Nova Zelândia: ciclone Gabrielle provoca desastre natural sem precedentes

O ciclone Gabrielle provocou rajadas de vento e chuvas recorde que provocaram inundações e paralisação do transporte aéreo, marítimo e ferroviário. Os meteorologistas afirmam que este evento é incomum para esta época do ano!

Ciclone Gabrielle
Ciclone Gabrielle deixa inúmeras famílias ilhadas e sem energia elétrica. Os ventos chegaram a 140 km/h na última terça-feira (14).

A Nova Zelândia declarou estado de emergência nacional nesta terça-feira (14), quando o ciclone Gabrielle atingiu a Ilha Norte com fortes ventos e chuva, derrubando a energia de dezenas de milhares de casas.

Foram registradas rajadas de vento de mais de 140 km/h ao longo da costa, com ondas de 11 metros de altura na Baía das Ilhas.

As autoridades informaram que 2.500 pessoas tiveram que ser deslocadas de suas casas depois que os rios transbordaram, e os moradores tiveram que ser resgatados pelo telhado de suas residências. Grande parte da área atingida ficou sem energia elétrica e a queda de árvores causou bloqueio de estradas, além de destruir diversas casas na região.

Durante a noite, 150 membros da Força de Defesa da Nova Zelândia uniram esforços para distribuir suprimentos e evacuar moradores de áreas onde o aumento da água forçou alguns proprietários a subir nos telhados. A eletricidade acabou para dezenas de milhares de residentes, e o serviço de celular é irregular em algumas áreas.

Considerada a mais populosa da nação oceânica, a Ilha do Norte sofreu os estragos violentos pelo evento meteorológico, cujas cheias isolaram várias localidades e obrigaram dezenas de pessoas a refugiar-se nos telhados de edifícios.

A Air New Zealand cancelou todos os voos domésticos no Aeroporto de Auckland – cerca de 55 – pelo restante da terça-feira devido aos fortes ventos.

O aeroporto de Napier, um centro regional mais ao sul, recebeu três vezes mais chuva do que a média de fevereiro - e registrou seu segundo dia mais chuvoso de todos os tempos, com 175 milímetros de chuva nas 24 horas até as 9h da manhã, horário local, na terça-feira, informou o Met Service.

Evento atípico para esta época do ano

Os meteorologistas sabiam desde o início que o ciclone Gabrielle seria sério, levando o prefeito de Auckland, Wayne Brown, a estender preventivamente um estado de emergência já em vigor para lidar com as chuvas recordes do mês anterior e as inundações posteriores.

Ciclone Gabrielle
Oficiais da Marinha resgataram um marinheiro encalhado cujo barco foi arrastado para o mar. Fonte: Força de Defesa da Nova Zelândia.

Os ciclones tropicais se alimentam da energia fornecida pelas águas quentes do oceano, observando que os verões recentes viram águas excepcionalmente quentes no Mar da Tasmânia .

Todo verão, Northland e Auckland estão geralmente à beira da seca, principalmente nos últimos três anos. Mas este verão está sendo diferente, disse o Dr. Dáithí Stone, cientista climática do Instituto Nacional de Água e Pesquisa Atmosférica (NIWA).

Esta água quente é, em partes, resultado das águas quentes de La Niña que abrangem o Pacifico tropical ocidental e algumas atividades oceânicas locais que acontecem no Mar da Tasmânia. Além desses fatores, as mudanças climáticas também interferem na dinâmica oceânica.

O ciclone Gabrielle é considerado o mais intenso no século na região da Nova Zelândia, provocando um desastre natural sem precedentes no país, segundo o primeiro-ministro, Chris Hipkins.

La Niña é um fenômeno atmosférico que geralmente acontece a cada poucos anos, quando os ventos sopram águas quentes da superfície do Oceano Pacífico oriental em direção à Indonésia. Na Nova Zelândia, o resultado são "condições úmidas e chuvosas" no norte e leste do país e temperaturas do mar e do ar mais quentes do que a média.

Será que vem mais ciclones nesta temporada?

Os fatores climáticos de grande escala aumentaram os riscos de ocorrência de ciclone neste verão, e além disso, as previsões sazonais apontavam para chances elevadas de múltiplos ciclones tropicais ocorrerem nesta região do Pacífico já em outubro.

À medida que o ciclone Gabrielle se dissipa sobre a Nova Zelândia, a temperatura da superfície do oceano diminui como consequência da energia sendo absorvida e da mistura das águas superficiais com as águas mais profundas e frias.

Assim que o ciclone se afastar, devemos ver as temperaturas da superfície do oceano subirem novamente. Isso significa que temos as pré-condições necessárias para a geração de novas tempestades no Mar de Coral e seu impacto na Nova Zelândia, pelo menos até abril-maio, disse Souza, diretor do Projeto Moana.