NOAA e OMM confirmam La Niña: como se preparar?

Com a volta de uma La Niña fraca, o Brasil entra em um novo arranjo de chuvas: risco maior de estiagem no Sul, alívio parcial no Norte e Nordeste e muita incerteza para a safra de verão.

Milho, safra, soja, arroz
Solo rachado em lavoura de milho durante forte seca, símbolo do estresse hídrico que ameaça a safra de verão.

A atmosfera mudou de fase de novo. Depois de meses em condição neutra no Pacífico, os principais centros de monitoramento climático confirmam que o oceano entrou em um novo episódio de La Niña, ainda de fraca intensidade, com chance maior de persistir entre o fim de 2025 e o verão de 2026, antes de voltar à neutralidade.

La niña, el niño
A previsão é de que o fenômeno La Niña continue durante o inverno do Hemisfério Norte, com uma transição para a neutralidade do ENSO mais provável entre janeiro e março de 2026 (61% de chance).

Para o Brasil, a notícia não é apenas curiosidade climática. La Niña costuma reorganizar o mapa de chuva do país: em linhas gerais, aumenta a probabilidade de precipitações mais frequentes no Norte e Nordeste e de períodos mais secos no Sul, especialmente em pleno verão.

Em um ano em que a safra 2025/26 já começou com atraso e chuvas irregulares em várias regiões, entender esse “novo padrão” é essencial para quem planta, colhe… e para quem depende dos preços no supermercado.

La Niña em 2025/26: fraca, mas longe de inofensiva

A La Niña atual é classificada como fraca: as anomalias de temperatura na região Niño 3.4 do Pacífico estão apenas um pouco abaixo da média, e os modelos indicam que esse resfriamento deve perder força ao longo do primeiro trimestre de 2026, dando lugar a um cenário neutro.

Isso significa que não estamos diante de um “superevento” como em outros anos, mas também não é sinônimo de impacto zero. Mesmo episódios discretos são capazes de inclinar a balança da chuva.

Organismos internacionais, como a Organização Meteorológica Mundial, falam em probabilidade ao redor de 50–55% para um episódio de La Niña fraco entre dezembro e fevereiro.

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Anomalia de precipitação prevista pelo modelo sazonal ECMWF SEAS5 para o trimestre DJF 2025/26, indicando áreas com maior probabilidade de chuva acima ou abaixo da média na América do Sul.

No Brasil, serviços de meteorologia já destacam que o fim de 2025 deve marcar o auge dessa configuração, com reflexos claros na distribuição de chuva: tendência a episódios intensos em parte do Norte/Nordeste e de veranicos mais frequentes no extremo Sul, antes de um enfraquecimento gradual no começo de 2026.

Quem ganha chuva e quem perde água

Na prática, o “jeito La Niña” de organizar a atmosfera mexe diretamente com a safra de verão. A irregularidade das chuvas já atrasou o plantio de soja em áreas do Centro-Oeste, Sudeste e Norte, em um cenário que os especialistas associam à transição para esse padrão e ao aumento do risco climático até o verão de 2026.

De forma bem resumida, o quadro tende a ser algo assim:

  • Norte e Nordeste: maior chance de episódios de chuva volumosa, inclusive com zona de convergência trazendo acumulados elevados em alguns estados.
  • Centro-Oeste e parte do Sudeste: chuva presente, mas irregular, alternando pancadas fortes com aberturas de tempo seco que podem atrapalhar o plantio e a janela de tratos culturais.
  • Sul do Brasil (sobretudo RS): risco ampliado de veranicos, calor e déficit hídrico, com potencial de afetar soja, milho e pastagens se as precipitações falharem em janeiro e fevereiro.

A mesma La Niña que pode favorecer recarga de reservatórios no Norte e Nordeste é a que deixa o pecuarista do Sul preocupado com pasto ralo e o sojicultor atento ao solo ressecando mais rápido entre uma frente fria e outra.

Essa combinação de chuva demais em alguns cantos e de chuva de menos em outros ajuda a explicar por que entidades do setor falam em “alerta para o campo”.

Como se adaptar agora

Se por um lado os modelos indicam que a La Niña tende a atingir o auge neste fim de ano e enfraquecer entre janeiro e fevereiro, por outro a janela crítica da safra de verão está justamente nesse período. É aí que entram as decisões de manejo.

Para o Sul, o recado é claro: planejar como lidar com eventuais veranicos, reforçar a cobertura de solo, priorizar cultivares mais tolerantes ao estresse hídrico e, onde for viável, investir em irrigação ou ao menos em estratégias de uso mais eficiente da água.

No restante do país, a palavra-chave é regularidade. Produtores do Centro-Oeste, Sudeste e Matopiba já estão acostumados com chuvas “nervosas”, que ora vêm em excesso, ora desaparecem por dias.

A diferença, com La Niña, é que o risco de extremos aumenta e a safra precisa ser pensada com esse cenário em mente: escalonar plantios, acompanhar de perto os boletins climáticos, revisar seguros rurais e adotar tecnologias de monitoramento podem fazer a diferença entre uma safra razoável e um prejuízo.

Referência da notícia

El niño/Southern oscillation (ENSO) Diagnostic Discussion. 1 de dezembro, 2025. CPC NCEP NOAA.