Seca mais branda do Rio Negro esconde os impactos na pesca, nas hortas ribeirinhas e no açaí
Projeções do SGB indicam seca mais branda em Manaus em 2025, com mínima perto de 18 m e 60–85 dias abaixo de 20 m. Menos risco, sim, mas efeitos persistem na pesca, na logística de alimentos e no preço do açaí.

Depois de um 2023/2024 traumático, com níveis recordes de estiagem e efeitos humanitários amplos, as projeções oficiais indicam um 2025 menos severo em Manaus. Nota técnica do Serviço Geológico do Brasil (SGB) aponta “seca fraca” no Rio Negro, com cota mínima prevista entre 17,70 m e 18,90 m, algo em torno de 18 m, e 60–85 dias abaixo da cota de 20 m, referência para navegação.

O alívio esperado contrasta com a crise recente, quando o porto de Manaus registrou a menor marca em mais de um século e cadeias de abastecimento ficaram sob forte pressão. A mensagem para 2025, porém, não é de “problema resolvido”, e sim de “atenção redobrada aos impactos silenciosos” na pesca, nas roças de várzea e no preço de alimentos regionais como o açaí.
Hidrologia em 2025: neutralidade, mas vigilância
O SGB projeta um regime mais próximo da média histórica, sem o estresse extremo associado ao El Niño recente. Ainda assim, a curva de vazante deve colocar o Rio Negro abaixo de 20 m por 60 a 85 dias, janela em que a logística fluvial fica mais sensível e o custo do frete pode subir, ainda que sem colapsos generalizados como os de 2023.

A comunicação técnica reforça um ponto-chave: impactos relevantes para a navegação costumam escalar quando a cota se aproxima de 17 m e tornam-se críticos abaixo de 16 m. Como o cenário base para 2025 não desce tanto, a previsão institucional é de efeitos manejáveis, mas que exigem planejamento de estoques e rotas, sobretudo para comunidades dependentes do rio.
Pesca e várzea: por que o “quase normal” ainda preocupa
A reprodução de peixes amazônicos responde diretamente ao pulso de cheias e vazantes. Seca intensa pode atrasar a desova, expor larvas e reduzir o “recrutamento” (entrada de juvenis no estoque adulto), com reflexos que só aparecem na temporada seguinte.
Nas áreas ribeirinhas do Rio Negro, estudos mostraram como a seca de 2023 desconectou comunidades de igarapés e lagos, alterando rotinas de pesca, acesso a água e plantios de subsistência. Esses efeitos “lag”, logísticos e ecológicos, podem persistir, ainda que enfraquecidos, em 2025. Programas de defeso e a gestão por bacias continuam essenciais para proteger estoques e a renda de pescadores artesanais.
O que observar nos próximos meses
- Duração real dos dias abaixo de 20 m e a data da mínima (out–nov são prováveis).
- Relatos de conectividade entre rios e lagos de várzea (acesso a viveiros naturais).
- Sinais de recrutamento de peixes nas feiras e nos desembarques.
- Custos de frete fluvial e prazos de entrega de mantimentos nas comunidades.
Hortas, prateleiras e o açaí
Para as hortas ribeirinhas e a logística de alimentos em Manaus, uma seca fraca já é boa notícia. Rotas de abastecimento tendem a operar com menos interrupções do que em 2023/2024, quando a Defesa Civil relatou dificuldade de acesso a mantimentos e água potável em dezenas de municípios. A vigilância, porém, precisa continuar: gargalos de navegação pontuais ainda podem afetar preços locais e a regularidade das feiras.
No açaí, ícone cultural e econômico, os preços seguem forte sazonalidade, com altas no fim do ano e no início do seguinte. Em 2025, o fator hídrico deve pesar menos do que em 2023/2024, mas a combinação de safra, frete e demanda urbana continuará determinando o valor ao consumidor.

Estudos recentes mostram padrão sazonal claro na série de preços no Amazonas; em anos de logística mais difícil, os picos tendem a ser mais pronunciados. A leitura prática: se a vazante cumprir o roteiro “brando”, o repasse ao consumidor pode ser menor e mais curto.
Referências da notícia
Prognóstico de níveis do Rio Negro para o período de vazante de 2025. 16 de setembro, 2025. Servicio Geológico do. Brasil.
Planejamento e previsão do preço do açaí no Amazonas: análise com base no modelo X12-ARIMA. 13 de junho, 2024. Rufinho, J. et., al.