O desmatamento no Cerrado pode superar 2023 e chegar a 12 mil km². O problema não consiste somente em desmate ilegal!

O desmatamento é visto como algo ilegal, mas nem sempre é. O problema maior é que não para de aumentar e uma área de 12mil km² pode ser perdida em 2024, o que supera 2023.

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Fronteira entre desmatamento e Cerrado no oeste da Bahia. Foto: Rafael Coelho/IPAM

Nem sempre o desmatamento é proveniente de uma ação ilegal, mas de toda forma, o número crescente de área perdida em biomas importantes no Brasil como o Cerrado tem transformado isso em um verdadeiro caos, já que cada metro quadrado desmatado representa também uma perda de biodiversidade.

O desmatamento no Cerrado pode atingir uma métrica em 2024 que vai superar o desmate de 2023, que foi considerado um ano com maior taxa de desmatamento desde 2015. Para se ter uma ideia, o que foi desmatado somente no Cerrado no ano passado foi equivalente a sete vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

A estimativa mostra que se o ritmo não desacelerar e medidas não forem tomadas, o desmatamento no Cerrado vai chegar a 12mil km² em 2024, e o problema não consiste apenas no controle de desmate ilegal.

Claro que o desmate ilegal ainda é um dos temas mais abordados e discutidos pelos órgãos responsáveis, porém, esse alerta sobre um crescente desmatamento nos últimos anos, em especial em 2024, serve também para áreas que são desapropriadas e desmatadas de forma legal, ou seja, com autorização para que a mata seja derrubada.

Cerrado em alerta para desmatamento legal

Na última quarta-feira (06) foi divulgada uma estimativa sobre o número total de área que pode ser perdida através de desmate no Cerrado, e a maior preocupação ficou em cima de uma área que ainda nem foi derrubada, mas que tem autorização para que isso aconteça.

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Fotos aéreas (drone) de plantações de soja no alto da Chapada Gaúcha, MG, no limite do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Foto: Lalo de Almeida/Folhapress

Pois é, os estados que compõe o bioma ainda tem uma autorização de 50% de desmatamento ainda não executado, ou seja, “só derrubaram metade do que foi permitido inicialmente, ainda tem a outra parcela”.

De acordo com o secretário André Lima, da Secretaria Extraordinária de Controle dos Desmatamentos e Ordenamento Ambiental e Territorial do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o problema não consiste apenas sobre desmates ilegais, visto que nos estados que mais destroem o Cerrado, sendo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, conhecidos como MATOPIBA, a principal fronteira agrícola do país, o número de autorizações para realizar desmatamento já emitidas, mas ainda não realizadas, é bem alto.

No Piauí e na Bahia, essa taxa de autorização de desmate ainda não executada chega a 50%. Mas se o problema só aumenta, por que ainda tem autorizações para aumentar a área desmatada? Isso porque essas autorizações foram emitidas entre os anos de 2020 e 2023 e o prazo para execução é de dois anos, que ainda podem ser prorrogados por mais dois anos.

Precisamos resolver isso, não dá para ficar como está. Este é um grande desafio que precisamos enfrentar. Precisamos de um sistema de informação efetivo, de transparência, de integração de dados, diz Lima.

O secretário ainda completou que outro problema que precisa ser debatido e resolvido é a validação dos Cadastros Ambientais Rurais (CAR), isso porque de todo o desmatamento registrado no ano passado, cerca de 94% aconteceu dentro de áreas cadastradas no CAR e isso não era para acontecer. A pergunta que Lima deixou é a seguinte: “como os governos estaduais dão uma autorização de desmate em uma área sem ter o CAR analisado, sem saber se é sobre APP ou reserva legal?"

Os gases de efeito estufa

Não só no Cerrado como em outros biomas no Brasil e no mundo, a maior importância em combater esses desmatamentos desenfreados é impedir também uma emissão exacerbada de gases de efeito estufa, isso é essencial caso o país queira manter sua meta climática para não abastecer um aquecimento global.

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Efeitos que muitas vezes não vemos: uma floresta que derrubamos aqui pode gerar o derretimento de geleiras em outro lugar do planeta, mas vivemos todos nele.

Foram lançados na atmosfera mais de 105 milhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) no período entre agosto de 2022 e junho de 2023, o que claro, compromete e muitos os esforços conseguidos com a redução do desmatamento da Amazônia. Ou seja, não basta proteger apenas um bioma, todos são imprescindíveis nessa batalha contra o aquecimento do planeta.

Lima diz que com o aumento do desmatamento no Cerrado, uma parte bastante expressiva dessa redução do carbono conseguida na Amazônia, acaba sendo anulada, ou seja, proteger apenas um bioma não resolve nada.

Com o intuito de controlar esse crescente problema, existe uma execução sendo feita do Plano de Controle do Desmatamento no Cerrado (PPCerrado), e além disso, o governo propôs algumas mudanças legais que foram atualizadas e podem ser consultadas na Resolução Conama 379/2006, que trata da regulamentação de dados e de informações do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama).

Referência do artigo: (o) eco: Desmatamento no Cerrado vai chegar a 12mil km², caso ritmo se mantenha