NOAA e OMM confirmam La Niña: como se preparar?
Com a volta de uma La Niña fraca, o Brasil entra em um novo arranjo de chuvas: risco maior de estiagem no Sul, alívio parcial no Norte e Nordeste e muita incerteza para a safra de verão.

A atmosfera mudou de fase de novo. Depois de meses em condição neutra no Pacífico, os principais centros de monitoramento climático confirmam que o oceano entrou em um novo episódio de La Niña, ainda de fraca intensidade, com chance maior de persistir entre o fim de 2025 e o verão de 2026, antes de voltar à neutralidade.

Para o Brasil, a notícia não é apenas curiosidade climática. La Niña costuma reorganizar o mapa de chuva do país: em linhas gerais, aumenta a probabilidade de precipitações mais frequentes no Norte e Nordeste e de períodos mais secos no Sul, especialmente em pleno verão.
Em um ano em que a safra 2025/26 já começou com atraso e chuvas irregulares em várias regiões, entender esse “novo padrão” é essencial para quem planta, colhe… e para quem depende dos preços no supermercado.
La Niña em 2025/26: fraca, mas longe de inofensiva
A La Niña atual é classificada como fraca: as anomalias de temperatura na região Niño 3.4 do Pacífico estão apenas um pouco abaixo da média, e os modelos indicam que esse resfriamento deve perder força ao longo do primeiro trimestre de 2026, dando lugar a um cenário neutro.
Isso significa que não estamos diante de um “superevento” como em outros anos, mas também não é sinônimo de impacto zero. Mesmo episódios discretos são capazes de inclinar a balança da chuva.
Organismos internacionais, como a Organização Meteorológica Mundial, falam em probabilidade ao redor de 50–55% para um episódio de La Niña fraco entre dezembro e fevereiro.

No Brasil, serviços de meteorologia já destacam que o fim de 2025 deve marcar o auge dessa configuração, com reflexos claros na distribuição de chuva: tendência a episódios intensos em parte do Norte/Nordeste e de veranicos mais frequentes no extremo Sul, antes de um enfraquecimento gradual no começo de 2026.
Quem ganha chuva e quem perde água
Na prática, o “jeito La Niña” de organizar a atmosfera mexe diretamente com a safra de verão. A irregularidade das chuvas já atrasou o plantio de soja em áreas do Centro-Oeste, Sudeste e Norte, em um cenário que os especialistas associam à transição para esse padrão e ao aumento do risco climático até o verão de 2026.
De forma bem resumida, o quadro tende a ser algo assim:
- Norte e Nordeste: maior chance de episódios de chuva volumosa, inclusive com zona de convergência trazendo acumulados elevados em alguns estados.
- Centro-Oeste e parte do Sudeste: chuva presente, mas irregular, alternando pancadas fortes com aberturas de tempo seco que podem atrapalhar o plantio e a janela de tratos culturais.
- Sul do Brasil (sobretudo RS): risco ampliado de veranicos, calor e déficit hídrico, com potencial de afetar soja, milho e pastagens se as precipitações falharem em janeiro e fevereiro.
A mesma La Niña que pode favorecer recarga de reservatórios no Norte e Nordeste é a que deixa o pecuarista do Sul preocupado com pasto ralo e o sojicultor atento ao solo ressecando mais rápido entre uma frente fria e outra.
Essa combinação de chuva demais em alguns cantos e de chuva de menos em outros ajuda a explicar por que entidades do setor falam em “alerta para o campo”.
Como se adaptar agora
Se por um lado os modelos indicam que a La Niña tende a atingir o auge neste fim de ano e enfraquecer entre janeiro e fevereiro, por outro a janela crítica da safra de verão está justamente nesse período. É aí que entram as decisões de manejo.
Para o Sul, o recado é claro: planejar como lidar com eventuais veranicos, reforçar a cobertura de solo, priorizar cultivares mais tolerantes ao estresse hídrico e, onde for viável, investir em irrigação ou ao menos em estratégias de uso mais eficiente da água.
A diferença, com La Niña, é que o risco de extremos aumenta e a safra precisa ser pensada com esse cenário em mente: escalonar plantios, acompanhar de perto os boletins climáticos, revisar seguros rurais e adotar tecnologias de monitoramento podem fazer a diferença entre uma safra razoável e um prejuízo.
Referência da notícia
El niño/Southern oscillation (ENSO) Diagnostic Discussion. 1 de dezembro, 2025. CPC NCEP NOAA.