Figueiras ajudam a combater mudanças climáticas transformando CO₂ em pedra

Nova pesquisa revela que algumas espécies de figueira cristalizam carbono, mantendo-o fora da atmosfera por longos períodos. O fenômeno pode unir reflorestamento, segurança alimentar e ação climática.

Muito além dos frutos: figueiras cristalizam carbono e ajudam a combater as mudanças climáticas ao transformar CO₂ em pedra.
Muito além dos frutos: figueiras cristalizam carbono e ajudam a combater as mudanças climáticas ao transformar CO₂ em pedra. Crédito: Wikimedia Commons/Divulgação

É conhecido que as árvores absorvem dióxido de carbono (CO₂) e liberam oxigênio, contribuindo para a saúde do planeta. No entanto, um estudo recente revelou que algumas espécies de figueira vão além do papel tradicional de sumidouro de carbono. Essas árvores são capazes de transformar parte do CO₂ em pedra — um processo raro e promissor no combate às mudanças climáticas.

A pesquisa, liderada por Mike Rowley e publicada na revista New Scientist, identificou três espécies de figueiras com a capacidade de cristalizar carbono. Isso significa que, além de armazenar carbono em seus tecidos orgânicos, como a celulose, essas árvores também convertem parte do gás em uma substância sólida: o oxalato de cálcio.

Esse cristal é posteriormente processado por microrganismos do solo, que o transformam em carbonato de cálcio — o mesmo composto encontrado em rochas como calcário e giz. Quando o carbono assume essa forma mineral, ele pode permanecer no solo por séculos, mesmo após a morte da árvore.

Do tronco à raiz: carbono em profundidade

A equipe de pesquisadores utilizou um método simples, porém eficaz, para identificar a presença de compostos minerais nas figueiras. Aplicaram ácido clorídrico diluído nos troncos e raízes e observaram a formação de bolhas, o que indica a liberação de CO₂ a partir do carbonato de cálcio — evidência de que o composto estava presente.

Ao analisarem o solo ao redor das árvores, os cientistas ficaram surpresos com a quantidade de carbonato de cálcio encontrado em profundidades inesperadas. “Ainda estou meio atônito com o quanto o carbonato de cálcio penetrou profundamente na madeira”, afirmou Rowley. “Achei que seria um processo superficial.”

Além disso, os pesquisadores encontraram estruturas inteiras de raízes quase fossilizadas, evidência de que o carbono mineralizado pode se preservar por longos períodos, mesmo em condições ambientais adversas.

Benefícios duplos: alimento e clima

Embora o fenômeno da mineralização de carbono já tenha sido observado em outras espécies, como a árvore iroko da África tropical, as figueiras apresentam uma vantagem única: produzem frutos comestíveis. Isso abre caminho para projetos de reflorestamento que combinem segurança alimentar e mitigação climática.

Raízes que guardam o clima: figueiras armazenam carbono em forma de minerais, preservando-o no solo por séculos
Raízes que guardam o clima: figueiras armazenam carbono em forma de minerais, preservando-o no solo por séculos. Crédito. Freepik/Divulgação

A ideia é que essas árvores possam integrar futuras iniciativas de plantio, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, oferecendo benefícios ecológicos e econômicos. No entanto, ainda são necessários mais estudos para quantificar a real capacidade de sequestro de carbono dessas espécies e entender seu comportamento em diferentes climas e solos.

“Se conseguirmos incorporar figueiras em futuros projetos de reflorestamento, elas podem se tornar ao mesmo tempo fonte de alimento e sumidouro de carbono”, concluiu Rowley. A pesquisa representa um passo promissor para soluções baseadas na natureza diante da crise climática.

Referências da notícia

Superinteressante. As figueiras podem beneficiar o clima ao transformar CO2 em pedra. 2025