Chuvas insuficientes: replantio encarece a soja em MT e pressiona a safrinha
Produtores de Mato Grosso plantaram soja mirando chuva que não veio. Falhas de estande e replantios encarecem a lavoura, atrasam o ciclo e comprimem a janela do milho safrinha. Veja sinais, riscos e o que observar agora.

Em Mato Grosso, a safra costuma começar com um gesto simples: olhar a previsão e decidir se a plantadeira entra. Só que, neste início de 2025/26, muitos produtores têm descrito o plantio como estressante, porque a chuva esperada não se confirmou na janela crítica, e a irregularidade da umidade no pós-plantio virou o retrato do que aconteceu em várias áreas.

O impacto não fica no talhão. Falhas de germinação e replantio elevam custo por hectare, atrasam o ciclo da soja e apertam a janela do milho 2ª safra (safrinha), que depende da colheita da soja para entrar na mesma área. Há registros na imprensa de atrasos de até 60 dias em municípios do estado, ampliando o risco de um efeito dominó no calendário.
Chuva irregular: quando “volume” não significa segurança
O problema, muitas vezes, não é a ausência total de chuva, e sim a distribuição. Uma pancada forte pode molhar a superfície e, ainda assim, não sustentar emergência uniforme se vier seguida de dias quentes e secos. No boletim de 15 a 22 de dezembro, o INMET indicou volumes menores, porém distribuídos no Centro-Oeste (30–60 mm): ajuda, mas não elimina o risco de veranicos.

Essa oscilação cria o dilema: esperar (e perder tempo) ou plantar na umidade disponível (e correr risco). Em visitas de campo, a Aprosoja MT vem registrando germinação irregular, crescimento lento e falhas de estande, com produtores relatando replantio e prejuízos associados à falta de chuva regular e às altas temperaturas.
Da promessa de chuva ao replantio: a linha do tempo do estresse
O roteiro se repete. A previsão aponta uma “janela” de chuva, a semeadura entra para aproveitar a umidade e, se a chuva não se confirma, parte das sementes não completa a germinação. A lavoura nasce em manchas e a decisão vira matemática: replantar tudo, replantar só pontos críticos ou segurar e tentar recuperar, sempre com custo e atraso.

Mesmo com o plantio oficialmente encerrado, “plantio feito” não é sinônimo de “lavoura formada”. O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) informou o fechamento da semeadura em Mato Grosso no início de dezembro (13,01 milhões de hectares) e divulgou projeção mais conservadora de produção (47,18 milhões de toneladas) e produtividade média (60,45 sc/ha) diante do clima adverso.
O que vigiar agora no Centro-Oeste
Quando a soja escorrega no calendário, a safrinha sente. O milho 2ª safra é sensível à data de entrada: plantar fora da janela mais segura aumenta a exposição a estresses climáticos no fim do ciclo, e o setor já vem alertando para o vínculo entre atraso na soja e risco maior para o milho. Nos próximos 10 dias, vale observar:
- Umidade do solo e chuva efetiva (se está infiltrando, não apenas “molhando por cima”).
- Emergência e estande: manchas e falhas em linha que indiquem replantio pontual.
- Pragas oportunistas em áreas fracas, que tendem a se concentrar onde a soja sofre.
- Calendário da colheita e plano da safrinha: se a soja atrasou, o milho precisa entrar com estratégia (ciclo e investimento compatíveis com o risco).
O desafio é aprender com o “plantio no limite”: reforçar manejo de solo para reter água, cruzar previsão de curto prazo com observação local e ajustar o calendário sem improviso. A oportunidade é reduzir retrabalho e custo por hectare, porque quando a chuva falha, organização vira produtividade.
Referência da notícia
INMET divulga previsão para semana de 15 a 22 de dezembro. 12 de dezembro, 2025. INMET.