Banana resistente ao TR4: o que a 1ª variedade GM aprovada no mundo muda (ou não) para o Brasil

A aprovação da banana GM QCAV-4 na Austrália reabre um debate crucial no Brasil: TR4 ainda ausente, cultivares resistentes avançam e decisões da CTNBio pautarão se biotecnologia vira rede de segurança da produção e do abastecimento.

Fusarium, banana
Descoloração avermelhada dos vasos no pseudocaule da banana, sintoma típico da murcha de Fusarium Foc TR4

O maior pesadelo da bananicultura tem nome e sobrenome: murcha de Fusarium, raça 4 tropical (TR4). Em 2024, a autoridade de segurança de alimentos da Austrália e Nova Zelândia aprovou para consumo a banana geneticamente modificada QCAV-4, primeira do mundo com resistência comprovada ao TR4; o país também sinalizou caminho para cultivo comercial.

É a primeira vez que uma banana transgênica cruza essa barreira regulatória no Ocidente, colocando o tema no radar da produção e do consumidor.

Em setembro de 2025, um artigo científico detalhou o desempenho da QCAV-4, consolidando duas novidades em uma: inovação biotecnológica e marco regulatório internacional. O estudo descreve o evento, os testes de campo e as comparações com materiais não transgênicos, oferecendo base técnica para decisões de política pública.

QCAV-4 por dentro: o que a biotecnologia entrega

A QCAV-4 carrega um gene de resistência (MamRGA2), derivado de uma banana selvagem (Musa acuminata ssp. malaccensis), que “liga” a defesa da planta assim que o fungo tenta invadir a raiz, um alarme molecular que bloqueia a doença. Nos ensaios publicados, a variedade apresentou desempenho agronômico comparável aos controles não GM em vários ciclos, reforçando sua utilidade como rede de segurança.

banana, praga
No futuro, cultivares GM como a QCAV-4 podem somar-se às variedades brasileiras resistentes no combate ao TR4.

Na prática, a QCAV-4 serve como seguro para regiões onde o TR4 já está estabelecido, reduzindo perdas e a necessidade de áreas isoladas. A adoção, porém, depende de cadeia de suprimentos, rotulagem, aceitação do consumidor e do contexto de cada país, e na própria Austrália não há pressa de comercialização ampla enquanto o TR4 segue ausente.

O que o Brasil já tem na mão

A boa notícia é que o Brasil avançou em alternativas não transgênicas: em agosto de 2025, a Embrapa confirmou resistência ao TR4 nas cultivares BRS Princesa e BRS Platina, após ensaios com inoculação e áreas contaminadas na Colômbia. Essas validações ampliam o leque de respostas caso a praga avance nas Américas, integrando-se a estratégias de manejo e vigilância.

  • Variedades nacionais resistentes: BRS Princesa e BRS Platina, validadas contra TR4, funcionam como barreira genética e diversificação do portfólio de produtores.
  • Vigilância e biossegurança: o TR4 é praga quarentenária ausente no Brasil; protocolos priorizam diagnóstico, higiene, trânsito de mudas e resposta rápida, com reforço de fronteiras e capacitações.
  • Manejo integrado: capacitação em polos produtores, mapas de risco e uso de materiais tolerantes/resistentes antecipam rotas de entrada e padronizam ações na cadeia.

Do campo à feira: o que mudaria por aqui

Se o TR4 chegar, o impacto começa no campo (perdas, talhões interditados) e chega à feira (oferta e preço), com maior pressão em regiões dependentes de poucas cultivares.

É crucial enfatizar que o Brasil não tem TR4 até a data de hoje, status oficial de praga ausente, enquanto países vizinhos já confirmaram: Colômbia (2019), Peru (2021) e Venezuela (2023); no Equador, há investigações e notícias não confirmadas recentes, mas sem validação oficial até agora, o que mantém acesa a vigilância.

Nesse cenário, três caminhos podem coexistir: ampliar plantio de cultivares resistentes nacionais; manter zonas livres com biossegurança rigorosa; e discutir, com ciência e transparência, o papel de materiais GM como “seguro” para áreas críticas. Qualquer banana GM no Brasil exigiria avaliação e liberação pela CTNBio, com análise de risco ambiental e alimentar e posterior coordenação com órgãos setoriais, um rito que inclui monitoramento pós-liberação e regras de rotulagem.

Referência da notícia

QCAV-4, the first genetically modified Cavendish (cv. Grand Nain) banana resistant to Fusarium wilt tropical race 4 approved for commercial production and consumption. 9 de junho, 2025. Harding, R., et. al.