El Niño e Índico: um ano mais quente e irregular de chuvas no Brasil

Novas projeções climáticas indicam que a La Niña está prestes a acabar e muito provavelmente teremos um El Niño no segundo semestre de 2023! Além do El Niño, a fase positiva do Dipolo do Oceano Índico também estará presente.

El Niño 2023
No segundo semestre de 2023 o El Niño, fase positiva do El Niño-Oscilação Sul (ENOS), poderá retornar!

Novas atualizações nas projeções dos modelos climáticos dos principais centros internacionais indicam que a La Niña está cada vez mais perto de seu fim e as chances de termos uma virada para El Niño no segundo semestre deste ano aumentaram! Isso quer dizer que enquanto vivenciamos os efeitos da La Niña neste verão, no próximo possivelmente vamos vivenciar condições climáticas opostas, geradas pelo El Niño.

Aumentou para pouco mais de 60% a chance de El Niño durante a primavera austral de 2023!

Lembrando que El Niño e La Niña são as duas fases do El Niño-Oscilação Sul (ENOS). A La Niña é a fase negativa do ENOS, caracterizada por temperaturas mais frias que o normal sobre o Pacífico Tropical e um fortalecimento da célula de circulação atmosférica zonal dos trópicos, a Célula de Walker. Já o El Niño é a fase positiva do ENOS, caracterizado por temperaturas mais quentes que o normal sobre o Pacífico Tropical e um enfraquecimento da Célula de Walker. Devido às diferentes alterações que essas duas fases geram na circulação atmosférica, são diferentes os padrões de teleconexões gerados por cada fase (as famosas ondas atmosféricas) e diferentes são os impactos causados.

A última atualização da previsão do ENOS divulgada no começo de fevereiro indica que a probabilidade de entrarmos na chamada fase neutra do ENOS - nem El Niño e nem La Niña - é de 85% entre os meses de fevereiro e abril, e essa probabilidade aumenta para 90% nos meses de outono (março a maio). Essa alta probabilidade de transição para fase neutra nos próximos meses se dá pelo fato das águas mais frias que caracterizam a La Niña já estarem perdendo força nas últimas semanas, com a presença de águas mais quentes nas profundidades do oceano Pacífico.

Depois do outono, a probabilidade de El Niño começa a aumentar, superando a probabilidade de fase neutra a partir do trimestre de julho a setembro, final de inverno e início da primavera no Hemisfério Sul. No trimestre de primavera - setembro, outubro e novembro - a probabilidade de El Niño chega a 60%!

Se as previsões se concretizarem, teremos o início do próximo período chuvoso no Brasil influenciado pelo El Niño, com maiores impactos no verão de 2023/24! Geralmente durante o El Niño vemos condições opostas àquelas registradas durante a La Niña no Brasil: chuvas acima da média no Sul e condições mais secas que o normal nas regiões Norte e Nordeste. Além disso, durante o El Niño esperamos temperaturas mais elevadas que o normal pelo país.

De forma simplificada, durante o El Niño temos mais chuvas no sul e menos chuvas no norte do Brasil, enquanto na La Niña observamos condições opostas.

Um ponto importante para se lembrar é que as previsões feitas no outono austral possuem menor acurácia do que em outros períodos do ano, por se tratar de um período de transição do ENOS, portanto ainda deve-se ter cautela ao interpretá-las. Além disso, algumas previsões de modelos ainda mostram resultados um pouco discordantes, indicando ainda um grande leque de possibilidades.

E o Dipolo do Oceano Índico?

Outro padrão de variabilidade climática poderá aparecer antes do El Niño neste ano e também modular o clima em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, já no início da primavera de 2023: a fase positiva do Dipolo do Oceano Índico!

O Dipolo do Oceano Índico (DOI) é caracterizado por um padrão de anomalias opostas de temperatura da superfície do mar (TSM) entre a porção oeste e leste do Índico Tropical. Durante a fase positiva observa-se um predomínio de anomalias positivas de TSM na porção oeste, próximo a costa da África, e anomalias negativas próxima a Indonésia e norte da Austrália, enquanto que na fase negativa observamos o oposto.

Composições de anomalias de chuva e vento durante fase positiva do Dipolo do Oceano Índico combinada a fase neutra do ENOS (à esquerda) e a fase positiva do ENOS, El Niño (à direita), no trimestre de primavera. Fonte: Ciências Atmosféricas - UNIFEI.

Esses dipolos de anomalias de TSM alteram toda a célula de circulação atmosférica tropical sobre o Índico, o que por sua vez gera perturbações nos altos níveis da atmosfera e trens de ondas que viajam milhares de quilômetros pelo mundo, alterando o clima em diferentes regiões. Assim como o El Niño!

Muitos modelos apontam que entraremos na fase positiva do DOI no final do inverno austral. Se as previsões estiverem corretas, podemos esperar uma primavera sob influência do DOI positivo, o que para o Brasil significa que teremos chuvas mais irregulares no centro-norte do país, e chuvas mais volumosas no extremos sul do país, no caso do ENOS ainda estar numa fase neutra. Se acontecer do El Niño também estiver ativo na primavera, junto ao DOI positivo, aí o cenário muda: as chuvas volumosas passam a ocorrer em toda a região sul e as condições mais secas ficam restritas ao Nordeste e Norte.