Trigo “encharcado” no RS: o risco invisível da giberela após a chuvarada
Chuvas volumosas e calor em setembro elevam o risco de giberela no trigo gaúcho, abrindo caminho para a micotoxina DON. Também veja como agir nos sete dias pós-chuva para proteger produtividade, qualidade industrial e segurança do alimento.

Setembro tende a combinar episódios de chuva volumosa com temperatura acima da média no Sul, a receita perfeita para a giberela (Fusarium graminearum) atacar espigas de trigo em florescimento. Quando o fungo encontra umidade persistente, a infecção avança de forma silenciosa e rápida.
O problema não termina no campo: a doença pode gerar a micotoxina DON (deoxinivalenol), que deprecia a qualidade industrial e acende um alerta de segurança do alimento. Em anos “encharcados”, o impacto real costuma aparecer na colheita e na classificação dos lotes.

Nessas situações, moinhos e armazenadores aplicam limites rígidos e penalidades, tornando crucial a segregação e o teste rápido para decidir o destino de cada carga.
Por que a giberela cresce após a chuva?
A janela crítica do trigo coincide com o espigamento e a antese. Se chover forte e o ar ficar úmido por muitas horas seguidas, as anteras expostas facilitam a entrada do patógeno, e os primeiros sintomas podem surgir em poucos dias. Nesse estágio, qualquer atraso no monitoramento pode significar perda de controle sobre a doença.

Além disso, noites quentes e amanheceres úmidos prolongam o molhamento da espiga. Esse “efeito estufa” local, somado à baixa ventilação do dossel, mantém o microclima ideal para a doença e aumenta o risco de DON. Com essa combinação, mesmo talhões bem conduzidos podem apresentar alta variabilidade na severidade da giberela.
Checklist dos 7 dias pós-chuva
Diante desse cenário, o manejo imediato após a chuva é determinante para reduzir perdas e preservar a qualidade do trigo. Pequenas ações realizadas na semana seguinte fazem toda a diferença na severidade da giberela e nos níveis de DON.
- Monitorar espigas diariamente na borda e no miolo do talhão; buscar brancas, rosadas e grãos chochos.
- Colher na primeira janela seca, priorizando áreas mais adensadas e cultivares sensíveis.
- Secagem rápida logo após a colheita; mirar umidade de armazenamento ≤13% para frear o fungo.
- Segregar por lote na moega; evitar que áreas suspeitas contaminem grãos sãos.
- Teste rápido de DON quando houver indício de giberela; resultado orienta destino do lote (ração/indústria).
Do campo ao moinho: decisões agora no RS
No Rio Grande do Sul, a safra atravessa fases de espigamento e enchimento de grãos justamente quando os episódios de chuva retornam. A leitura prática é agir como se o risco existisse: antecipar colheita em áreas críticas, reduzir perdas por grãos leves e acelerar a secagem para preservar qualidade. Essa postura preventiva aumenta a chance de manter o trigo dentro dos padrões industriais mesmo em anos de clima adverso.
Na pós-colheita, vale redobrar a atenção com amostragens representativas e classificação cuidadosa. Comunicar cedo a indústria e a armazenagem ajuda a planejar a mistura de lotes, mantendo padrão para panificação e evitando surpresas de DON na etapa final. A integração entre campo e cadeia produtiva torna-se decisiva para reduzir prejuízos e preservar a confiança do consumidor.