Ponto de inflexão na Amazônia: estudo traz os limites para se evitar o colapso do bioma até 2050!

Floresta Amazônica em risco! Estudo alerta que a Amazônia pode atingir até 2050 um ponto de não retorno, o que indicaria o início do colapso parcial ou total da floresta.

Amazônia
Pesquisa aponta que o clima e o estresse do uso da terra poderiam empurrar a floresta tropical para além de um ponto de inflexão já em 2050. Foto: Poder360.

Uma abordagem inédita sobre as transformações irreversíveis que a Amazônia poderá sofrer daqui a alguns anos foi realizada por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A pesquisa faz uma revisão completa e traça cenários a partir do mapeamento de elementos que podem causar stress sob a Floresta Amazônica.

A pesquisa é liderada por Bernardo Monteiro Flores, pós-doutorando em Ecologia na UFSC, juntamente com a professora Marina Hirota e o climatologista Carlos Nobre. A análise minuciosa traz dados atualizados sob novas perspectivas e apresenta evidências da aproximação da floresta amazônica de um ponto crítico, conhecido como “ponto de não retorno”. O ponto de não retorno é isso: um ponto a partir do qual o sistema se retroalimenta numa aceleração de perda de florestas, e perdemos o controle

O aquecimento global, chuva anual, a intensidade da sazonalidade das chuvas, a duração da estação seca e o desmatamento são alguns dos elementos que afetam a Amazônia.

A partir de imagens de satélite, dados de observação do clima, modelos climáticos e evidências da paleoecologia foi possível entender os principais fatores de stress do bioma, e como a interação entre eles pode acelerar ainda mais a destruição do ecossistema. A estimativa é de que, nos próximos 25 anos, de 10% a 47% da Amazônia possam chegar a um ponto de não retorno, com transições inesperadas na paisagem.

O colapso da Floresta Amazônica


O grupo de pesquisadores delimitou que a temperatura não pode oscilar acima de 1,5°C, com precipitação anual de até 1.800 mm. Além disso, o déficit hídrico cumulativo não pode ser superior aos -350 mm, assim como a estação seca não deve durar mais do que 5 meses. E o desmatamento teria um limite seguro de 10% da cobertura original do bioma florestal, o que exige também a restauração em pelo menos 5% do bioma.
Seca na Amazônia
Número de eventos extremos de seca na Amazônia entre 1981 a 2000. Fonte: Flores et al., 2024.

Todos os dias, as árvores da floresta bombeiam enormes quantidades de água – até 500 litros por uma única árvore – do solo para a atmosfera, o que aumenta a concentração de umidade atmosférica. Além de eliminarem água, as árvores também liberam compostos orgânicos voláteis que contribuem para a formação das nuvens.

Agora o cenário começa a mudar, especialmente em função das alterações climáticas e do uso do solo.

Além disso, os ventos na região amazônica fluem predominantemente de leste para oeste, carregando nuvens e umidade, o que aumenta as chuvas ao longo do caminho. Este mecanismo, chamado de “feedback positivo ", resulta na capacidade de as florestas aumentarem as chuvas que contribuem com a sua resiliência. Esta é considerada “a principal razão pela qual a Amazônia persistiu dominada pela floresta durante 65 milhões de anos (durante todo o Cenozóico), apesar das grandes flutuações climáticas”.

A ideia de um colapso da floresta amazônica é assustadora por várias razões. Mas o que despertou a atenção mundial foi o risco de desestabilização do sistema climático, pois como a Amazônia armazena grandes quantidades de carbono, a perda florestal e as emissões de carbono poderão acelerar o aquecimento global em cerca de 15 ou 10 anos.

Qual será o fim da Floresta Amazônica?

Um dos resultados apresentados foi a delimitação de cenários e paisagens que poderiam ocorrer após a Amazônia colapsar. Áreas degradadas da floresta já tem sua paisagem alterada em função de interações entre os fatores que causam stress no bioma.

Na floresta degradada, por exemplo, os feedbacks geralmente envolvem competição entre árvores e outras plantas, além de interações entre desmatamento, fogo e limitação de sementes. Ou seja, as florestas secundárias teriam maior probabilidade de serem desmatadas do que as florestas maduras.

O que pode acontecer é que não necessariamente a Amazônia vá deixar de ser Floresta, mas terá áreas bem diferentes, com a diversidade menor, dominadas por uma ou poucas espécies que se auto perpetuam, como as florestas dominadas por lianas ou bambus, sintetiza Bernardo.

Os autores também indicam que, para manter a resiliência da floresta amazônica, é preciso combinar esforços locais e globais. Apontam, ainda, que, localmente, os países amazônicos precisam cooperar para acabar com o desmatamento e a degradação e para expandir a restauração, o que fortalecerá o feedback floresta-chuva. É necessário usar o princípio de precaução: como a gente não sabe o que pode acontecer e as consequências são desastrosas, a ideia do limiar é de nos manter longe do perigo.

Referência da notícia:

Flores, B.M., Montoya, E., Sakschewski, B. et al. Critical transitions in the Amazon forest system. Nature, 626, 555–564 (2024).