Castanha-do-brasil; a nova aliada proteica dos hambúrgueres vegetais
Embrapa desenvolveu farinha e concentrado proteico de castanha do Brasil com teor de proteína superior ao trigo, aproveitando sobras da indústria e criando hambúrgueres e quibes vegetais que aproximam Amazônia, nutrição reforçada e consumo sustentável.

A busca por alimentos mais saudáveis e sustentáveis já chegou com força às prateleiras brasileiras. Rótulos com mais proteína, menos desperdício e maior respeito ao meio ambiente chamam a atenção de quem quer mudar a alimentação sem abrir mão de sabor.
É nesse movimento de comida com menos desperdício que a castanha do Brasil ganha espaço.
No meio dessa tendência, um velho conhecido da floresta amazônica ganha um papel totalmente novo. Pesquisas da Embrapa mostram que a castanha do Brasil pode virar farinha e concentrado proteico com teor de proteína bem maior que o da farinha de trigo, abrindo espaço para hambúrgueres, quibes e outros produtos vegetais com “jeito” de comida do dia a dia.
A castanha-do-brasil além do óleo e da sobremesa
Quando pensamos em castanha do Brasil, geralmente lembramos do mix de nuts, das sobremesas ou do óleo usado em cosméticos. Por trás disso existe uma cadeia que movimenta comunidades extrativistas, cooperativas e indústrias na Amazônia, mas que ainda gera sobras importantes, como castanhas quebradas e a torta que sobra depois da extração do óleo.

Em vez de descartar esse material, pesquisadores desenvolveram processos para transformá-lo em ingrediente nobre. A partir da torta parcialmente desengordurada, eles produzem uma farinha rica em proteína e fibras, além de um concentrado proteico que pode ser usado em receitas salgadas. É uma forma de valorizar a biodiversidade amazônica e, ao mesmo tempo, reduzir perdas na cadeia produtiva.
Farinha proteica: quando a Amazônia supera o trigo
Os números ajudam a entender por que essa farinha está chamando tanta atenção. Enquanto a castanha in natura é muito rica em óleo, a farinha parcialmente desengordurada concentra o que interessa para quem busca mais proteína e fibra no prato.
Entre as principais características observadas pelos pesquisadores estão:
- teor de proteína em torno de 32 a 33 gramas por 100 gramas de farinha
- aproximadamente sessenta por cento mais proteína do que a farinha de trigo integral
- teor de gordura bem menor que o da castanha in natura, graças à etapa de extração do óleo
- boa quantidade de fibras, que ajudam na saciedade e no funcionamento intestinal
- possibilidade de produzir um concentrado proteico com mais de metade da composição formada por proteínas

Na prática, isso significa que a castanha deixa de ser apenas um “snack” ou um ingrediente de confeitaria para virar base de preparações salgadas. A farinha pode entrar em massas, misturas para empanados, pães especiais e produtos prontos, enquanto o concentrado ajuda a construir textura e sustentar o teor de proteína em análogos vegetais da carne.
Do laboratório ao dia a dia
Os estudos da Embrapa não ficaram só no papel. A equipe já elaborou quibe e hambúrguer vegetais usando farinha e concentrado de castanha do Brasil combinados com outros ingredientes, como trigo para quibe e proteína texturizada de soja. Nos testes de aceitação, participantes avaliaram sabor, textura e aparência com notas que indicam boa aceitação, algo essencial para que qualquer novidade conquiste espaço na rotina alimentar.
De um lado, há um mercado em crescimento de produtos à base de plantas, buscando alternativas à carne com mais proteína e menos impacto ambiental. De outro, há a oportunidade de gerar renda na Amazônia aproveitando melhor a castanha, reduzir desperdícios na indústria de óleo e desenvolver produtos com identidade nacional.
Referências da notícia
Elaboração de análogos vegetais de hambúrguer e quibe com utilização de coprodutos da indústria da castanha-do-brasil. 19 de outubro, 2025. Lima, J. et al.
Obtenção e caracterização de farinha, concentrado e isolado proteico derivados da castanha-do-brasil. 15 de julho, 2025. Carvalho, T. et al.