Sul vai secar? Quais os fatores climáticos? Saiba tudo aqui!

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Quais as expectativas para o início do período úmido para o Brasil Central? A Região Sul vai secar mesmo? Quais os fatores climáticos envolvidos?

A primavera climatológica começou neste início de setembro, com chuvas concentradas no centro-sul do Brasil, sendo mais expressivas na Região Sul. Um cenário muito semelhante ao observado em agosto.

Essa frequência de chuvas no centro-sul do país será observada nas demais semanas de setembro, com maiores volumes entre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mais precisamente nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Essa é a condição mostrada na última atualização do modelo climático ECMWF para até 7 meses.

ECMWF setembro
Anomalia de precipitação do modelo ECMWF para o mês de setembro.

O interessante deste cenário é de que as chuvas não serão tão expressivas em boa parte do Rio Grande do Sul e também já há condição mais favorável para eventos de precipitação mais pontuais no Brasil Central, ou seja, o mês está se comportando muito próximo do que se espera, sendo um período de transição para o período úmido.

Mas será que há consistência e frequência desta transição para os próximos meses? Quais os fatores climáticos influentes e quais os cenários de precipitação previstos? Confira a discussão a seguir.

Os principais fatores climáticos de médio e longo prazo

Os fatores climáticos mais influentes no médio e longo prazo são os relacionados com o padrão de temperaturas dos oceanos, sendo os mais influentes ao clima no Brasil: a região do Pacífico Equatorial, determinante para os fenômenos La Niña e El Niño, o oceano Atlântico Sul e oceano Índico.

2022 já é o terceiro ano consecutivo com atuação do fenômeno La Niña, uma condição pouco comum que ocorreu apenas mais três vezes: 1954-1957, 1973-1976, e 1998-2001.

Em relação às águas superficiais da região do Pacífico Equatorial, a projeção é de resfriamento da porção central nos próximos meses, intensificando a condição de Lã Niña até o fim do ano. O fenômeno La Niña, contribui para chuvas mais no centro-norte do país nesta época do ano.

No caso do Atlântico Sul, a previsão é de águas mais aquecidas na porção norte, próximas do Nordeste, o que favorece o transporte de umidade para o centro-norte do país, contribuindo para o período de monções, ou seja, para chuvas nas regiões Norte, Nordeste e Brasil Central.

La Niña
Anomalia da temperatura da superfície do mar do modelo CFSv2.

No Índico a previsão é de manutenção das águas mais frias na metade oeste do oceano, mais próximo da África, e da condição mais aquecida na porção leste, mais próxima da Austrália. Esse padrão caracteriza o Dipolo do Índico na sua fase negativa, que, basicamente, contribui para uma maior frequência de atuação de baixas pressões e cavados no Atlântico na altura do Sudeste. Assim, há maior probabilidade para organização da umidade no Brasil Central.

Em resumo, o padrão de temperaturas dos principais oceanos favorece uma primavera de boa frequência de chuvas no centro-norte do país, semelhante ao mesmo período de 2021, o que por consequência proporciona irregularidade da precipitação na Região Sul.

Previsão mensal mais recente do modelo climático ECMWF

Os cenários mensais do modelo ECMWF para até 7 meses são atualizados sempre no início de cada mês. Assim, a última atualização se deu na última segunda-feira, 05 de setembro, e traz cenários muito coerentes com os esperados pela influência dos oceanos Índico, Pacífico e Atlântico.

Para este início de período os eventos extremos de precipitação são mais prováveis de ocorrer e atingem uma boa parte do Brasil, principalmente nos meses de novembro e dezembro.

Para outubro, as anomalias de precipitação apontam para uma condição próxima da média, sendo um pouco acima entre o oeste de Minas Gerais, o estado de São Paulo, o Rio de Janeiro, o Mato Grosso do Sul e o norte do Paraná. As anomalias ligeiramente negativas, trazem um uma percepção ainda de irregularidade no Brasil Central, condição esta comum, uma vez que ainda se trata de um mês de transição.

Já para boa parte da Região Sul, há expectativa do retorno da irregularidade, segundo o modelo. No entanto, isso não representa ausência total de chuva. Geralmente os modelos climáticos dão mais peso para as condições de La Niña e de El Niño, o que para o mês de outubro, que ainda é de transição, as águas mais aquecidas na porção sul do Atlântico Sul podem favorecer eventos volumosos de precipitação.

Para os meses de novembro e dezembro, o modelo traz um padrão típico do somatório das influências do La Niña, norte do Atlântico Sul mais aquecido e de Dipolo do Índico negativo, com chuvas concentradas no centro-norte do país, representadas pelas anomalias muito positivas nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Este padrão, demonstra também que a Zona de Convergência do Atlântico Sul, a ZCAS, estará um pouco mais deslocada para norte da sua posição climatológica.

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Com uma maior frequência de chuvas no centro-norte do país, a Região Sul está sujeita à uma maior irregularidade da precipitação, representada pelas anomalias negativas, maior até mesmo em comparação ao mês de outubro.

Em resumo, o início do período úmido será muito próximo ao que foi observado em 2021, claro que não com os mesmo volumes, mas com chuvas já se espalhando pelo Brasil Central a partir do mês de outubro.