Cenário hídrico brasileiro cada vez mais preocupante

O Brasil está vivendo uma verdadeira “tempestade perfeita”, com as graves marcas deixadas pela pandemia da COVID-19 somadas a pior crise hidrológica em 91 anos! A estiagem tem ameaçado o abastecimento de água e energia nas principais regiões do Brasil!

Crise hídrica
A estiagem fez com que grandes rios do Brasil secassem quase por completo em alguns trechos, como o caso do Rio Paraná. Imagem: Getty Images via BBC.

A falta de chuvas tem agravado cada vez mais a situação brasileira, já muito abalada pela pandemia da COVID-19. A estiagem vivida por grande parte do Centro-Sul do país tem prejudicado a produção agrícola, os preços dos alimentos para os brasileiros, a geração de energia elétrica, o número de queimadas (piorando a qualidade do ar), o transporte de mercadorias e o abastecimento de água.

O aparente retorno das chuvas observado nos últimos dias pode até trazer um breve alívio, porém ainda estamos bem longe de uma situação confortável. Os vários meses de chuvas abaixo da média deixaram marcas profundas que demorarão a serem sanadas.

Abastecimento de água

O rodízio e racionamento no abastecimento de água já é uma realidade em diversas cidades das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. No Paraná a situação é de emergência hídrica, mais de 20 cidades, incluindo a capital Curitiba já estão sob um regime de rodízio de abastecimento de água, de 36 horas com água e outras 36 sem fornecimento.

A situação dos principais reservatórios que abastecem a Grande São Paulo está pior que a registrada no mesmo período em 2013!

No estado de São Paulo diversas cidades, do interior principalmente, também estão sob restrições e racionamento devido aos níveis extremamente baixos dos mananciais. A cidade de Valinhos chegou a decretar na última sexta-feira (24) estado de calamidade hídrica pelo período de 60 dias.

O principal sistema que abastece a região metropolitana de São Paulo, o Sistema Cantareira, está com apenas 31% de sua capacidade, valor que coloca em alerta o abastecimento da região. Imagem: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO.

De acordo com os dados da SABESP, hoje, 4 dos 7 reservatórios que abastecem a Grande São Paulo estão operando com níveis menores que a metade de sua capacidade, dois deles em estado de alerta, com níveis abaixo de 40%, os sistemas Rio Claro e Cantareira. A situação pior é no Sistema Cantareira, o maior e principal, que está com volume de 31,2%.

Geração de energia elétrica

No contexto geral do Sistema Interligado Nacional (SIN), o período de maio de 2021 até setembro de 2021 configura a pior condição hidrológica observada desde o início do histórico em 1930!

65% da capacidade de geração de energia do Brasil vem das usinas hidrelétricas. Portanto, a estiagem representa uma grande ameaça ao abastecimento de energia do país.

A situação é especialmente grave no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% do fornecimento de energia do país, onde o nível de armazenamento chegou a 17,11% nesse mês, o pior resultado já registrado para setembro.

Valores de armazenamento de cada subsistema do Sistema Interligado Nacional (SIN) de 2010 a 2021 para o mês de setembro. Fonte dos dados: ONS.

Importantes reservatórios desse subsistema se encontram em situação crítica, que comprometem o funcionamento das usinas, como Marimbondo com 7,70%, Nova Ponte com 10,50% e Furnas, no sul de Minas, que opera com o nível mais baixo para setembro dos últimos 20 anos, com apenas 14,27% do seu volume útil. Além dessas, Três Irmãos e Ilha Solteira, apresentam 0% do seu volume útil, o que significa que o volume de água já atingiu a cota mínima para utilização da hidrovia Tietê-Paraná, onde o transporte de cargas foi suspenso.

Segundo Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os meses de outubro e novembro serão cruciais e críticos, pois esse é o período em que os reservatórios atingem seu menor volume de armazenamento e a demanda de energia começa a aumentar no país.