Região Norte vive uma das piores secas de sua história: cerca de 500 mil pessoas serão prejudicadas

Enquanto a população do extremo sul do Brasil sofre com as chuvas excessivas e as cheias de seus rios, a população ribeirinha do Norte vive situação oposta: seus rios estão secos, prejudicando o abastecimento e a locomoção da população.

Seca na região Norte
Diversas cidades da região Norte estão sendo prejudicadas pela seca de seus rios, como é o caso de Tefé (AM), onde o rio Solimões está muito baixo. Foto: Defesa Civil.

Diversas partes da região Norte do Brasil estão observando seus rios ficarem cada vez mais secos, com muitos já tendo seus leitos expostos pela seca. Nos últimos meses a região recebeu menos chuva que o normal, o que reflete nos atuais níveis dos rios, que também estão com níveis bem abaixo do esperado.

Os rios da região Norte apresentam uma oscilação sazonal em relação aos seus níveis, tendo seu período de cheia e de seca, sempre acompanhando o regime de chuvas na região. Geralmente os rios da Amazônia aumentam de nível entre os meses de dezembro a maio, e diminuem entre os meses de junho a novembro, num ciclo natural. Por isso, durante os meses de primavera, são registrados os menores valores anuais.

Porém, quando temos padrões de variabilidade climática atuantes, que são capazes de alterar o regime de chuvas da região, consequentemente temos uma alteração desses ciclos dos rios, que agravam os episódios de cheias e secas. No momento, temos uma poderosa combinação de padrões climáticos que prejudica as chuvas na região Norte: um El Niño e um Atlântico Tropical Norte mais quente que o normal. Essa combinação já esteve associada a outros episódios de secas intensas na região Norte, como a de 2010.

Grandes rios da região, como os rios Solimões, Amazonas e Madeira, estão com níveis muito baixos e continuam diminuindo de forma muito rápida, o que tem dificultado a vida de ribeirinhos e produtores, já que os rios são as principais vias de transporte na região, além de abastecer a população e as plantações.

Devido a severidade da situação, o governo federal fará uma reunião emergencial hoje com os governadores do Amazonas e Rondônia para discutir estratégias para o enfrentamento da estiagem. Segundo o governo, essa seca incomum na região pode reduzir a capacidade de transporte hidroviário em até 40% em 2 semanas e até 50% até outubro.

Quais os estados da região Norte mais afetados pela seca?

Quase todos os municípios do estado do Amazonas estão sofrendo com os efeitos da seca de seus rios, já são cerca de 100 mil pessoas prejudicadas pelas secas no estado. São 59, das 62 cidades amazonenses, as cidades afetadas pela seca, das quais 13 decretaram estado de emergência. Na cidade de Atalaia do Norte, o rio secou de modo que não é mais possível captar água para o abastecimento, com isso, mais de 5 mil pessoas estão sem acesso à água potável.

Nunca vimos algo assim. É a pior seca da história - governador do estado do Amazonas, Wilson Lima.

A região do Alto Solimões já está enfrentando a segunda pior seca em 13 anos. Benjamin Constant , uma das cidades em situação de emergência, as navegações maiores já não conseguem passar pelo rio, apenas embarcações pequenas, que atravessam com dificuldade, e mesmo estas têm que diminuir sua carga para conseguir navegar, algo tem tem tido um impacto negativo no abastecimento de alimentos e suprimentos para essas comunidades. Nessa região, o rio Solimões já recuou mais de 12 metros.

De acordo com o governador do Amazonas,Wilson Lima, o estado do Amazonas se prepara para enfrentar a maior estiagem registrada, que afetará a distribuição de água e alimentos para cerca de 500 mil pessoas no estado até o final de outubro. Além disso, cerca de 20 mil crianças poderão ficar impossibilitadas de chegar às escolas, já que boa parte da população depende dos rios para se locomover.

No Acre a falta de chuvas também tem preocupado algumas cidades, como a própria capital Rio Branco, onde o Rio Acre chegou a marca de 1,64 metro no dia 11 de setembro. Por este motivo, a Defesa Civil Municipal implementou a “Operação Estiagem” para garantir o abastecimento de água nas comunidades rurais da capital, afetadas pelo baixo nível dos rios.

Em Porto Velho, Rondônia, o nível do Rio Madeira se encontra em estado crítico. Na última quarta-feira foi registrado o nível de 1,48 metro, 4 centímetros acima do menor nível registrado na história, que ocorreu no ano passado. Antes disso, a menor mediação havia sido registrada em 2005, quando o rio chegou a 1,63 metro.

Especialistas acreditam que esse período de seca será muito intenso e os níveis dos rios continuarão baixando até o final de outubro e início de novembro, quando as chuvas devem voltar com mais intensidade. Entretanto, mesmo com a chegada do período chuvoso, a recuperação dos rios deverá ser lenta, já que tanto o El Niño quanto o Atlântico Norte mais aquecido continuarão desfavorecendo as chuvas na região até o primeiro trimestre de 2024, o que pode agravar ainda mais a situação da região Norte.