Mais aerossóis na atmosfera poderiam controlar o aquecimento global?

Observações futuras precisarão ser feitas para quantificar o papel dos aerossóis. É verdade que a redução da poluição do ar está contribuindo para o aumento do aquecimento global? Entenda as relações científicas por trás desse paradoxo.

Paradoxo do aquecimento global
O ar limpo está aumentando o aquecimento global? Fonte: Science.

Estudos recentes apontam que a poluição do ar caiu 30% em relação a 2000 devido a influência climática. Essa descoberta traz inúmeros benefícios à saúde humana, mas não é igualmente benéfica para a questão do aquecimento global. De acordo com Johannes Quaas, em um estudo publicado em abril de 2022 na Atmospheric Chemistry and Physics, o ar limpo tende a aumentar o aquecimento total do dióxido de carbono. Joyce Penner, cientista atmosférica da Universidade de Michigan, afirma que a evidência apresentada neste estudo contribui para as mudanças climáticas vivenciadas nos dias de hoje.

Sabemos que a queima de combustíveis fósseis libera gases de efeito estufa que impulsionam as mudanças climáticas. Alguns aerossóis - formados a partir de gases poluentes - têm a capacidade de absorver o calor, enquanto outros refletem a luz solar, caracterizando um possível efeito de resfriamento.

Os satélites da NASA - Aqua e Terra - registram a radiação de entrada e saída, permitindo que pesquisadores rastreiam o aumento do calor infravermelho capturado pelos gases de efeito estufa. Adicionalmente, um instrumento nesses satélites indicou, também, um declínio na luz refletida. De acordo com o diretor do Laboratório Geofísico de Dinâmica dos Fluidos (GFDL) da National Oceanic and Atmospheric Administration, modelos sugerem que uma diminuição nos aerossóis pode ser parcialmente responsável por esse declínio.

Paradoxo do aquecimento global
Partículas na atmosfera superior desaceleram o aquecimento global. Fonte: NASA

Johannes Quaas e demais autores utilizaram dois instrumentos do Aqua e Terra que registram a nebulosidade do céu e, consequentemente, sua carga de aerossóis. De 2000 a 2019, a neblina sobre a América do Norte, Europa e Leste Asiático diminuiu, contrabalanceando o aumento sobre a Índia. Quando os aerossóis servem de núcleos nos quais o vapor d’água se condensa, as partículas de poluição reduzem o tamanho das gotículas das nuvens e aumentam seu número, tornando as nuvens mais refletivas.

Uma certeza apresentada em todos os registros são as evidências de um sistema climático influenciado pelo homem.

A redução da poluição deve desfazer esse efeito; e, usando os mesmos instrumentos, os autores encontraram uma diminuição nas concentrações de gotículas de nuvens nas mesmas regiões onde os aerossóis diminuíram. O quanto essa redução na refletividade impulsiona o aquecimento recente é difícil de quantificar, diz Stuart Jenkins, estudante de doutorado da Universidade de Oxford.

James Hansen, cientista climático aposentado da NASA, afirma que essa relação é um trabalho de detetive científico impressionante. Hansen acredita que esse tipo de estudo, utilizando satélite para medir diretamente os aerossóis globais, aumenta à medida que os pesquisadores procuram quantificar o aumento do aquecimento.

Mas então, a resposta seria continuar poluindo?

Claro que não! Jan Cermak, cientista de sensoriamento remoto do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, afirma que a poluição do ar mata as pessoas e que, obviamente, necessitamos de ar puro. Então, o que precisa ser feito é redobrar os esforços para reduzir a emissão dos gases de efeito estufa.

De acordo com James Hansen, os novos estudos devem testar a viabilização de se tomar uma medida corretiva temporária com a utilização estratégica, controlada e ajustada da criação de uma névoa refletiva de aerossóis. Esse uso “proposital” poderia evitar implicações catastróficas. Mas, por mais que os aerossóis exerçam algum tipo de influência de resfriamento que compensa parte do aquecimento dos gases de efeito estufa, é necessário ter cautela na tomada de decisão.