Calor vai continuar intenso no Brasil e as temperaturas elevadas podem reduzir ainda mais a produtividade das lavouras

Produtores têm registrado queda na produtividade das lavouras devido ao calor intenso no Brasil, algo que vai continuar nas próximas semanas, ou seja, o prejuízo pode aumentar.

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Calor em excesso reduziu potencial produtivo de muitas culturas no Brasil sob efeito do El Niño na safra atual.

O levantamento mais recente da CONAB confirmou a queda na produtividade de algumas lavouras devido ao excesso de calor no Brasil. Os números só confirmaram o que muitos produtores rurais já estavam relatando desde o começo da safra verão 23/24.

O calor mais intenso que o normal está relacionado às chuvas irregulares e mais dias de sol devido à influência do fenômeno El Niño, condição que vem castigando a produção agrícola principalmente no Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste.

A única região que “escapou” desses efeitos do El Niño foi o Sul, mas que também não saiu ilesa por completo, visto que o excesso de umidade gerou atrasos e perdas também no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, enquanto que o Paraná vem mostrando um cenário mais parecido com Mato Grosso do Sul e São Paulo.

No último relatório da NOAA foi atualizada a condição da TSM do Oceano Pacífico no trimestre NDJ com uma anomalia que chegou a +2°C, ou seja, o El Niño conseguiu chegar a uma forte intensidade, mesmo que no final do ciclo.

O fenômeno já começou a perder intensidade nesse comecinho de 2024, e as várias simulações climáticas apostam que o pico de intensidade já foi de fato alcançado, visto que agora as águas superficiais do Pacífico caminham rumo a uma neutralidade, o que será um alívio com relação ao excesso de calor no Brasil Central. Mas isso ainda pode demorar a acontecer e os prejuízos nas lavouras ainda podem aumentar nas próximas semanas.

O impacto devastador do calor no agro

Uma das culturas mais afetadas pelo excesso de calor gerado pelo presente El Niño é a soja que teve seu ciclo até prolongado no centro do Brasil em uma tentativa de aumentar a produtividade, mas muitos produtores não atingiram a meta.

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Além da soja, a produção do milho na safra atual pode cair 10% por conta do calor excessivo. Lavouras de algodão, café e laranja entram na lista de perdas.

Segundo o produtor Ivan Brucelli que produz soja em Rio Verde, Goiás, houve uma drástica diminuição na produtividade da soja na safra atual devido ao calor em excesso. O produtor relatou que em meio a plantas secas e murchas, a produção nos primeiros 400 hectares não passou de 25 sacas/ha. A quebra da safra pode ser vista quando comparada as 75 sacas/ha do ano anterior.

Brucelli diz ter observado que em áreas sem cobertura de palhada, o replantio foi imprescindível uma vez que a temperatura do solo chegava a casa dos 60°C ou até mais, o que claro, inviabilizava a sobrevivência das plantas.

CONAB relata redução de 4,2% na produção de soja, com uma queda de 2,2% na produtividade média por conta do excesso de calor gerado pelo fenômeno El Niño no Centro-Oeste.

Também houve impactos negativos registrados em outras culturas como café e laranja. Intensas e frequentes ondas de calor geram abortamento das flores, prejudica a frutificação e também facilita o aparecimento de pragas comuns nessas cultivares. Na laranja, por exemplo, há perdas significativas de frutas maduras que apodrecem rapidamente no pé antes mesmo de serem colhidas.

Culturas como milho e algodão também podem sofrer com excesso de calor. Segundo relatos de produtores, a produção do milho pode cair 10% este ano, e o algodão também enfrenta preocupações com o desenvolvimento da pluma devido ao clima muito seco.

Calor vai continuar mesmo com El Niño indo embora

Como mencionado antes, a tendência é que o El Niño entre em uma neutralidade nos próximos meses, mas isso leva tempo e as respostas da atmosfera não acontecem de uma hora para outra. Mesmo que com menor intensidade, o fenômeno continua presente e mantendo temperaturas acima da média em praticamente todo o Brasil.

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Nas próximas semanas que marcam a reta final do verão, a condição ainda é de calor acima do normal em quase todo o Brasil. Fonte: ECMWF

Para as próximas semanas, a tendência é de temperaturas elevadas mesmo com previsão de chuvas espalhadas por grande parte do território nacional, ou seja, são esperadas chuvas em forma de pancadas rápidas, algo característico do verão que só termina no dia 20 de março. Com esse cenário de chuvas de verão, períodos de sol e calor também são esperados.

Os mapas acima mostram temperaturas acima do normal na maior parte do Brasil no período de 12 a 19 de fevereiro e depois uma maior concentração desse calor fora do normal no centro-norte brasileiro, pelo menos até 11 de março. De toda forma, o que mais chama a atenção é a continuidade das altas temperaturas atingindo lavouras do Sudeste, do Centro-Oeste e do Norte nas próximas semanas, o que pode aumentar a queda de produtividade e os prejuízos.

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Mesmo com o final do verão e El Niño caminhando rumo a neutralidade no Pacífico, tendência é de temperaturas acima da média no trimestre março, abril e maio de 2024. Fonte: ECMWF

O mapa acima já vai um pouco mais longe com uma tendência sobre o trimestre março, abril e maio de 2024, com uma expectativa de continuidade das temperaturas mais elevadas, com um desvio que pode chegar até 2°C em áreas principalmente no interior de São Paulo, Triângulo Mineiro, Goiás, Mato Grosso, Piauí, Maranhão e toda a região Norte. Mesmo com o oceano caminhando rumo à neutralidade climática, o clima parece não querer cooperar muito com a produção agrícola no Brasil.