Chance de chuva aumenta no RS na transição de mês. O que esperar de fato?

O Rio Grande do Sul vem enfrentando um período de muita irregularidade da precipitação desde o mês de novembro. Os modelos trazem uma expectativa de mudança de padrão, mas o que de fato esperar? Confira a análise completa aqui.

O Rio Grande do Sul vem enfrentando um longo período de irregularidade das chuvas desde o mês de novembro de 2022 e agora, além disso, de altas temperaturas. A falta de chuvas e as temperaturas elevadas têm prejudicado principalmente a agricultura do estado.

Esse padrão mais irregular está relacionado com a atuação do fenômeno La Niña, somados aos efeitos das oscilações de Madden-Julian (MJO) e Antártica (AAO), que favoreceram as chuvas mais no centro-norte do Brasil.

E o Atlântico Sul? As águas mais aquecidas na porção sul do Atlântico Sul, da Região Sul ao Sudeste, e o resfriamento na altura do Nordeste contribuíram para o aumento da precipitação no centro-sul do Brasil, com a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) atuando mais sobre o Sudeste e pancadas de chuvas intensas atingindo também os estados do Mato Grosso do Sul, do Paraná, de Santa Catarina e a metade norte do Rio Grande do Sul.

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Anomalia de temperatura da superfície do mar para todo o globo.

No entanto, sobre o território gaúcho, mesmo com o aumento potencial de chuvas, a precipitação de fato não passou de pancadas isoladas e de tempestades, não havendo persistência e abrangência em boa parte do estado.

Até o fim de janeiro, o modelo de confiança da Meteored, o ECMWF, aponta para um aumento da precipitação a partir dos últimos dias de janeiro e sendo mais abrangente no início de fevereiro. O que estaria motivando essa mudança?

Oscilação Antártica (AAO) e de Madden-Julian (MJO)

Já sabemos que as águas do Atlântico Sul se encontram e vão se manter mais aquecidas na sua porção sul, favorecendo a maior permanência dos sistemas de precipitação no centro-sul do Brasil.

No entanto, o comportamento das oscilações AAO e MJO podem potencializar ou enfraquecer os eventos de chuva sobre o território gaúcho.

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Comportamento registrado (linha presta cheia) e previsão (linhas vermelhas) da Oscilação Antártica.

A AAO ainda irá se manter positiva, com uma tendência negativa no início de fevereiro. Assim, da sua parte, os sistemas de chuva podem passar pela Região Sul, mas ainda ficam passam mais tempo no Sudeste.

Já a MJO passa a atuar na fase 3, tratando-se de uma fase em que a atividade convectiva é favorecida nas Regiões Sul e na porção sul das regiões Sudeste e Centro-Oeste. Isso ocorre em resposta às condições desfavoráveis de chuva para o centro-norte do país.

MJO ECMWF clima Brasil
Previsão da Oscilação de Madden-Julian, segundo o modelo ECMWF.

Em resumo, a AAO será mais favorável às chuvas no Sul, mais para o início de fevereiro, mas a MJO pode ajudar nos eventos de chuvas que podem ocorrer antes. O ideal para o aumento das chuvas no Rio Grande do Sul, seria a AAO ficar negativa.

O que o modelo ECMWF está prevendo?

As anomalias de precipitação dos modelos de maneira geral nos dá uma ideia de como será a distribuição e o potencial de volume da precipitação e, por tabela, podemos concluir a qualidade dessa chuva, mas sempre analisando os fatores climáticos.

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Anomalia de precipitação para o período de 23 a 30 de janeiro, segundo o modelos ECMWF.

Para os últimos dias de janeiro, as anomalias mostram precipitação acima da média para o período no centro-sul e no oeste do Rio Grande do Sul. No entanto, pela AAO, não se pode esperar chuvas abrangentes e persistentes, mas sim precipitação na forma de pancadas e tempestades, ou seja, mesmo com o aumento do potencial das chuvas, ainda não serão suficientes para atingir todo o estado de forma abrangentes, persistente e volumosa.

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Anomalia de precipitação para o período de 30 de janeiro a 06 de fevereiro, segundo o modelo ECMWF.

Já para o início de fevereiro, as anomalias positivas de precipitação trazem uma condição mais homogênea para todo o estado e até mesmo a Região Sul. Em vista do comportamento da AAO e da MJO, de fato pode ser uma período com chuvas mais persistentes. Contudo, há um porém! Em virtude de a AAO ainda não se mostrar negativa, somente próxima da neutralidade, os sistemas de precipitação ainda podem se deslocar mais para norte do Rio Grande do Sul. Assim, mesmo com o aumento da chance de precipitação, não se pode esperar chuvas persistentes.