La Niña com 71% segundo a NOAA: retorno das chuvas e plantio da soja, o que esperar?

Lá vem La Niña: com 71% de chance já para outubro, a primavera pode redistribuir a chuva no Brasil. Veja como isso mexe com o plantio da soja, o risco de queimadas e a volta das precipitações.

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Plantio da soja em solos ainda secos: decisão de esperar a chuva pode evitar falhas de estande e replantios.

O sinal oficial veio: a NOAA/CPC colocou em “La Niña Watch” e estimou 71% de probabilidade de La Niña no trimestre outubro–dezembro de 2025. Em linguagem direta: há forte chance de mudança na circulação atmosférica exatamente quando o Brasil inicia o plantio de verão. A depender da intensidade e da interação com outros sistemas, a distribuição de chuva pode mudar de figura entre regiões, com reflexos no calendário da soja, na janela de preparo de solo e até no risco de doenças e pragas favorecidas por calor e umidade.

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Semeadura logo após a chuva útil garante emergência mais uniforme e reduz riscos na fase inicial da lavoura.

Ao mesmo tempo, o Centro-Sul atravessa dias de umidade do ar muito baixa (12%–20%), com alertas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) para áreas de Goiás, Minas, São Paulo e Distrito Federal, condição que agrava o risco de queimadas e dificulta a emergência uniforme da lavoura. Ou seja, a primavera começa em “modo transição”: campo sedento hoje, mas com possibilidade de retomada das chuvas nas próximas semanas, exigindo decisões finas de manejo.

La Niña fraca: o que tende a mudar

La Niña é o resfriamento anômalo do Pacífico equatorial central-leste que altera os padrões de vento e de chuva no globo. Para a América do Sul tropical, o histórico mostra tendência a mais chuva sobre o norte da América do Sul no verão, enquanto o Sul do Brasil pode sofrer maior frequência de veranicos e eventos de tempo severo pontuais; Sudeste e Centro-Oeste ficam em faixa de transição, com respostas menos lineares e muito dependentes da intensidade do episódio.

Em 2025, o próprio CPC ressalta que, embora os modelos multiagência favoreçam La Niña, a força prevista é fraca, o que exige cautela em generalizações.

Por que isso importa agora? Porque o arranque da safra de soja depende de perfil de solo com umidade suficiente para garantir emergência e estande. Se as primeiras pancadas de primavera vierem irregulares, a pressa para plantar pode custar caro em replantios.

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Projeções de modelos climáticos (IRI/CPC) indicam resfriamento do Pacífico central em 2025, reforçando a probabilidade de La Niña fraca no trimestre outubro–dezembro.

Por outro lado, um breve atraso estratégico, alinhado às janelas do ZARC e ao retorno efetivo das chuvas, tende a reduzir risco climático e financeiro lá na frente.

Semana a semana no campo (guia prático)

Diante da previsão de La Niña fraca e do solo ainda irregularmente úmido, cada semana de setembro exige atenção especial. Abaixo, um guia prático para organizar o plantio de soja de forma segura e eficiente:

  • Semana 1 (agora): meça umidade do solo; se estiver raso e sem previsão de chuva ampla, evite semear. Revise regulagem da semeadora e qualidade/vigor de sementes. Consulte o ZARC – Plantio Certo para ver a janela municipal.
  • Semana 2: previsão indica primeiras pancadas? Priorize áreas com melhor palhada e sem compactação; semeie após chuva útil (infiltrada), evitando poeira e sulco seco.
  • Semana 3: se a chuva falhou, postergue; replaneje talhões e escalone o plantio para capturar o próximo evento.
  • Semana 4: com umidade consolidada, mantenha profundidade uniforme e atenção a falhas de estande; monitorar calor e vento para evitar perdas de água no pós-plantio.
  • Em todo o período: observe ventos e umidade para reduzir risco de fogo acidental em bordas e reservas legais; siga orientações locais de queima controlada (quando permitida) e de prevenção.

Plantio da soja, queimadas no campo e a volta das chuvas

Com a umidade relativa abaixo de 12%–20% em trechos do Centro-Sul, o risco de queimadas sobe e a janela de semeadura começa sob estresse. O INMET registrou avisos de perigo e grande perigo nestes dias, e o INPE mostra em seus painéis a evolução dos focos ao longo do ano.

Na prática, a recomendação é evitar operações que levantem faíscas em horários críticos, proteger aceiros e manter brigadas e equipamentos prontos até a normalização da umidade.

Quando as chuvas retornarem, cenário compatível com a instalação de La Niña fraca no trimestre OND/2025, espere irregularidade inicial: pancadas localizadas, seguidas por aberturas de sol e, aos poucos, organização de linhas de instabilidade.

É nesse “vai e vem” que o produtor deve casar a decisão de semear com o ZARC (portarias estaduais e aplicativo) e com a previsão de curto prazo. A combinação de janela oficial + solo com umidade útil + temperatura adequada segue sendo o “tripé” do estande bem-sucedido, com bônus de reduzir a necessidade de replantio e o gasto com insumos.

Referências da notícia

ENSO: Recent Evolution, Current Status and Predictions. 8 de setembro, 2025. Climate Prediction Center / NCEP.

ALERT-AS. Centro Virtual para avisos de eventos meteorológicos extremos para o Sul da América do Sul. 11 de setembro, 2025. Instituto Nacional de Meteorología (INMET).