Fevereiro: continuidade do período úmido e uma esperança para o Sul

O início de 2022 vem sendo marcado por chuvas em boa parte do país, inclusive na Região Sul. Será que em fevereiro haverá a continuidade desse padrão? Mesmo com o La Niña há chances de a Região Sul receber boas chuvas? Saiba aqui.

clima fevereiro
Fevereiro com a manutenção das chuvas expressivas, sem onda de calor e uma esperança para a Região Sul.

O período úmido de 2021/2022 vem sendo caracterizado por chuvas expressivas no centro-norte do país, representando bastante a influência do fenômeno La Niña. Aliado a um Oceano Atlântico Sul mais aquecido na sua metade norte, a precipitação também ocorreu em boa parte do Sudeste.

Esse padrão mudou quando na segunda quinzena de janeiro um bloqueio atmosférico se estabeleceu, proporcionando um evento de onda de calor histórico e também uma mudança de padrão interessante com o aumento da umidade na Região Sul e pancadas isoladas.

Mesmo com o fenômeno La Niña presente, essa tendência de migração da precipitação para o centro-sul do país é esperada para o mês de fevereiro, o que pode aliviar bastante as condições hidrológicas da Região Sul. Mas porquê isso agora? Qual ou quais os fatores climáticos responsáveis por essa mudança?

Principais fatores climáticos para fevereiro

O primeiro que dispensa apresentações é o fenômeno La Niña, que como já foi escrito, vem influenciando o clima desde novembro. No entanto, os que serão determinantes no curto e médio prazo são a Oscilação Antártica (AAO), ou Modo Anular Sul (SAM), e a Oscilação de Madden-Julian (MJO).

SAM AAO
Condição registrada e projeção do Modo Anular Sul (SAM).

A SAM ao longo do mês apresenta variações próximas da neutralidade e com um tendência negativa, que podem atingir valores negativos do índice a partir da segunda quinzena. Esse comportamento proporciona em primeiro momento uma manutenção da passagem de sistema transientes de precipitação, o que favorece a manutenção das chuvas entre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A partir da segunda quinzena, se de fato o índice passar a atuar em patamares negativos, há um aumento desses sistemas na Região Sul, bem como a passagem de massas de ar mais frias, ou seja, a probabilidade é muito baixa para um evento de onda de calor.

Ao analisar a MJO, nos próximos 15 e 20 dias o índice deve atuar nas fases 3 e 4, que correspondem aos períodos de supressão de chuvas no Nordeste e na metade norte do Sudeste e mais favoráveis entre a Região Sul e o restante do Sudeste, seguindo para neutralidade no restante do mês.

MJO
Diagrama de fases: condição registrada e projeção da Oscilação de Madden-Julian (MJO).

Assim, em combinação com a AAO, espera-se que a precipitação se concentre em boa parte do centro-sul desde a Região Sul até o sul de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, com maiores taxas entre a metade norte do Sul e o sul mineiro. Na segunda quinzena do mês, principalmente na última semana, as chuvas devem ser mais expressivas na Região Sul, mas também voltando a ocorrer entre o norte do Sudeste e a Região Nordeste.

Anomalias de precipitação semanais do modelo ECMWF

Aqui vamos apresentar as anomalias de precipitação semanais da última atualização do modelo ECMWF do dia 31/01.

Na primeira quinzena de fevereiro (mapas superiores) as anomalias de precipitação positivas mais expressivas localizam-se no norte do Paraná, no estado de São Paulo, no centro-sul e oeste de Minas Gerais e na metade sul da Região Centro-Oeste, padrão este que está coerente com o que é mostrado pelos fatores climáticos. Além disso, não se descarta a formação de mais Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e para eventos extremos de precipitação.

ECMWF
Projeção do modelo ECMWF de anomalias de precipitação semanais para o mês de fevereiro.

Para a segunda metade do mês (mapas inferiores), não há anomalias negativas tão destacadas e nota-se uma boa distribuição da precipitação, com possíveis eventos expressivos nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o que também coincide com a influência dos fatores climáticos, ainda mais se a MJO mantiver a fase 3 ou 4 até a terceira semana, potencializando a precipitação na Região Sul.

Também sobre este padrão, não há probabilidade para outro evento de onda de calor, além disso, as temperaturas devem se comportar em patamares mais amenos. Além disso, voltando à precipitação, o que chama a atenção é a condição mais favorável da Região Sul, que pode representar o início de uma recuperação.