Descoberto ancestral dos mamíferos que viveu há 200 milhões de anos no Brasil

A descoberta se deu no interior do estado do Rio Grande do Sul. O animal em questão, um cinodonte, viveu onde hoje está localizado o epicentro das descobertas paleontológicas do estado.

Paratraversodon franciscaensis
Reconstrução artística do Paratraversodon franciscaensis. Crédito: Júlia D’Oliveira.

Paleontólogos encontraram no interior do Rio Grande do Sul, no Brasil, o fóssil de uma nova espécie ancestral dos mamíferos. O animal em questão é um cinodonte, datado entre 241 e 236 milhões de anos atrás.

A descoberta foi publicada recentemente em um artigo na revista científica The Anatomical Record. Veja mais informações aqui conosco!

A descoberta do fóssil

O crânio fóssil foi encontrado em 2009 pelos paleontólogos Lúcio Roberto da Silva e Sérgio Cabreira, no município de Dona Francisca, o epicentro das descobertas paleontológicas do estado do Rio Grande do Sul. Porém, o espécime ficou preservado em uma coleção científica até seu estudo, quinze anos depois, quando foi analisado pelo paleontólogo Leonardo Kerberd e sua equipe, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPPA) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

O crânio fóssil encontrado em Dona Francisca pertencia a um cinodonte, um elo evolutivo entre “répteis” e mamíferos, que habitou a região antes mesmo do surgimento dos dinossauros. Suas características únicas não se alinharam com nenhuma espécie conhecida de cinodonte.

Trata-se de um cinodonte, datado entre 241 milhões e 236 milhões (no Período Triássico), e as análises permitiram nomeá-lo como uma nova espécie: a Paratraversodon franciscaensis (P. franciscaensis), em homenagem ao local onde foi encontrado.

Características da nova espécie

Os pesquisadores fizeram tomografias do fóssil por meio de um microtomógrafo de alta resolução, possibilitando a identificação de estruturas invisíveis a olho nu, muito importantes para sua diferenciação de outros cinodontes. Foi possível ver, por exemplo, como era a parte interna do crânio, permitindo suposições parciais sobre seu cérebro e sua fisiologia.

"Com a tomografia computadorizada, conseguimos criar modelos tridimensionais das cavidades internas do crânio, e assim, reconstruir parcialmente a morfologia externa do cérebro desses animais. Assim, é possível realizar inferências sobre a fisiologia deles", disse Kerber, que é o autor principal do estudo.

crânio fóssil, Paratraversodon franciscaensis
Crânio fóssil do Paratraversodon franciscaensis. Foto: Divulgação/UFSM.

A identificação precisa da espécie foi uma tarefa desafiadora, que exigiu ainda comparações minuciosas com diversos fósseis de coleções científicas no Brasil, na Alemanha e na Inglaterra. Os resultados mostraram que o animal apresentava características únicas que não se alinhavam com nenhuma espécie conhecida de cinodonte.

Os pesquisadores acreditam que o P. franciscaensis era herbívoro, do grupo dos Traversodontidae, tinha cerca de 1 metro de comprimento e com uma fisiologia entre a dos mamíferos e répteis herbívoros. Era ectotérmico, isto é, tinha sangue frio, e não era coberto por pêlos, como as espécies mamíferas modernas costumam ser.

De fato, naquela época em que viveu (Período Triássico), a maioria dos animais possuía esse tipo de metabolismo de sangue frio, já que as temperaturas na Terra eram muito mais altas do que as atuais.

Vale destacar aqui que o cinodonte não é um dinossauro; ele é o antecessor dos mamíferos que existem atualmente, enquanto os dinossauros deram origem às aves. É como um "tataravô" dos mamíferos. "Dinossauros viveram durante toda a era mesozoica, que vai do período triássico ao cretáceo, passando ainda pelo período jurássico. Depois disso, todos os grandes dinossauros são extintos por um grande meteoro, e os únicos sobreviventes dão origem às aves. Quando os dinossauros foram extintos, começaram a prosperar os mamíferos, que vieram dos cinodontes", explicou Kerber.

Referência da notícia:

Kerber, L. et al. Skull anatomy and paleoneurology of a new traversodontid from the Middle-Late Triassic of Brazil. The Anatomical Record, 2024.