Cana sob pressão: moagem menor, ATR no piso da década e calor de 40°C eleva risco de fogo
A safra 2025/26 de cana começa encurtada e com ATR no piso da década. Setembro traz onda de calor e baixa umidade, elevando o risco de incêndios. Saiba o que muda na operação, no mix e no bolso do consumidor.

A safra 2025/26 no Centro-Sul começou mais curta. Até 1º de agosto, a moagem acumulada estava 8,6% abaixo do mesmo período do ano passado; até 16 de agosto, a diferença ficou em cerca de 6–7%. A qualidade da matéria-prima também veio fraca: o açúcar total recuperável (ATR) segue abaixo do histórico e, em reportes setoriais, aparece no menor patamar em dez anos, sinal de cana menos concentrada e indústria sob mais pressão.

A chegada de setembro acendeu outro alerta: onda de calor na primeira quinzena, com máximas próximas de 40 °C em áreas do Centro-Oeste e interior do Nordeste, além de umidade relativa muito baixa, combinação que amplifica o risco de incêndios em talhões e no transporte de biomassa. Para o produtor, é uma semana decisiva para proteger o canavial e a operação.
Calor, ATR e impurezas: o que muda na usina
Temperaturas elevadas aceleram a respiração da planta e podem reduzir o acúmulo de açúcares na fase final, derrubando o ATR por tonelada. Na primeira metade de agosto, o setor registrou 144,83 kg ATR/t versus 151,17 kg/t um ano antes (-4,2%); no acumulado, 129,26 kg/t (-4,5%). Em paralelo, colheitas sob calor e poeira tendem a aumentar impurezas (terra/palha), o que encarece a moagem e pode piorar rendimento industrial.

Esse quadro ajuda a explicar o “piso” do ATR observado por entidades regionais e reforça a cautela de analistas: menos concentração e maior variabilidade de qualidade exigem ajustes finos no preparo e na extração (pressões, temperaturas, uso de adjuvantes) e disciplina nos turnos. Onde houver disponibilidade hídrica, a colheita em horários mais amenos reduz perdas de açúcar no campo.
Campo e transporte: como reduzir o risco de incêndio já
Com previsão de máximas próximas a 40 °C e umidade entre 12% e 30% em trechos do Centro-Oeste e do interior do Sudeste, a semana pede plano preventivo. Além do dano direto ao canavial e à fauna, focos às margens de rodovias interrompem o escoamento de cana e etanol.
- Faixas corta-fogo: reabrir e ampliar aceiros nas bordas e próximas a áreas vizinhas (pastagens secas, matas).
- Operação em janelas seguras: evitar colheita e queima acidental nas horas mais quentes e de vento.
- Inspeção no transporte: checar freios, faíscas e lona; reforçar brigadas e caminhões-pipa nas rotas.
- Logística da palha: evitar acúmulos próximos a estradas e subestações; dispor em leiras baixas.
- Canal de alerta: treinar equipe para acionar 193/Corpo de Bombeiros e brigadas internas rapidamente.
Do mix ao bolso do consumidor: o que esperar nas próximas semanas
Na indústria, o mix segue ligeiramente mais açucareiro (em torno de 51% de direcionamento para açúcar, nas leituras recentes), reflexo do apelo do mercado externo e da menor competitividade do hidratado em alguns estados. Se o calor persistir e a qualidade não reagir, usinas podem manter o foco no cristal, preservando margens.
Para o contexto de oferta, a Conab revisou a projeção nacional para cerca de 668,8 milhões t em 2025/26 (-1,2% vs. 2024/25), citando produtividade menor na média do país. Esse número, somado à moagem acumulada mais curta no Centro-Sul, tende a manter o setor em compasso de cautela: no curto prazo, o consumidor pode ver oscilações regionais no preço do etanol e, indiretamente, do açúcar no varejo, sobretudo onde a baixa umidade dificultar a colheita e o transporte.
Referência da notícia
2º Levantamento: Safra de Cana‑de‑Açúcar 2025/26. 26 de agosto, 2025. Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).