USP e Cargill lançam projeto de 3 anos com plantas de cobertura para solo saudável, carbono e produtividade

Uma parceria entre USP e Cargill inicia testes de plantas de cobertura por três anos para fortalecer solo, capturar carbono e dar mais estabilidade à produção. Experimentos em campo e fazendas conectam ciência, rentabilidade e resiliência climática no Brasil.

Agro, agricultura
A Cargill é uma das maiores empresas do agronegócio mundial, atuando no Brasil em cadeias de grãos, alimentos e projetos de sustentabilidade agrícola.

Uma nova colaboração entre a Universidade de São Paulo e a Cargill promete impulsionar a agricultura regenerativa no Brasil. O projeto CCrops, com duração prevista de três anos, vai testar plantas de cobertura em diferentes condições de campo e experimento para avaliar ganhos de saúde do solo, sequestro de carbono e resiliência climática.

A parceria foi anunciada nesta semana por veículos do setor e pelo ecossistema do CCarbon/USP, centro que estuda carbono em sistemas agrícolas.

O tema ganha relevância porque traduz em práticas mensuráveis um objetivo comum: produzir mais e melhor, degradando menos. No Brasil, programas recentes apoiados pela Cargill, como o Regenera Cerrado, que acompanha fazendas de soja e milho no sudoeste de Goiás, já monitoram resultados em escala real, integrando manejo do solo, biodiversidade e eficiência econômica. Essa base prática ajuda a conectar a agenda científica a decisões do produtor.

O que muda com a regenerativa

A agricultura regenerativa organiza um conjunto de práticas para restaurar funções do solo, reduzir perdas e aumentar a estabilidade da produção. Entre os pilares estão a rotação de culturas, a cobertura permanente do solo e a redução do revolvimento, o que melhora infiltração de água, reciclagem de nutrientes e proteção contra erosão. Em linguagem simples: menos estresse para as plantas, mais chance de colher bem em anos secos ou chuvosos demais.

Regenerativa, agricultura
Prática de agricultura regenerativa com cobertura vegetal (mulching) ajuda a conservar umidade, reduzir erosão e fortalecer a vida no solo.

Há também impactos climáticos. Solos com matéria orgânica em alta armazenam mais carbono e podem diminuir emissões por unidade produzida. Grandes compradores têm incluído metas de conservação e restauração em cadeias de soja e milho; no Brasil, iniciativas corporativas vêm combinando apoio técnico, regularização ambiental e metas de zero desmatamento e conversão.

Como funcionam as plantas de cobertura (no campo e na planilha)

O coração do CCrops é entender quais coberturas funcionam melhor, onde e quando. Esses cultivos “fora de colheita” protegem o solo entre safras, reciclam nutrientes e podem suprimir plantas daninhas, reduzindo custos futuros. Experimentos controlados e áreas de produtores permitem medir desde agregação do solo até retorno financeiro, encurtando o caminho entre a ciência e a tomada de decisão.

Benefícios-chave observados na literatura e em projetos no Brasil:

  • Melhora de estrutura e porosidade do solo;
  • Redução de erosão;
  • Incremento de matéria orgânica e maior resiliência hídrica; em alguns casos;
  • Ganhos de produtividade e estabilidade ao longo de safras com clima irregular.

Desafios de adoção e caminhos de escala

O Brasil tem vantagens e desafios. De um lado, há tradição em plantio direto e rotação, especialmente no Sul e Cerrado, e uma rede robusta de pesquisa (Embrapa, universidades e institutos) que há décadas testa sistemas conservacionistas e indicadores de qualidade do solo.

De outro, persistem gargalos: janela curta para estabelecimento da cobertura, manejo de palhada em anos muito chuvosos e custo/benefício percebido na fazenda

Programas recentes ajudam a fechar essa conta. O Regenera Cerrado monitora 12 fazendas e milhares de hectares em Rio Verde (GO), integrando validação científica e apoio ao produtor; reportagens do setor indicam ganhos agronômicos e econômicos quando o pacote é bem implementado.

A nova parceria USP–Cargill amplia essa base, permitindo comparar coberturas por região, maturar métricas de carbono e, no médio prazo, precificar serviços ambientais de forma mais confiável, passo essencial para destravar seguros, crédito e possíveis mercados de carbono agrícolas.