El Niño costeiro: ciclone tropical Yaku atípico impacta a costa do Peru

Apesar do El Niño ainda estar distante da nossa realidade, sua versão menor já se mostra ativa na costa da América do Sul, o El Niño costeiro! Apesar de pouco conhecido, seus impactos são fortes na costa do Peru, inclusive gerando um incomum ciclone tropical!

El Niño Costeiro
O forte aquecimento da temperatura do mar no Pacífico Tropical Leste, próximo à costa oeste da América do Sul, acendeu o alerta para El Niño Costeiro. Imagem: Podaac/ NASA.

Após 3 anos seguidos, finalmente foi declarado o fim da La Niña - fase negativa do grande fenômeno de variabilidade climática El Niño-Oscilação Sul (ENOS) - e com isso já miramos para o horizonte de olho no possível retorno do El Niño - fase positiva do ENOS. Apesar do El Niño ainda estar distante, tem um outro El Niño acontecendo no Pacífico Tropical. Parece loucura, mas não é, estamos falando do El Niño costeiro!

O El Niño costeiro é um padrão similar ao El Niño clássico em forma reduzida, caracterizado por um aquecimento das águas superficiais do Pacífico Tropical Leste, porém, esse aquecimento fica bem restrito à costa do Peru e Equador, por isso o nome. Geralmente o fenômeno é registrado e medido a partir das anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) registradas na região do Niño 1+2, que é uma pequena região situada bem próxima a costa da América do Sul. Assim como seu “grande irmão” ENOS, o El Niño costeiro também possui sua fase oposta, a La Niña Costeira.

Com o enfraquecimento das condições oceânicas e atmosféricas da La Niña, passou a ser registrado um aumento das TSMs sobre o Pacífico Tropical, principalmente no setor leste, o que fez com que as anomalias de TSM passassem a ficar positivas na região do Niño 1+2, chegando a valores próximos a +1°C. Com isso, a ENFEN, comissão multissetorial encarregada do Estudo Nacional do Fenômeno El Niño no Peru, divulgou uma nota a imprensa alertando que estão em estado de "Vigilância de El Niño costeiro” o que significa que existe uma alta probabilidade desse aquecimento do Niño 1+2 continuar entre o final do verão e meio do outono.

A formação do El Niño costeiro pode estar indicando uma alteração das condições oceânicas e atmosféricas que poderão resultar na formação do El Niño no segundo semestre de 2023!

Por não ser um fenômeno de grande escala que gere impactos globais, como o ENOS, o El Niño costeiro não é muito conhecido, principalmente em países fora da América do Sul, já que seus efeitos se restringem a algumas partes do continente sul-americano. Apesar de ser de escala local, o El Niño costeiro tem um impacto muito grande na modulação do clima de países como o Equador e Peru.

Outro ponto importante é que muitas vezes a ocorrência do El Niño ou La Niña costeiro pode estar anunciando antecipadamente a chegada de um El Niño ou La Niña no Pacífico Tropical! Portanto, o El Niño costeiro que se forma na costa do Peru pode estar anunciando a chegada do El Niño, que está sendo previsto pelos modelos climáticos. Mas nem sempre isso acontece, portanto ainda devemos ter cautela!

Ciclone Yaku e os impactos do El Niño costeiro

Episódios de El Niño costeiro, principalmente de intensidades moderada a forte, costumam impulsionar a convecção e gerar chuvas volumosas sobre o Peru e Equador, principalmente na costa desses países. O evento mais recente ocorrido em 2017 deixou muitas marcas de destruição e tragédias nesses países, que sofreram com grandes inundações e deslizamentos de terra.

Nos últimos dias já estão sendo observadas chuvas mais volumosas em diversas regiões do Peru devido a configuração deste novo evento. Inclusive o Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru (Senamhi) anunciou que um incomum ciclone de características tropicais se formou no mar peruano, entre a costa norte e central do país, denominado de ciclone Yaku. De acordo com a Senamhi, Yaku se formou devido ao aquecimento das TSMs, associado ao El Niño costeiro, e a formação de uma segunda banda da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).

O ciclone Yaku está longe de ser um furacão, pois é um sistema desorganizado não muito intenso, e, apesar de se deslocar para oeste nos próximos dias, não deve atingir diretamente o continente. Entretanto, sua circulação vai gerar impactos no Peru, gerando ainda mais chuvas no país. O Senamhi alerta que até sábado chuvas moderadas e extremas poderão ocorrer no norte do país e nas regiões montanhosas, podendo gerar muitos transtornos.