RNAi no campo: a próxima virada no controle de pragas com menos veneno e mais precisão
A tecnologia de RNA de interferência ganha holofotes no Rio+Agro 2025. Empresas e Embrapa mostram soluções que silenciam genes de pragas, prometendo controle seletivo, menor impacto ambiental e novas rotas para produtividade sustentável nas lavouras brasileiras.

Se você já ouviu falar em plantas “conversando” com pragas no nível do gene, a tecnologia de interferência por RNA (RNAi) é exatamente isso: uma forma de silenciar instruções vitais do inseto, levando-o a parar de se alimentar ou até morrer, sem atingir espécies benéficas.
O interesse não é à toa. O mercado de bioinsumos cresce acelerado no Brasil e a fronteira dos biopesticidas inclui formulações com RNA de interferência, seja por cultivos geneticamente modificados, seja por aplicações tópicas (sprays de dsRNA) encapsuladas para proteger o material genético até o alvo. A Embrapa, por exemplo, já conduz projetos em “nano-RNAi” para viabilizar esse uso no campo.
Como funciona e por que empolga
O RNAi atua como um botão de “mudo” no manual de instruções do inseto. Ao entregar um fragmento de RNA dupla fita (dsRNA) que corresponde a um gene essencial, a praga reconhece esse material e aciona uma maquinaria celular que degrada a mensagem, é biologia de precisão. Na prática, o inseto perde a capacidade de metabolizar, crescer ou se defender, e a população cai.

É diferente dos químicos tradicionais e até das proteínas Bt: o alvo é uma sequência gênica específica, o que permite mirar uma praga sem interferir (ou interferindo muito menos) em inimigos naturais. Nos Estados Unidos, por exemplo, o gene DvSnf7 marcou a chegada do RNAi contra a larva-alvo do milho; os resultados ensinaram que combinar táticas continua essencial para evitar resistência.
O que há de novo no Rio+Agro, e o que falta para chegar ao produtor
No evento, painéis e estandes destacaram o avanço do RNAi tópico, embalado por nanoestruturas que protegem o dsRNA da luz, da chuva e de enzimas, ampliando a eficácia a campo. A mensagem é clara: a tecnologia saiu do laboratório e disputa espaço com biológicos e químicos em programas de manejo integrado.

Mas há degraus a subir. Regulatório e escalabilidade continuam sendo palavras-chave. No Brasil, bioprodutos passam por avaliação tripla (Anvisa, Ibama e Mapa); a Anvisa, por exemplo, atualizou neste ano orientações processuais para registros de produtos biológicos, movimento que afeta todo o pipeline de inovação.
- Quem avalia: Anvisa (segurança/saúde), Ibama (meio ambiente) e Mapa (eficácia/uso).
- Onde estamos: notas técnicas recentes da Anvisa orientam registros de biológicos.
- Ponto crítico: garantir entrega do dsRNA no alvo com consistência safra após safra.
Aplicação no Brasil: do milho à fruticultura, entre desafios e chances reais
A pergunta central é onde isso ajuda já?. Em culturas como milho (cigarrinhas e brocas), algodão (lagartas) e fruticultura (moscas-das-frutas), o RNAi pode entrar como peça adicional do MIP: mirar genes de detoxificação ou desenvolvimento e reduzir pressão sobre químicos, preservando parasitoides e predadores.
Os próximos passos combinam testes regionais, rotulagem clara de uso, monitoramento de resistência e educação técnica. Com a vitrine do Rio+Agro e o pipeline público-privado (incluindo projetos da Embrapa em nano-RNAi), o país tem condições de acelerar soluções “feitas para o trópico”.
Se a regulação mantiver previsibilidade e a indústria entregar custo competitivo, o produtor pode ganhar uma nova ferramenta, precisa, seletiva e alinhada ao espírito do tempo: produzir mais com menor pegada.
Referência da notícia
The current increase and future perspectives of the microbial pesticides market in agriculture: the Brazilian example. 11 de agosto, 2025. de Lima, M. et al.