Chuvas de 2024 no Rio Grande do Sul provocaram o maior evento de deslizamentos de terra da história do Brasil
Mais de 15 mil deslizamentos atingiram 150 cidades gaúchas entre abril e maio de 2024, afetando milhões de pessoas e revelando vulnerabilidades críticas no uso do solo e na infraestrutura regional.

As fortes chuvas que caíram sobre o Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024 resultaram no maior evento de deslizamentos de terra já registrado no Brasil. Um estudo inédito, publicado na revista científica Landslides, revelou que 15.376 deslizamentos foram mapeados em 150 dos 497 municípios gaúchos. A pesquisa, coordenada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e realizada em parceria com instituições como o Instituto Federal de Goiás (IFG) e o Serviço Geológico do Brasil (SGB), traz dados alarmantes sobre os impactos e causas do fenômeno.
De acordo com os pesquisadores, os deslizamentos afetaram aproximadamente 30% das cidades do estado, e suas consequências foram amplas: quase 2,4 milhões de pessoas foram atingidas, mais de 600 mil ficaram desalojadas e 182 perderam a vida. O professor Clódis de Oliveira Andrades-Filho, do Instituto de Geociências da UFRGS e um dos autores do estudo, aponta que a magnitude do desastre está diretamente relacionada ao volume excepcional de chuvas no período, que se concentrou justamente nas regiões de encostas mais íngremes e vulneráveis.
Para compreender e mapear o fenômeno, a equipe de pesquisa organizou um extenso banco de imagens de satélite de alta resolução, analisando 474 registros feitos entre 4 de maio e 31 de agosto de 2024. O esforço resultou na identificação de 16.862 pontos de início de deslizamento, cobrindo uma área de cerca de 18 mil quilômetros quadrados.
Fatores agravantes e áreas mais vulneráveis
Os dados revelaram que os deslizamentos ocorreram, em sua maioria, em encostas voltadas para o norte, norte-nordeste e noroeste-norte. Essas regiões apresentavam cobertura vegetal mais esparsa e maior interferência humana — como desmatamentos, construções residenciais e cortes para estradas — fatores que comprometem a estabilidade do solo e aumentam o risco de deslizamentos.
Essas descobertas permitem não apenas entender melhor os padrões de ocorrência, mas também identificar os setores com maior vulnerabilidade geológica. “Essas características, juntamente com a declividade do terreno, permitem criar modelos preditivos e mapas de risco mais eficazes”, afirma Andrades-Filho. A ideia é que essas informações subsidiem a criação de políticas públicas mais eficazes de prevenção e resposta a desastres.
O estudo também mapeou 2.430 trechos de estradas afetados por deslizamentos. Em muitos casos, esses bloqueios provocaram o isolamento de comunidades rurais e cidades inteiras, além de causarem mortes, ferimentos e danos materiais significativos. Para os autores, incluir o risco geológico no planejamento de infraestrutura é essencial para evitar tragédias semelhantes no futuro.
Caminhos para prevenção e recuperação
Além de dimensionar a gravidade do evento, o estudo serve como base para estratégias de mitigação e recuperação em áreas atingidas. Segundo Andrades-Filho, os resultados do levantamento podem ser usados para orientar ações de capacitação de profissionais em gestão de riscos, especialmente com foco em geotecnologias e monitoramento.
O pesquisador também destaca o potencial do uso de inteligência artificial para aprimorar o mapeamento e o monitoramento de encostas. A aplicação de tecnologias avançadas pode tornar a prevenção mais eficiente, seja por meio da criação de rotas de evacuação, do monitoramento contínuo da estabilidade do solo, ou da comunicação de riscos adaptada às realidades de comunidades vulneráveis.
Os autores reforçam que o conhecimento produzido deve alimentar planos de educação ambiental e de fortalecimento da resiliência comunitária. Com base nas lições de 2024, o objetivo é preparar melhor a sociedade para enfrentar os impactos cada vez mais frequentes e severos das mudanças climáticas e dos eventos extremos no Brasil.
Referências da notícia
Agência Bori. Chuvas de 2024 no Rio Grande do Sul provocaram o maior evento de deslizamentos de terra no Brasil. 2025