Clima de abril: sem La Niña e com El Niño Costeiro seria um mês normal?

Abril marca o primeiro mês do outono astronômico. Será que sem o La Niña e com um El Niño costeiro teremos um mês próximo do esperado para o mês? Confira a análise e as primeiras impressões sobre o padrão climático de abril.

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Sem La Niña e com um El Niño costeiro ativo. O que esperar do clima de Abril? Como os principais fatores climáticos estão atuando?

Abril é o primeiro mês do outono astronômico e o que marca o início do período seco no Brasil. Não é um mês totalmente seco, as chuvas na porção norte do Brasil continuam e na Região Sul, apesar de se esperar uma redução da precipitação no Paraná e em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, as chuvas na média continuam frequentes.

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Normais climatológicas da precipitação (esq.) e das temperaturas mínimas (dir.) do período 1991-2010. Fonte: INMET

É um período, quando as primeiras massas de ar frio mais intensas passam a atuar no centro-sul do país e com possibilidade também das primeiras ondas de frio, como ocorreram nos últimos dois anos. No entanto, o clima estava sob influência do fenômeno La Niña que favorecia esse tipo de evento. Será que na sua ausência e com um El Niño costeiro já estabelecido os padrões climáticos estarão próximos da normalidade?

Os principais fatores determinantes para o clima de Abril

Já sabemos que o principal fator para determinação de uma padrão climático médio acima de um mês é a temperatura da superfície do mar, que para o momento é a porção do Pacífico Equatorial e o Atlântico Sul.

Quanto ao Pacífico Equatorial, a sua porção mais leste, próxima à costa do Equador e do Peru, se manterá mais aquecida, caracterizando o fenômeno de El Niño costeiro, que já vem proporcionando eventos extremos de precipitação e uma formação ciclônica nunca antes registrada na região. Essa condição não traz impactos ao Brasil, mas sinaliza o desenvolvimento do fenômeno El Niño nos próximos meses.

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Anomalia da temperaturas da superfície do mar para o mês de abril segundo o modelo CFSv2.

Já o Atlântico Sul ficará mais aquecido em praticamente toda a sua extensão. Para a Região Sul, principalmente para o Rio Grande do Sul, pode ser um fator favorável às chuvas. No Sudeste até o leste do Nordeste, também é um fator favorável às chuvas, mas para essa época do ano, nas áreas mais ao leste. E na porção norte do Brasil, essa condição mais aquecida favorece a atuação da Zona de Convergência Intertropical, a ZCIT, mais próxima do continente e, consequentemente, para chuvas mais frequentes no norte do Nordeste, do Pará e no Amapá.

oscilação antártica
Condição registrada (linha preta) e previsão (linha verde) da AAO ou SAM.

O outro fator é a Oscilação Antártica (AAO) ou Modo Anular Sul (SAM) que influencia na frequência de sistemas de chuva e massa de ar frio no centro-sul do Brasil. Quando negativo, favorece, e quando positivo, provoca a diminuição e restringe a amplitude de avanço dos sistemas. Para Abril, o índice fica negativo durante a primeira quinzena e neutro no restante do mês, o que não deve ser um fator de diminuição da precipitação ou de ausência do frio.

Madden-Julian
Comportamento registrado (linha preta) e previsão (linhas coloridas) da MJO. A previsão é de neutralidade da oscilação para abril.

O último fator, é a Oscilação de Madden-Julian (MJO) que não influencia mais o centro-norte do país com pulsos favoráveis e desfavoráveis à precipitação, mas que também exerce certa influência em parte do centro-sul. A previsão da MJO é praticamente de neutralidade, não trazendo impactos tão relevantes como foi observado no mês de março.

O que o modelo ECMWF está prevendo?

O modelo ECMWF, é o modelo de confiança da Meteored por trazer cenários consistentes às influências dos principais fatores climáticos.

As anomalias de precipitação para as próximas semanas, trazem uma condição mais úmida para o centro-leste do Brasil e ligeiramente mais seca para o Rio Grande do Sul. Esse possível cenário pode ocorrer em virtude da AAO não tão negativa e do Atlântico mais aquecido.

A AAO não tão negativa pode posicionar os sistemas mais no norte da Região Sul. Vale lembrar que a média de precipitação da Região Sul se mantém mais elevada e, entre o Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, o volume é mais baixo. Assim, qualquer evento de chuva pode proporcionar uma anomalia elevada na previsão do modelo.

modelo ecmwf precipitação
Anomalias de precipitação para as semanas de abril, segundo o modelo ECMWF. Semanas 1 e 2 acima, 2 e 3 abaixo.

Como conclusão da precipitação, para o centro-sul do Brasil, o mês de abril ainda será com frequência de chuvas, mas nada volumoso ou com potencial extremo. O que se espera de fato é uma condição mais irregular das chuvas no Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste. Já no norte do país, o efeito da ZCIT pode estar sendo subestimado.

Em relação às temperaturas, as anomalias semanais do ECMWF trazem um padrão coerente em virtude da atuação dos sistemas meteorológicos frente fria e massa de ar frio. As anomalias negativas no centro-sul do Brasil trazem a ideia de que teremos a atuação de massas de ar frio, nada extremo no momento, mas um padrão próximo da média do mês.

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Anomalias de temperatura para as semanas de abril, segundo o modelo ECMWF. Semanas 1 e 2 acima, 2 e 3 abaixo.

Já na porção norte, a nebulosidade e ocorrência de chuva proporcionam, para o modelo, um arrefecimento em virtude da diminuição da incidência solar e não pela incursão de ar frio.