Como será o clima na segunda quinzena de setembro
Após uma primeira quinzena marcada por extremos de chuva e calor, a segunda metade de setembro deve trazer mudanças importantes no padrão atmosférico sobre o Brasil.

A primeira quinzena de setembro foi marcada por chuvas acima da média no centro do Rio Grande do Sul, oeste da Amazônia e no litoral do Nordeste e Espírito Santo. Já Paraná, São Paulo e grande parte do Centro-Oeste registraram chuvas abaixo da média.
As temperaturas máximas ficaram entre 1°C e 5°C acima da média no centro do país, onde a umidade do ar segue crítica, enquanto no Sul e Sudeste as máximas ficaram levemente abaixo da média.

Será que este padrão vai se manter até o fim do mês? Confira o que indicam o modelo de confiança da Meteored | Tempo.com e os principais padrões de grande escala.
Anomalias de temperatura
A previsão de anomalia semanal de temperatura do modelo ECMWF indica que a semana entre 15 e 22 de setembro será de calor acima da média em praticamente todo o Brasil, exceto por uma estreita faixa na região Norte. A temperatura será até 3°C acima da média na maior parte do país, podendo alcançar até 6°C acima da média no Centro-Oeste.

Entre 22 e 29 de setembro, no entanto, a previsão indica que as condições de temperatura estarão entre a média e abaixo da média em quase todo o país, exceto pela região Norte e Nordeste que terão anomalias ligeiramente positivas. As temperaturas podem ser até 3°C abaixo da média desde a região Sul, Sudeste, Centro-Oeste e leste da região Norte.
Anomalias de precipitação
A previsão de precipitação para a semana entre 15 e 22 de setembro indica que as condições observadas até agora em setembro ainda irão se manter, ou seja: chuvas acima da média sobre o Rio Grande do Sul, leste do Nordeste e parte da região Norte, enquanto o centro do país continuará sob condições áridas.

O ECMWF indica que este padrão será rompido ao longo da última semana de setembro, entre 22 e 29, quando a maior parte do país terá chuvas entre a média e acima da média, principalmente no Brasil central e na região Sudeste.
Principais padrões atmosféricos
Um aquecimento estratosférico será destaque nos próximos dias. Trata-se de um rápido aumento de temperatura na estratosfera polar, a cerca de 30 km de altitude, que enfraquece ou até rompe o vórtice polar - o cinturão de ventos fortes que circunda a Antártica no inverno.
Nas imagens abaixo, vemos a previsão de anomalia positiva de temperatura em 10 hPa do ECMWF, à esquerda, sobre o Polo Sul. A imagem da direita mostra um corte vertical da atmosfera, evidenciando como este aquecimento vem se estabelecendo desde meados de agosto.

Este aquecimento indica o enfraquecimento do vórtice polar estratosférico, o que pode reorganizar os ventos de oeste na troposfera e favorecer a fase negativa da Oscilação Antártica (AAO). Essa fase está associada a ventos mais fracos e deslocados para o norte, aumentando a chance de frentes frias mais frequentes e intensas chegarem ao Cone Sul e ao Brasil.

Muito tem se falado sobre o retorno da La Niña, mas o Oceano Pacífico continua sob condições de neutralidade (com anomalia entre -0,5°C e +0,5°C) na região de monitoramento do fenômeno, o Niño 3.4. Isso pode ser visto na imagem acima, à direita.
Além disso, o IRI Pacific Niño 3.4 SST Model, um conjunto de previsões de temperatura do Pacífico Central, continua prevendo a permanência da neutralidade até fevereiro de 2026.

Já o papel da Oscilação Madden-Julian (MJO) - um padrão de convecção tropical que pode influenciar o regime de chuvas no Brasil - na mudança do padrão atmosférico projetado para o fim do mês ainda é incerto.
Atualmente, a MJO se mantém fraca, com seu sinal sendo dominado por outros modos de variabilidade tropical. Nesse contexto, os produtos de previsão como o RMM-based Harmonics e o CFSv2 divergem, com o Harmonics indicando um favorecimento da chuva.

Isso acontece porque o “Harmonics” é um produto estatístico e linear que tende a projetar uma propagação contínua da MJO mesmo quando seu sinal é fraco, enquanto o CFSv2 é um modelo dinâmico acoplado, que incorpora interações complexas com ondas Kelvin e convecção de baixa frequência, podendo mostrar propagação irregular ou períodos de supressão da MJO.
Portanto, a discrepância entre os produtos reflete principalmente a fraca amplitude da MJO e a influência de outros padrões tropicais que modulam a convecção de forma mais dinâmica.