O gelo marinho está sendo crucial na aceleração do aquecimento global

Estudos recentes nas estalagmites ibéricas analisaram os processos de derretimento no planeta, e arquivos climáticos revelam alterações na salinidade do Atlântico Norte derivadas do derretimento de grandes mantos polares.

Estudos recentes sobre o derretimento de gelo no passado revelaram uma análise a respeito da velocidade de resposta dessas massas de gelo.

A intensidade e a taxa de degelo durante o penúltimo derretimento do gelo foram muitos maiores do que se pensava anteriormente. De acordo com estudos recentes, neste cenário de mudança climática, a instabilidade das camadas de gelo marinhas - aquelas que fluem diretamente para o oceano - foi fundamental para acelerar o aquecimento global.

Conhecer com precisão a velocidade do processo de derretimento de grandes massas de gelo polar é um dos grandes desafios científicos em relação às mudanças climáticas.

Este estudo baseia-se na análise de estalagmites das grutas da Cordilheira Cantábrica na Península Ibérica. Para estudar os processos de derretimento no planeta, até agora, apenas cronologias sólidas estavam disponíveis para a última deglaciação, um período climático que durou cerca de 9.000 anos.

Pesquisas apresentam agora o primeiro registo do degelo do penúltimo degelo com uma cronologia robusta e contrastada, e revela que este derretimento se concentrou ao longo de um período de cerca de 5.000 anos - de 135.000 a 130.000 anos antes do presente - introduzindo mudanças significativas nas cronologias que foram aceitas até agora.

Até o momento, esta penúltima deglaciação só foi bem datada em registros de cavernas de áreas tropicais, mas em nenhum caso eles conseguiram capturar o sinal de derretimento sobre o Atlântico Norte", diz Isabel Cacho, pesquisadora do ICREA Academia da UB.

Além disso, arquivos climáticos que revelam alterações na salinidade do Atlântico Norte derivadas do derretimento de grandes mantos polares, e além disso, fornecem informações sobre a evolução das temperaturas atmosféricas na região no passado.

A relação entre oceano, atmosfera e criosfera

A interação desses três elementos, cronologias sólidas, derretimento de gelo e indicadores de temperatura, é essencial para compreender os processos de interação oceano-atmosfera durante as fases de aquecimento global do planeta. Estes fatores permitem delinear um novo quadro cronológico que foi transferido para registros marinhos existentes, a fim de proporcionar uma nova perspectiva sobre a velocidade dos processos em ação durante o penúltimo degelo.

Derretimento de geleiras causada pelas correntes marinhas
As correntes marinhas favorecem derretimento da base dessas geleiras, deixando-as mais suscetíveis ao degelo

No estudo em questão, foi estabelecido um ponto de ancoragem na cronologia do início ao fim do derretimento, confirmando a hipótese mais aceita de que as mudanças na insolação controladas pelos movimentos orbitais da Terra, são gatilhos dessa grande mudança climática.

Pela primeira vez foi estabelecido uma cronologia robusta dos processos de feedback oceânico e atmosférico desencadeados por essa mudança inicial de insolação, uma mudança muito modesta em relação ao balanço energético da Terra.

Eles concluíram que a intensidade do aquecimento da última deglaciação não foi controlada pelas mudanças de insolação, mas sim por processos de interação climática entre oceano-atmosfera-criosfera ou a massa de gelo.

A fragilidade das camadas de gelo marinhas

Outro aspecto afetado pelo aumento da temperatura global, é a intensificação do derretimento de gelo, que por sua vez torna as geleiras mais finas. Os mantos de gelo presentes no mar, foram fundamentais para acelerar o processo de aquecimento da penúltima glaciação.

As correntes marinhas contribuem para o derretimento da base dessas geleiras, e à medida que essas estruturas se tornam mais fluidas e frágeis, acelera a taxa de progressão das geleiras, e o gelo é escoado diretamente no mar a uma taxa que não permite que a geleira se regenere.

Essa mudança na circulação foi decisiva na evolução do clima, pois afetou diretamente o ciclo do carbono oceânico com aumento dos níveis de carbono, e consequentemente do efeito estufa na atmosfera.

Hoje em dia, grande parte das geleiras da Groenlândia e da Antártida tem uma base marinha que mostra sinais de derretimento e desestabilização. A penúltima deglaciação é a única seguiu caminho para um período interglacial que foi mais quente do que o atual, cerca de 1,5°C mais quente do que as temperaturas pré-industriais.

Essas condições duraram séculos e causaram um derretimento superior do gelo nas regiões citadas acima, elevando o nível do mar em 6 metros acima dos níveis atuais. O cenário atual é muito preocupante, pois o planeta está enfrentando diversas consequências das mudanças climáticas, a mais rápida da história do nosso planeta.

Nessa perspectiva, as observações de climas passados, realizados pelo Centro Científico e Tecnologicos da Universidade de Barcelona, confirmam as projeções climáticas disponíveis, sendo necessários a implementação de medidas para conter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.

Para mais informações sobre o estudo "Rapid northern hemisphere ice sheet melting during the penultimate deglaciation", acesse a revista cientifica Nature.