Brasil mira a liderança do café conilon: calor, seca e mercado aceleram a virada
O conilon acelera no Brasil com calor, irrigação e demanda por cafés intensos. Mapeamentos indicam onde ele supera o arábica e como expandir sem desmatar, mirando novas regras europeias e um mercado que paga por produtividade estável.

Dois movimentos estão mudando o xadrez do café no Brasil: o aquecimento do clima e o apetite global por bebidas intensas (do espresso ao ready-to-drink (pronto para beber)). Nesse cenário, o conilon (robusta) deixou de ser coadjuvante. Relatório recente aponta que o país pode encurtar a distância para o Vietnã e assumir protagonismo na produção mundial de robusta já nesta década.

A virada não é apenas de gosto. O conilon tem demonstrado melhor desempenho sob calor e períodos secos, algo cada vez mais frequente nas áreas cafeeiras. Ao mesmo tempo, a adoção de irrigação vem acelerando no cinturão do conilon, o que ajuda a estabilizar a produtividade. O resultado: mais oferta onde o arábica sofre, sem abrir mão de qualidade e padrão industrial.
Do calor à xícara: por que o conilon cresce
O robusta responde melhor a temperaturas elevadas e a veranicos em comparação ao arábica, e programas de melhoramento no Brasil (ES, RO, BA, MG) já disponibilizam cultivares clonais com arquitetura adequada, grãos maiores e resistência moderada à seca. Esse pacote agronômico conversa com um mercado em expansão para cafés solúveis, blends de espresso e latas geladas, exatamente onde o conilon brilha.

O avanço recente também se explica por tecnologia no campo. Após quebras por seca e calor, produtores investiram pesado em pivôs, gotejo e manejo hídrico de precisão. Reportagens mostram a irrigação como peça-chave para manter produtividade e reduzir a variabilidade de safra, especialmente em áreas quentes do Cerrado e do Nordeste.
Onde o conilon “ganha” do arábica (e como medir)
Para além da intuição, dá para mapear a vantagem do conilon combinando risco climático, custo/ha e retorno em quatro anos, e, de quebra, planejar expansão sem desmate, priorizando áreas já abertas.
- Clima: mapas de risco térmico e hídrico mostram maior resiliência do conilon a calor e estiagens curtas, reduzindo perdas em janelas críticas.
- Economia: estudos de mercado indicam produtividade elevada e payback curto quando há irrigação e manejo adequado, o que tem atraído investimento em renovação de lavouras.
- Território: plataformas como o MapBiomas permitem localizar pastagens e áreas já convertidas para intensificar sem pressionar florestas, um diferencial em um mundo que exige rastreabilidade.
Esse método favorece decisões mais cirúrgicas: identificar microrregiões onde o conilon entrega produtividade com menor risco climático, comparar cenários de irrigação e escolher áreas de expansão sobre pastagens subutilizadas, com ganho ambiental e regulatório.
Produção, regras e a janela europeia
Com a colheita 2025 estimada em 55,2 milhões de sacas (somando arábica e conilon), a fotografia oficial confirma o peso crescente do robusta na cesta nacional, e sinaliza que a diversificação climática do café brasileiro já está em curso. Para o produtor, a pergunta não é mais “se”, mas “onde e como” incluir conilon no planejamento.
Há, porém, um novo tabuleiro regulatório. A Regulamentação Antidesmatamento da União Europeia (EUDR) segue em ajuste de prazos e procedimentos, mas mantém a exigência de cadeias livres de desmate, o que reforça a estratégia de expandir sobre pastagens já abertas, com georreferenciamento e documentação desde o plantio.
O conilon ganhou tração porque casa agronomia e mercado: aguenta calor, responde à irrigação e entrega o sabor que a indústria quer. Para o Brasil, a oportunidade é clara, mapear onde ele performa melhor, investir em água e genética, e usar inteligência territorial para expandir sobre áreas já abertas. Se o produtor alinhar clima, custo e regra, a xícara tende a vir cheia.
Referência da notícia
3º Levantamento da Safra de Café 2025. 4 de setembro, 2025. CONAB.