Robô identifica novo padrão de circulação oceânica sob plataforma de gelo na Antártica

Em uma exploração inédita por um robô subaquático, foi revelado um novo padrão de circulação das águas no fundo do oceano, sob uma plataforma de gelo na Antártica, além de diversas formações de gelo moldadas pelas temperaturas.

veículo subaquático Icefin
Foto do veículo subaquático Icefin sob o gelo marinho em McMurdo Sound, Antártica. Crédito: Rob Robbins.

As condições oceânicas perto das “zonas de aterramento” das plataformas de gelo da Antártica têm um papel fundamental no controle da circulação da água e no equilíbrio da massa da camada de gelo.

Uma “zona de aterramento” é uma parede subaquática gigante que sobe do fundo do mar, ou seja, onde o gelo encontra o fundo do mar.

Contudo, os dados oceânicos nestas zonas estão praticamente ausentes. Por isso, um estudo publicado recentemente na revista Science Advances, liderado pela Universidade Cornell, trouxe novas informações coletadas por um veículo subaquático em uma fenda localizada na cavidade oceânica da zona de aterramento da Plataforma de Gelo Ross na Antártica.

mapa da Antártica
Mapa da Antártica. A Plataforma de gelo Ross em cinza na parte inferior da imagem. Fonte: Marinha do Brasil.

Essa é a maior plataforma do mundo, com cerca de 487 mil km² de superfície, o que equivale em extensão ao território da França. E neste trabalho, os autores descrevem a descoberta de um novo tipo de circulação oceânica sob a plataforma de gelo Ross feita pelo robô subaquático. Saiba mais aqui!

Uma nova circulação das águas sob a Antártica

O veículo subaquático, chamado Icefin (com cerca de 3,6 m de comprimento e 25 cm de diâmetro), foi operado remotamente através da fenda na base da plataforma Ross, produzindo as primeiras medições em 3D das condições oceânicas do local. Os dados revelaram um novo padrão de circulação no fundo do mar: um jato que canaliza a água lateralmente através da fenda, além de correntes ascendentes e descendentes e diversas formações de gelo moldadas pelas mudanças de fluxo e de temperatura da água.

As zonas de aterramento são fundamentais para controlar o equilíbrio das camadas de gelo, e são os locais onde as mudanças nas condições dos oceanos podem ter maior impacto.

E como é essa circulação? Ela leva a um derretimento assimétrico ao longo das paredes laterais da fenda inferior e a um congelamento da fenda superior. A liberação de água doce pelo derretimento em profundidade e a rejeição de sal pelo congelamento acima provocam uma circulação invertida. Este padrão de circulação vertical se sobrepõe a um jato de fluxo dominante, que canaliza a água paralelamente à costa, ortogonal à direção das correntes de maré.

Representação esquemática das condições oceânicas e das interações gelo-oceano dentro e abaixo da fenda, formando a nova circulação. Fonte: Washam et al., 2023.

Então, à medida que a fenda se estreitava, os padrões de gelo mudavam, com recortes ‘serrilhados’ dando lugar a canais verticais e, posteriormente, a gelo marinho esverdeado e estalactites. O derretimento na base da fenda e o congelamento no topo dela movem a água para cima e para baixo ao redor do jato horizontal, causando um derretimento irregular e congelamento nos dois lados, com maior derretimento ao longo da parede inferior à jusante.

As fendas movem a água ao longo da costa de uma plataforma de gelo numa extensão até então desconhecida e de uma forma que os modelos não previam”, disse Peter Washam, autor principal do estudo.

Importância da descoberta

Os pesquisadores acreditam que essas informações da nova circulação podem melhorar a modelagem das taxas de derretimento e congelamento das plataformas de gelo em zonas de aterramento, onde existem poucas observações diretas, e trazem um melhor entendimento sobre a potencial contribuição do derretimento para a subida do nível do mar.

Essas fendas tem potencial para transportar as condições oceânicas em mudança (mais quentes ou mais frias) através da região mais vulnerável de uma plataforma de gelo. “Se a água esquenta ou esfria, ela pode se mover vigorosamente na parte de trás da plataforma de gelo, e as fendas são um dos meios pelos quais isso acontece. Quando se trata de projetar o aumento do nível do mar, é importante ter isso nos modelos”, disse Washam.