Previsão de chuvas pode ser o socorro para a safra atual na capital do agronegócio no Centro-Oeste

Rondonópolis com o maior PIB do estado é considerada a capital do agronegócio brasileiro. Produtores declararam situação de emergência por falta de chuva, veja a previsão para os próximos dias.

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Previsão de chuva para os próximos dias e até semanas pode ser o socorro aguardado por produtores rurais no Centro-Oeste.

A atuação do fenômeno El Niño tem chamado a atenção e deixado seus rastros negativos sobre o agronegócio brasileiro. Mesmo que o fenômeno esteja perdendo intensidade, os malefícios dos últimos meses ainda podem ser observados. No Centro-Oeste, uma das principais regiões brasileiras voltada ao agronegócio, a situação foi crítica quanto à falta de chuva logo no começo do ciclo das culturas de verão como soja e milho.

Rondonópolis que tem o segundo maior PIB do estado de Mato Grosso e é até considerada a capital do agro, decretou situação de emergência por um período de 90 dias por conta da falta de chuva que afetou a produção agrícola e a quebra da safra atual. O Decreto nº 11.917 de 29 de janeiro de 2024 foi publicado no Diário Oficial do Município.

A declaração com viés de emergência foi solicitada pela classe agropecuária representada pelo Sindicato dos Produtores Rurais de Rondonópolis. Essa situação de emergência foi embasada em um laudo meteorológico elaborado pela Assessoria Especial de Segurança Pública e Defesa Civil (GASP) em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

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Falta de chuva provocou morte de lavouras, replantio e muitos outros efeitos negativos na safra atual. Foto: Divulgação

Segundo informações de Lucindo Zamboni Júnior, presidente do Sindicato, a seca tem afetado muito o produtor rural em Rondonópolis e municípios vizinhos, e esse decreto é o primeiro passo para que o setor possa minimizar os efeitos climáticos na produção agrícola da região. Em sua fala, Zamboni agradece a sensibilidade da gestão municipal com o setor agrícola, que através desse decreto poderá procurar instituições financeiras para buscar uma renegociação de suas dívidas, além dos benefícios com ações e recursos do governo federal.

Capital do agro sofre com falta de chuva

Rondonópolis tem o segundo maior PIB de Mato Grosso e é conhecida nacionalmente no setor agrícola por sua excelência e resultados que garantem a liderança do ranking de exportações do estado. O decreto de emergência vale por 90 dias e pode ser prorrogado por igual período.

Através de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), foi registrado um baixo índice de precipitação acumulada entre os meses de setembro e dezembro de 2023 em Rondonópolis, algo inferior a 350 milímetros no total, sendo que a normal climatológica para esse período do ano é quase o dobro disso.

Como a cidade tem uma importante e estratégica localização geográfica, a industrialização da região teve um novo salto, sendo hoje o maior pólo de esmagamento, refino e envaze de óleo e soja do Brasil, o maior pólo misturador de fertilizante do interior brasileiro, a maior produção estadual de ração e suplementos animais, frigoríficos com padrões internacionais e também já se prepara para se tornar um dos principais pólos têxteis do Centro-Oeste através do incentivo e investimento na indústria de tecelagem e confecções.

De modo geral, falando do estado de Mato Grosso, a redução das chuvas permitiu o avanço da colheita da soja, em que as áreas plantadas mais tarde até tem apresentado um rendimento melhor, mas na média, a safra atual continua inferior a safra passada em quantidade e qualidade. Por outro lado, tem o milho segunda safra que tem avançado na semeadura com o maior período de sol, isso ajuda nas atividades de campo, mas a chuva tem que cair para garantir o desenvolvimento vegetativo.

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Plantio do milho em Mato Grosso está adiantado e precisa da reposição hídrica para o bom desenvolvimento das lavouras.

Apesar dos desafios enfrentados desde o início da safra e os resultados que começam a se mostrar mais fracos do que o produtor esperava, vale ressaltar que segundo dados da CONAB, as culturas estão apresentando avanços significativos. A colheita da soja alcançou 30,8% no final da semana passada contra 25,6% no mesmo período do ano passado. O plantio do milho também está adiantado, chegou a 30,2% no dia 03 de fevereiro frente aos 19,8% da safra anterior.

Muitos produtores optaram por destinar uma maior área para o plantio do algodão após a morte de muitos talhões que precisavam ser replantados, mas ao invés disso, produtores alcançaram uma semeadura já de 90,3% da área destinada ao algodão, adiantada comparada ao ano passado com 77,6%.

A previsão é de chuva, seria um socorro para o Centro-Oeste?

A previsão para os próximos dias é de chuva concentrada sobre o centro-norte do país, ainda sob efeito de instabilidades em altos e médios níveis da atmosfera, além claro, da combinação entre calor e umidade, que já é suficiente para provocar pancadas de chuva. A preocupação é se o volume total esperado será suficiente para aumentar a água no solo e garantir o desenvolvimento das lavouras, não só em Mato Grosso, como também em Goiás e Mato Grosso do Sul.

Até o domingo (11) são esperados pouco mais de 50 milímetros de precipitação em Rondonópolis, assim como em várias outras cidades agrícolas importantes na região central do Brasil. Vale ressaltar, no entanto, que nesse período o maior volume de chuva deve atingir o nordeste mato-grossense e também a metade norte goiana, com acumulados entre 100 e 180 milímetros.

De modo geral, a chuva permanece de maneira irregular e mal distribuída no Centro-Oeste, muitas lavouras podem enfrentar até um certo excesso de umidade nos próximos dias, o que gera um desaceleramento nas atividades diárias, na entrada das máquinas em campo, mas por outro lado, é uma chuva benéfica para a reposição hídrica do solo e também dos reservatórios que são utilizados para a irrigação, ou seja, é outro ponto em que o produtor precisa ficar atento.

Esse alto volume de chuva pode ser um socorro frente ao decreto de situação de emergência na capital do agro e também muitas cidades agrícolas que têm sido afetadas pela seca e pelo calor, porém, devido as altas temperaturas, não se descarta a ocorrência de temporais com vendaval e granizo, o que pode gerar danos também nas plantações.

A boa notícia é que como mostram os mapas abaixo, tem mais previsão de chuva nas próximas semanas, com uma tendência de maior concentração da umidade em importantes áreas agrícolas no Brasil Central. Até o dia 12 de fevereiro, nota-se uma umidade ainda atravessando o centro do país embalada por instabilidades no Oceano Atlântico (as áreas em verde do mapa).

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As próximas semanas podem ser marcadas por maior umidade no Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste como mostram as áreas em verde nos mapas. Fonte: ECMWF

Para o próximo período até 19 de fevereiro, a chuva volta a ficar mais organizada no Sul com a formação de uma nova frente fria, isso pode gerar uma diminuição expressiva das chuvas em partes do Centro-Oeste, como em Mato Grosso e Goiás, mas não vai durar muito tempo e a boa notícia é que no terceiro período entre 19 e 26 de fevereiro, a tendência é de avanço expressivo das instabilidades e maior umidade concentrada de novo no Brasil Central e no Nordeste, algo que deve persistir até os primeiros dias do mês de março.