Descoberto no Marrocos o fóssil mais antigo de anquilossauro já registrado

Com impressionante armadura e espinhos desproporcionais, o fóssil de Spicomellus afer desafia as teorias atuais sobre a evolução dos anquilossauros, um grupo de dinossauros herbívoros blindados.

"Os espinhos do Spicomellus afer teriam se projetado através da pele resistente do espécime. Ilustração: Matt Dempsey."
Os espinhos do Spicomellus afer teriam se projetado através da pele resistente do espécime. Ilustração: Matt Dempsey.

Com corpo semelhante a um tanque de guerra, coberto por espinhos que lembram tacos de golfe, o Spicomellus afer poderia facilmente ser confundido com uma criatura fantástica. No entanto, este dinossauro incomum vagava pelas planícies alagadas do que hoje é o norte da África há cerca de 165 milhões de anos. A descoberta foi feita por paleontólogos próximo à cidade marroquina de Boulemane, revelando o fóssil de anquilossauro mais antigo já encontrado.

O Spicomellus afer pertencia ao grupo dos anquilossauros, dinossauros herbívoros conhecidos por sua pesada armadura corporal. O que torna esse fóssil especialmente intrigante é a extravagância de sua defesa natural, desafiando teorias anteriores sobre como esses animais evoluíram ao longo de milhões de anos. A armadura do espécime, incluindo um colar de espinhos ao redor do pescoço e protuberâncias ao longo das costelas, impressionou os pesquisadores.

“É um verdadeiro espetáculo de espinhos por todo o corpo”, disse o professor Richard Butler, da Universidade de Birmingham e co-líder do projeto. “O colar ao redor do pescoço é desproporcionalmente grande, algo nunca visto antes.”

Mistério anatômico e evolução precoce

Devido à singularidade da anatomia do Spicomellus, reconstruir o corpo do animal a partir do material fóssil foi um desafio. Os cientistas tiveram que organizar os ossos e placas de armadura em uma mesa, tentando deduzir onde cada peça se encaixava melhor.

"Pesquisadores investigam a armadura do espécime. Fotografia: Lucie Goodayle / Museu de História Natural de Londres."
Pesquisadores investigam a armadura do espécime. Crédito: Lucie Goodayle / Museu de História Natural de Londres.

Os anquilossauros viveram do período Jurássico médio até o final do Cretáceo, quando a queda de um asteroide extinguiu grande parte das espécies. Com corpos baixos, lentos e extremamente blindados, esses dinossauros se destacaram por sua longevidadeestiveram presentes por cerca de 100 milhões de anos. Segundo Butler, embora provavelmente fossem animais de cérebro pequeno, sua adaptação lhes garantiu sucesso evolutivo.

Com cerca de 4 metros de comprimento e pesando aproximadamente duas toneladas, o Spicomellus afer também apresentava indícios de possuir uma cauda com uma estrutura semelhante a um porrete. Essa arma, usada para defesa ou combate, mostra que tais adaptações evoluíram cerca de 30 milhões de anos antes do que se pensava.

Armadura exuberante: defesa ou exibição?

Enquanto os anquilossauros mais recentes possuíam armaduras funcionais para proteção contra predadores, os pesquisadores acreditam que a exuberância dos espinhos do Spicomellus pode ter tido outras funções. A hipótese mais aceita é que esses espinhos serviam para exibições de dominância ou atração de parceiros, devido à sua complexidade e tamanho exagerado.

“Quando se observa o colar de espinhos no pescoço, parece algo exagerado”, afirmou Butler. “É o tipo de característica que provavelmente complicava sua própria vida.”

Apesar da importância científica, a descoberta foi ofuscada por um problema recorrente: a extração e venda ilegal de fósseis. O fóssil do Spicomellus foi encontrado em uma área explorada por caçadores de fósseis. Segundo Butler, apenas cerca de metade do esqueleto está preservada no Departamento de Ciências da Faculdade Dhar El Mahraz, em Fez. Outros ossos, supostamente do mesmo espécime, foram colocados à venda online por até £10.000.

Tráfico de fósseis compromete ciência

Butler lamentou o tráfico de fósseis na região, um problema crescente em áreas ricas em achados paleontológicos, como o Marrocos. “Partes desse espécime já foram vendidas em mercados na Europa e América do Norte. Provavelmente, uma porção significativa foi parar nas mãos de colecionadores privados. É uma parte triste dessa descoberta”, concluiu.

A descoberta do Spicomellus afer não só amplia o entendimento sobre a evolução dos anquilossauros, como também chama a atenção para os desafios da preservação do patrimônio científico diante do comércio ilegal de fósseis.

Referências da notícia

The Guardian. ‘Bristling with spikes’: oldest known ankylosaur fossil found in Morocco. 2025