Tempestade de inverno histórica assola os Estados Unidos

Nos últimos dias os Estados Unidos têm experimentado uma onda de frio sem precedentes, que levou neve a locais que não estão habituados com as temperaturas frias. Mas será que ondas de frio como essa são possíveis em um planeta mais quente?

Onda de frio Estados Unidos
Mais de 70% dos Estados Unidos ficaram cobertos por neve nessa segunda-feira devido a uma intensa onda de frio polar. Foto: Twitter/ The Weather Channel.

Uma poderosa tempestade de inverno vinda do Ártico, chamada de Tempestade Uri, atravessou o Canadá e foi avançando pela porção central dos Estados Unidos nesse final de semana, se amplificando e varrendo o país de costa a costa.

Mais de 150 milhões de pessoas estão atualmente sob alerta de tempestade de inverno em 25 estados dos Estados Unidos, numa faixa que se estende por mais de 3 mil quilômetros, desde o sul do estado do Texas até o norte de Maine.

De acordo com o Serviço Meteorológico Nacional dos EUA, mais de 70% do país estava coberto de neve na tarde de segunda-feira (15). Centenas de recordes de temperaturas já foram ou ainda serão quebrados durante essa imersão de ar polar no continente.

O estado de Minnesota, que é mais acostumado com o frio, pode ter registrado um novo recorde de temperatura baixa no dia 13 de fevereiro, de -45,5 ºC (-50°F), o recorde anterior era de -43°C (-46°F) estabelecido em 1916. Várias outras regiões no norte do estado também registraram temperaturas menores que -40°C.

Essa é uma das piores ondas de frio em 30 anos para o estado do Texas, estado acostumado com o clima quente e desértico. Na cidade de Houston, onde as temperaturas estavam na casa dos 20ºC na terça-feira passada, os termômetros chegaram a temperaturas de -5°C nesta segunda-feira, sendo que a temperatura média para o mês de fevereiro é da ordem de 10°C.

San Angelo, também no Texas, registrou um recorde diário de neve no domingo (14), quando foram acumulados um pouco mais de 25 centímetros de neve na cidade. O governador Greg Abbott emitiu uma declaração de desastre para todos os condados do estado na sexta-feira (12), quando as condições começaram a piorar.

Um grande acidente ocorreu na cidade texana de Fort Worth na quinta-feira (11), devido ao gelo na pista de uma rodovia. Pelo menos 133 veículos se envolveram no acidente, 6 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas.

O frio extremo levou ao colapso energético em vários estados. Nesta segunda-feira houve quedas de energia generalizadas, só no Texas mais de 3.5 milhões de clientes ficaram sem energia, o que prejudica o sistema de aquecimento das residências.

A tempestade deve continuar seguindo em marcha lenta nessa terça, levando neve e chuva congelante para os estados do nordeste do país, deixando ainda muito frio na porção central. Mesmo nos estados que não devem ter suas temperaturas muito afetadas, como Flórida e Georgia, a tempestade causará condições de tempo severo, com chuvas fortes e tempestades.

Para piorar a situação, uma segunda tempestade de inverno já está a caminho, a Tempestade Viola. O noroeste do país já foi atingido por Viola nessa segunda! No estado de Oregon, mais de 330 000 casas e estabelecimentos ficaram sem energia na segunda e as previsões indicam que ela levará mais neve e gelo para partes do sul, centro-oeste e leste do país no final dessa semana.

Ondas de frio como essa negam o aquecimento global?

Durante episódios de frio extremo é comum surgirem questionamentos do tipo “Onde está o aquecimento global agora?”, “Se o planeta está aquecendo, como pode ocorrer ondas de frio tão extremas?”.

O aquecimento global leva a um aumento da ocorrência de eventos extremos climáticos. Com isso, ondas de frio extremas são possíveis de ocorrer em um planeta mais aquecido.

Primeiramente temos que entender os conceitos de ‘tempo’ e ‘clima’, onde o primeiro refere-se as condições atmosféricas que ‘se tem’ em determinado momento e local enquanto o segundo seria ‘o que se espera’, um retrato geral das condições atmosféricas esperadas para determinado local após ser realizada uma média de um longo período de anos (30 anos, pelo menos). Portanto, variações abruptas do tempo não necessariamente caracterizam a variação climática de uma região.

Além disso, quando falamos de mudanças climáticas ou aquecimento global nos referimos ao planeta como um todo, vinda de uma análise da evolução da temperatura média global de centenas de anos.

Esse aquecimento da temperatura global acaba injetando uma energia a mais na atmosfera que, em busca de equilíbrio, acaba alterando seus padrões de circulação global. Um dos padrões alterados são as correntes de jatos em altos níveis, e a ondulação dessas correntes de jatos são as responsáveis por ocasionar as ondas de calor e de frio.

No caso das ondas de frios ocorridas na Europa e Estados Unidos, uma grande amplificação e rompimento da corrente de jato foi a responsável, associada a um enfraquecimento do vórtice polar do Ártico. Dessa forma, ondas de frio como essa são esperadas em um planeta mais aquecido, já que o aquecimento global leva a um aumento de extremos, que podem ser de sinais opostos (calor e frio, seca e chuvas em excesso, por exemplo).