Período úmido: os principais sistemas meteorológicos da estação chuvosa

Com a primavera chegando, temos uma mudança no padrão meteorológico sobre o Brasil, e alguns sistemas característicos da estação chuvosa podem começar a ocorrer. Você sabe quais são esses sistemas? Quando a estação chuvosa começa efetivamente?

estação chuvosa
Setembro marca a transição entre a estação seca e chuvosa de grande parte do Brasil.

O mês de setembro marca o início da primavera no Hemisfério Sul. Por esse motivo, setembro é considerado o mês de transição entre o período seco e o período úmido de grande parte do Brasil, especialmente das regiões Centro-Oeste e Sudeste. Por isso, nas próximas semanas podemos começar a observar uma mudança dos padrões meteorológicos que ocorrem no país.

O início da estação chuvosa varia de ano para ano, podendo iniciar entre meados de setembro até meados de novembro, geralmente se iniciando em meados de outubro. A estação chuvosa começa com o desenvolvimento do sistema de monção da América do Sul, que se inicia a partir do aumento das chuvas no noroeste na bacia amazônica, em meados de setembro, e com o passar do tempo essas chuvas vão se espalhando e se direcionando para o sudeste do país, formando um grande corredor de umidade que atravessa o Brasil.

O início da estação chuvosa varia muito, mas geralmente ocorre em meados de outubro!

A formação e manutenção desse tão importante sistema de monções da América do Sul, responsável por grande parte do acumulado anual de precipitação de grande parte do Brasil, conta com a atuação de alguns sistemas meteorológicos. Vamos conhecê-los a seguir!

Alta da Bolívia e Cavado do Nordeste

Com o retorno da intensa e pulsante convecção diurna no noroeste da Amazônia, uma circulação anticiclônica se forma nos altos níveis da atmosfera (nível de 250 - 200 hPa), centrada sobre a região da Bolívia, a chamada Alta da Bolívia (AB). Esse anticiclone de altos níveis contribui para a formação e manutenção da convecção sobre a Amazônia e a porção central do Brasil.

Além da Alta da Bolívia, outro importante sistema em altos níveis desempenha um papel crucial na estação chuvosa, o Cavado do Nordeste. Esse cavado muitas vezes pode formar um vórtice ciclônico em altos níveis, sendo denominado de Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN). Nas bordas desses cavados e VCANs a convecção é favorecida, por isso, quando atuam sobre o Nordeste, esses sistemas costumam gerar muita chuva na região.

Ambos os sistemas, a Alta da Bolívia e o Cavado no Nordeste, contribuem para a organização da banda de convecção que liga o Norte ao Sudeste do Brasil, a chamada Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).

Zona de Convergência do Atlântico Sul

A ZCAS é o principal sistema meteorológico que caracteriza o sistema de monção da América do Sul. Ela é caracterizada por uma banda de nebulosidade e chuva orientada de noroeste para sudeste, ligando o Norte com o Sudeste do Brasil!

Principais sistemas meteorológicos que contribuem para a formação da ZCAS: Alta da Bolívia (AB), Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS) e frente estacionária.

Para a formação e estabelecimento de uma ZCAS clássica - que pode durar de 4 a 10 dias - precisamos de uma combinação de sistemas meteorológicos: Em altos níveis temos a Alta da Bolívia e o Cavado do Nordeste, impulsionando a convecção no Centro-Norte. Em médios e também altos níveis tem-se um cavado sobre o sudeste da América do Sul, dando suporte a uma frente estacionária em superfície, que contribui para orientar o fluxo de umidade para o Sudeste do país.

Sistemas Convectivos de Mesoescala

Além dos grandes sistemas mencionados acima, considerados de escala sinótica, existem sistemas com uma escala espacial um pouco menor, mas que também são responsáveis por grandes acumulados de chuvas pelo Brasil: os Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCMs)!

Os SCMs são grandes aglomerados de convecção que podem ser facilmente identificados nas imagens de satélite, por serem constituídos de várias nuvens de topos frios (cumulonimbus) juntas. Geralmente esses sistemas estão associados a tempestades intensas, com grandes acumulados de chuva, muitos raios, além de granizo e fortes rajadas de vento.

Imagens de satélite de um CCM ocorrido no dia 14/10/2021 (esquerda) e uma LI ocorrida no dia 20/09/2021 (direita). Imagens: Satélite GOES16

Na primavera, o choque de massas de ar sobre o sul da América do Sul favorece a ocorrência desses sistemas, que costumam se formar entre a Argentina, Paraguai e o Centro-Sul do Brasil. Esses SCMs podem apresentar formas variadas: quando são arredondados, são denominados Complexos Convectivos de Mesoescala (CCMs), e quando alongados, são chamados de Linhas de Instabilidade (LIs).

Esses sistemas são mais robustos e intensos nos extratrópicos, porém também ocorrer na faixa tropical. Na região amazônica também vemos a ocorrência de SCMs, em menor magnitude, principalmente de LIs, que costumam se formar na costa e viajam para oeste, atingindo o extremo oeste da região. Quando esses sistemas começam a se formar na Amazônia durante a primavera, é sinal que a convecção está retornando e a estação chuvosa pode começar!