Laranjais de SP e MG retiram milhões de toneladas de CO₂ da atmosfera; pesquisa promete revolucionar a agricultura

Longe de depender só de florestas, o Brasil descobre nos laranjais um cofre de carbono: estudo com 162 milhões de árvores revela estoques recordes, quantifica captura anual e projeta novos créditos climáticos rentáveis aos agricultores brasileiros rurais.

Sao Paulo, Minas Gerais, laranja
As laranjeiras do cinturão citrícola paulista–mineiro funcionam como cofres vivos de carbono, transformando pomares produtivos em aliados do clima.

Todo mundo já ouviu que as florestas são “pulmões” do planeta, mas pouca gente imagina que pomares comerciais também podem funcionar como cofres de carbono. Em tempos de metas climáticas cada vez mais ambiciosas, entender quanto dióxido de carbono (CO₂) fica retido na vegetação agrícola virou questão estratégica, e econômica, para o Brasil.

Foi exatamente esse o foco de um estudo conduzido por cientistas da Embrapa Territorial, da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e da Fundação de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).

Pela primeira vez, eles quantificaram de forma detalhada a biomassa viva e o estoque de carbono de 162 milhões de laranjeiras distribuídas em 337 mil hectares no Estado de São Paulo e no sudoeste de Minas Gerais. Os resultados, publicados em 2025, revelam que nossos copos de suco têm muito a dizer sobre mudanças climáticas.

Quanto carbono cabe em um pé de laranja?

Cada laranjeira adulta do cinturão citrícola armazena, em média, 52 quilogramas de carbono, valor que sobe para 224 kg nos exemplares mais robustos. Somados, todos os pomares analisados guardam cerca de 8,4 milhões de toneladas de carbono na biomassa viva, o que equivale a retirar mais de seis milhões de carros das ruas por um ano.

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Esse estoque impressionante reforça o papel da citricultura como solução natural no combate às mudanças climáticas, com impacto direto e mensurável na atmosfera.

O estudo também mostrou como esse carbono se reparte dentro da árvore: os galhos respondem por 54 %, seguidos pelas raízes (28 %), folhas (10 %) e tronco (8 %). Esses números derrubam a velha ideia de que só o tronco importa e reforçam a relevância das partes subterrâneas, muitas vezes ignoradas, na contabilidade de carbono.

Da balança ao drone: medindo sem derrubar árvores

Os pesquisadores combinaram amostragem destrutiva, cortar 80 árvores para pesar cada compartimento, com a construção de equações alométricas capazes de estimar peso e carbono a partir de medidas simples de campo. Em seguida, aplicaram essas “regras de bolso” a mais de 1 300 árvores medidas in loco e, depois, extrapolaram os resultados para todo o cinturão citrícola.

Principais destaques da metodologia:

  • Amostra robusta: 80 árvores abatidas em quatro faixas etárias (3–5, 6–10, 11–15 e > 15 anos).
  • Variáveis fáceis de medir: diâmetro do tronco, altura total e áreas basais de ramos.
  • Precisão alta: as equações explicam até 95 % da variação de biomassa observada.
  • Escalonamento regional: inventário Fundecitrus 2023 serviu de base para projetar resultados sobre 162 milhões de árvores.

Graças a esse protocolo, agricultores passam a dispor de uma régua simples, e barata, para acompanhar o “cofrinho” de carbono dos pomares sem precisar cortar plantas produtivas.

O sabor climático da laranja brasileira

Ao fixarem em média 4,28 kg de carbono por árvore a cada ano, os laranjais paulistas sequestram cerca de 694 mil toneladas de CO₂ anualmente, um serviço ambiental que, além de ajudar o país a atingir metas de redução de emissões, pode virar receita em mercados voluntários de carbono.

Mais do que números impressionantes, o trabalho redefine a forma como enxergamos as culturas perenes. Se mantidos por longos ciclos, árvores com mais de dez anos concentram 76 % do estoque total, os pomares se transformam em aliados permanentes no combate ao aquecimento global.

ao contrário das florestas nativas, cuja conservação depende de políticas de proteção, os laranjais integram cadeias produtivas consolidadas, oferecendo uma ponte prática entre agricultura, clima e mercado.

Em resumo, cada copo de suco de laranja brasileiro carrega não só vitamina C, mas também uma dose de carbono “enterrado” nos galhos e raízes da árvore que lhe deu origem. Conhecer, e valorizar, esse serviço ambiental é passo essencial para que consumidores, produtores e formuladores de políticas transformem frutas em estratégias climáticas de longo prazo.

Referência da notícia

Estimating biomass and carbon stock in orange trees (Citrus sinensis L. Osbeck) of the São Paulo and southwestern Minas Gerais citrus belt, Brazil. 29 de abril, 2025. Rodriguez-Nogueira, L. et. al.