Inverno Europeu: do frio ao calor extremo

Duas semanas após uma forte onda de frio histórica congelar partes da Europa, agora grande parte do continente europeu está experimentando uma primavera antecipada, com as temperaturas chegando aos 20°C, quebrando recordes de temperaturas máximas!

Calor Europa
O campo de anomalia da temperatura próximo a superfície dessa quinta-feira (25) ilustra a onda de calor que atua agora sobre a Europa e o frio sobre a Rússia. Fonte: Climate Reanalyzer.

Fevereiro tem sido um mês de extremos de temperatura na Europa. Nas primeiras duas semanas uma forte tempestade de inverno atingiu o continente, levando muito frio e neve a diversos países. As nevascas chegaram até mesmo a Grécia e Turquia! Diversos recordes de temperaturas foram quebrados, com muitos locais registrando temperaturas negativas, algumas menores que -20°C!

A realidade agora é completamente oposta, o frio extremo deu lugar a temperaturas quentes, bem acima do normal para essa época do ano. A cidade de Göttingen na Alemanha, por exemplo, registrou a temperatura de -23.8°C no dia 14 e nesse domingo (21) registrou a temperatura de 18.1°C. Uma diferença de 41.9°C em apenas uma semana!

Mas essa drástica mudança de temperatura não ficou restrita a Alemanha, quase toda Europa experimentou temperaturas bem acima da média, como França, Holanda, Alemanha, Dinamarca, Itália, Croácia, Polônia e Áustria.

Muitos desses países viram seus termômetros baterem recordes diários e mensais, beirando ou até mesmo ultrapassando os 20°C, quando a temperatura esperada seria abaixo de 10°C. Como foi o caso de Hamburgo, na Alemanha, que registrou uma temperatura de 21.1°C nessa segunda (22), a temperatura diária mais quente já registrada num inverno, quando a média para essa época do ano é de 4°C.

Essa onda de calor fez com que a camada de neve que havia coberto grande parte da Europa central desaparecesse em questão de dias, conforme pode ser observado nas imagens de satélite.

Essa drástica mudança ocorreu após o deslocamento para leste do amplo cavado, que carrega a massa de ar polar, dando lugar a uma ampla crista que leva ao continente ventos de sul, que carregam ar quente vindo dos trópicos.

Com o deslocamento para leste do cavado, foi a vez da Rússia experimentar uma queda drástica das temperaturas, acompanhadas de muita neve. Diversas cidades russas quebraram recordes de temperaturas baixas, como Koygorodok que registrou -42.6°C, batendo o recorde de -42.2°C estabelecido em 1963.

O que está por trás desses extremos?

O padrão responsável por essa onda de calor em pleno inverno europeu é o mesmo que ocasionou o frio extremo na América do Norte e na Europa a algumas semanas atrás: a oscilação dos jatos de altos níveis associada a intensidade do vórtice polar.

Como já mencionado em artigos anteriores, as ondulações dos jatos de altos níveis em ambos os hemisférios, chamados de cavados e cristas, são responsáveis pela troca de massas de ar nas latitudes médias, ora propiciando a entrada de ar mais quente vinda dos trópicos (cristas) e ora a entrada de ar mais frio vindo dos pólos (cavados). A intensidade e a forma com que essas massas de ar avançam dependem diretamente da intensidade dos jatos.

No início desse ano um forte aquecimento na estratosfera sobre o Ártico enfraqueceu o vórtice polar o que acarretou num enfraquecimento dos jatos de altos níveis. Quando os jatos ficam mais fracos suas oscilações ficam mais amplas, gerando grandes cavados e cristas. Esses cavados amplificados estão associados a um grande avanço de ar polar para as latitudes médias, enquanto as cristas propiciam a entrada de ar mais quente.

Por tanto, esses extremos vividos pela Europa estão associados as grandes ondulações dos jatos de altos níveis no Hemisfério Norte que estiveram mais fracos nos últimos meses devido ao enfraquecimento do vórtice polar. Essas condições devem mudar nas próximas semanas já que as observações mais recentes e as previsões indicam que o vórtice polar deve ganhar força, então com isso espera-se que os jatos também se fortaleçam e retornem a normalidade.